65 || Palavrinhas mágicas | Sete letras

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A Noite/2

"Arranque-me, senhora, as roupas e as dúvidas. Dispa-me, dispa-me."

— Eduardo Galeano, em "O livro dos abraços"

Encontrou-a ajoelhada rezando aos pés de um freixo gigantesco

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Encontrou-a ajoelhada rezando aos pés de um freixo gigantesco.

— Saudando o sol? — Evan agachou-se ao lado dela.

Tiffy abriu um olho, porém, logo o fechou, concentrando-se nas orações. Terminando suas preces, dirigiu-se a ele:

— É indelicado interromper as orações de alguém.

— É indelicado abandonar um enfermo à própria sorte — dramatizou.

— Saindo daqui, eu iria te visitar — justificou-se, mesmo sabendo que o drama do terráqueo nem sequer tinha embasamento.

— Estou com moral — comemorou Evan, levantando-se, dando alguns passos à frente e esperando-a.

Tiffy o alcançou. Todavia, antes de partir, abriu a pochete, tirou de dentro dela um de seus frascos coloridos e lançou o conteúdo dele ao ar. O vento levou o pó de fada até as raízes da árvore. Um tapete de urzes se formou, um pequeno santuário.

O olhar deslumbrado de Evan acompanhara cada passo do processo. As maravilhas do pó de fada não cessavam de impressioná-lo. A expressão dele a entretinha.

— Quer tentar? — perguntou-lhe. Logo apanhou outro frasco e ofereceu-o.

Duvidando da capacidade de repetir as proezas dela, aceitou a oferta e imitou a cena que presenciara no hospital: depositando o pó na palma da mão, soprou-o. Os grânulos cor-de-rosa dançaram no ar e pousaram no castigado solo diante deles. Um arbusto de azaleias brotou em meio às outras flores.

— Muito bem, terráqueo — parabenizou-o. — Quem sabe daqui a uns dias você tá tomando meu lugar, hein?

— Castidade me quebra, sacerdotisa — alfinetou-a. — Vamos?

Evan estava particularmente radiante naquele fim de manhã/início de tarde. Nem parecia ter morrido semanas atrás, nem parecia que estavam caminhando para o abatedouro na noite por vir.

— Pra onde? — Tiffy quis saber o porquê de tanta empolgação.

— Surpresa — respondeu-a, esquivo. — Sem trapacear, ok?

— Ok, local supersecreto. Entendido.

Caminharam até o centro do pátio da residência provisória, onde um alçapão dava acesso ao subsolo.

— Tá tentando me vender drogas? — Tiffy perturbou-se com a escuridão adiante ao vê-lo abrir a portinhola.

— É mais fácil o contrário acontecer, senhorita "Química do Mal" — retrucou ele.

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