66 || Palavrinhas mágicas | Três palavras

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⚠️ Conteúdo sensível: violência física/psicológica; diga em voz alta⚠️


"O mundo está ruindo e escolhemos essa hora para nos apaixonar."

— "Casablanca" (1942). Dir. Michael Curtiz.

O  zunir de um projétil a ensurdecera

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O zunir de um projétil a ensurdecera. Caindo a poucos metros de distância, repelira-a com seu impacto. Elena fora parar longe. Batera a cabeça com força em uma pedra angulosa. Sangue escorria de sua orelha e têmpora. Levantara-se com dificuldade. A mão trêmula logo buscou a fonte de sangramento, o sangue molhou seus dedos. Seu andar vacilante a conduziu ao vendaval.

Uma nuvem de poeira erguia-se com o furor dos ventos. Solis dançava, suas sandálias reviravam o solo recoberto do pó da destruição. O deus do sol se esbaldava nas disputas e, naquela em especial, encontrara terreno fértil para cultivar a abrasadora chama da guerra.

Avançando em direção ao olho do furacão, encarando o pungente odor de carne queimada, atravessou a ventania sem se deixar abater. Deixou-o para trás, como se pesasse uma tonelada ou fosse mais forte que o mundo.

Antes não o tivesse feito. O que encontrara do outro lado do desastre inatural fora nauseante. Obras cruéis de ódio ancestral. Ruínas da glória do passado.

O antigo palácio, lar da Dinastia Haidetasuna desde os primórdios do Império, ruíra em questão de segundos após o impacto da bomba eroriana. Dele, restavam pedras sobre pedras. Sob as pedras, os desavisados, funcionários do castelo, guardas, aqueles que não correram rápido o suficiente e terminaram jazendo sem paz.

"Salve-se quem puder", gritavam uns. "Avante, lutem!" Outros assim motivavam.

À parte do caos, entrevia seus velhos conhecidos: Urso e Coruja. De longe, o combate parecia acirrado. Parecia. Elena conhecia a verdadeira natureza daqueles dois. Ou melhor, conhecera Zakarra sob a ótica de Argi.

O príncipe herdeiro não o machucaria, todavia, dera um espetáculo. A luta teatral era tão intensa quanto os combates travados ao seu redor. Ainda por cima, era incentivada por uma presença oculta de voz mansa e imperativa.

"Isso, mate o sacerdote", sussurrava Umbra, motivando-o. "Extermine a última esperança de se reerguerem. Acabe com a fé destes miseráveis e eles não terão nada a que se agarrar depois dos infortúnios."

O incentivo rendeu um resultado oposto ao que ela pretendia. Após se preparar para desferir o golpe final, resistiu à tentação de Umbra e ficou vulnerável ao contra-ataque de Argi. A motivação de Zakarra era outra. Por isso mesmo, descuidara-se de propósito, abrindo espaço para ser derrotado. Contente, acolhia a espada a poucos milímetros de seu pescoço. Era a primeira vez em que o Mestre de Lux subjugara Zakarra. A primeira vez na qual qualquer pessoa se aproximara de derrotá-lo também.

— Mate-me — ordenou. Remorso e angústia compunham sua voz. — Mate-me agora, por favor. Logo será tarde demais — insistiu Zakarra. — Um golpe limpo, como te ensinei, mais nada.

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