8 || Acorda, menina!

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⚠️ Conteúdo sensível: violência e traumas físicos/psicológicos⚠️

Mãos pálidas reviravam a áspera imensidão vermelha do solo em uma tentativa desesperada de agarrar-se à vida. Seu rosto era arranhado pelos pequenos grãos de areia. E ela afundava progressivamente, como se a areia fosse movediça.

Criança tola. Inocente demais. Ousou questionar os métodos. Quis escolher seu próprio destino. No entanto, liberdade era uma coisa perigosa de se desejar quando se nasce em Rawin. Um lugar abençoado por Solis — deus da aurora e patrono da guerra — jamais admitiria tal desvio de conduta.

A dor cegou-a. Não as via, mas sabia que as amarras estavam lá. O contraste térmico entre seu corpo e as algemas e os puxões nos punhos, caso se contorcesse, eram prova suficiente de que não tinha para onde correr. Zoya estava condenada. Sempre fora condenada.

Os golpes eram precisos, rompiam a barreira dosom. Tudo que se ouvia naquele silêncio sepulcral eram os estalos que diziam:"Você nunca teve escolha. Sua vida é nossa."

Levantou-se abruptamente, arfando e olhando para os lados

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Levantou-se abruptamente, arfando e olhando para os lados. Era somente um pesadelo. Entretanto, a simples constatação não a reconfortava, muito menos anulava o que ocorrera.

Os pesadelos eram recorrentes, sufocantes e reais. Eram fragmentos de memórias incansáveis, que não cessavam de atormentá-la.

Afastou os lençóis e, antes de se levantar, passou as mãos pelas costas. Precisava se certificar de que sua mente não estava pregando peças, pensava.

Esfregou o pescoço tentando, inutilmente, aliviar a tensão. Desistindo do ato, desviou o olhar do chão para a cama do lado oposto do quarto e foi surpreendida pelo sono profundo, terrivelmente pacífico, de Elena.

Compartilhara dormitórios com uma significativa quantidade de pessoas, devido à dinâmica de rotatividade nos internatos de Rawin — instituída para reforçar a política de não-comunicação. Nunca vira sequer uma cena minimamente semelhante à que assistia.

Acostumada a acordar no meio da noite com os gritos de algum colega — que logo eram calados pelos disciplinadores — ou nem dormir — permanecendo imóvel, deitada sobre a cama, até o dia amanhecer —, Zoya pensava que jamais teria ao menos um vislumbre de alguém realmente descansando.

Quis sorrir, mesmo na falta de motivo aparente; mesmo sem saber sorrir. Balançou a cabeça tentando afastar essas banalidades. Ela tinha um dia longo pela frente. Responsabilidades. Não poderia perder tempo com bobagens.

Desabilitou o filtro de luminosidade responsável por escurecer as janelas translúcidas e dirigiu-se à varanda. O sol despontava no horizonte, mas levaria cerca de uma hora e meia para o completo amanhecer. Apesar disso, estava claro o suficiente para vê-lo parado, pensativo, à varanda do outro quarto.

Luuk contemplava o horizonte como quem busca respostas. Quando notou a presença dela, acenou alegremente. Ao contrário dela, ele estava despreocupado, mesmo com a torrente de seus pensamentos tentando levá-lo às águas profundas.

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