22 - O Pântano (Parte 3)

223 33 499
                                    

Jackpot! Elena achou adequado comparar o que encontraram depois da casa de força a um prêmio acumulado. Luuk havia indicado a direção e o lugar exato de um carregamento mais nocivo do que as armas manipuladas por Loraatra e Kigtag.

Cinco pilhas de caixas erguiam-se diante deles, cheias de explosivos, bazucas e mísseis de curto alcance. A caixa repleta de granadas de mão estava mais próxima deles. Tal proximidade desagradava Elena. Ela manteve-se afastada, no entanto, seus companheiros não se acanharam.

Kai pegou uma das granadas nas mãos. Não havia pino de segurança, apenas um detonador traiçoeiro que ele acionou. Fitou Hujo com seus olhos escuros sagazes reluzindo por trás das lentes dos óculos e lançou-o a granada.

— Você tá maluco? — perguntou Elena, exasperada, afastando-se ainda mais.

Entendendo o recado dado através do olhar que ele há muito conhecia, o kreler entrou na brincadeira. Aparou-a na palma da mão e fingiu desequilibrar-se.

— Hujo! Joga isso longe, pelo amor do pai eterno! — exaltou-se, já suando frio. — Eu não quero morrer hoje — complementou Elena.

Como se estivesse brincando de não deixar a peteca cair, Hujo fez a granada subir e descer na palma de sua mão. Por fim, julgando ter tirado Elena do sério por tempo suficiente, deu por encerrado o expediente de pregar peças. Lançou a granada de volta para Kai que a explicou:

— São falsas — ele puxou a faca de sua mochila e cravou-a no explosivo para mostrá-la a baixa resistência do polímero daquela réplica. — Você deveria ter visto a sua cara! — Kai não conteve o riso.

Elena chega perto dos dois pisando forte, cuspindo fogo pelas ventas. Mesmo sabendo que não os machucaria de verdade e sequer os incomodaria, estapeou o braço de ambos, repreendendo-os. Eles entreolhavam-se, rindo como crianças depois de lambuzar com pasta de dente o rosto de um colega adormecido.

— Quantos anos vocês têm? Puta merda! — bufou. Os olhos semicerrados, com a pele enrugada ao redor, transbordavam raiva. Seu olhar saltava de um para o outro, condenando-os.

Antes de ela continuar a cobri-los de xingamentos e tapas, as pulseiras vibraram simultaneamente. A tarefa deles fora considerada encerrada. Missão cumprida, junto a um quase-infarto, Elena comemorou com desânimo. Como recompensa pelo feito deles, foi-lhes enviada a localização do "tesouro" na forma de uma estrela amarela no mapa.

— Salvos pelo gongo — Elena resmungou entredentes.

Quando ela deu meia-volta para seguir em direção ao novo destino deles, Hujo e Kai deram uma leve batida de antebraços — um cumprimento comum em Krele.

— Eu gosto dela — comentou Hujo quando começaram a andar.

— De quem você não gosta? — Kai rebateu, olhando-o de esguelha. Equivocara-se em seu entendimento.

— Não desse jeito, ô pintor de rodapé! — defendeu-se.

— Essa é nova. Quase não estou te reconhecendo. Eu não comprava essa de você ser religioso — Kai puxou o pingente de ferro do colar de contas no pescoço de Hujo, soltando-o em seguida —, mas agora estou tentado a acreditar. Andou rezando pra mudar de vida?

Hujo fez um gesto obsceno e bufou.

— Nem todas as religiões pregam a mesma coisa — reforçou a informação que era de conhecimento geral. — Eu deixo os dogmas de castidade pras fadas. E digo mais: minhas orações são só da minha conta.

— Não tá mais aqui quem falou — isentou-se Kai, surpreendido pela seriedade de Hujo.

Percorreram o restante do trajeto mantendo um silêncio amigável, beneficiando o juízo de Elena. A alegria, porém, durou pouco. As coordenadas dadas pelo GPS os levaram até uma área demasiado abrangente: um rio com cerca de seis metros de largura de uma margem à outra e dez metros de profundidade.

Planeta LuzOnde histórias criam vida. Descubra agora