43 - Soldado ferido

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⚠️ Conteúdo sensível: abuso de álcool, linguagem de baixo calão, fazem 84 anos⚠️

"Eu dizia:
'Nenhuma brisa é triste'
e procurava água, lábios,
um corpo
onde a solidão fosse impossível."

Eugénio de Andrade, no livro "Antologia Breve"

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Quem era Evan sem Elena?

O questionamento não saía de sua mente desde o choque de realidade que os punhos de Luuk o deram.

Quem era ele quando não estava a seguindo e implorando por atenção como um filhote abandonado?

Responder tais coisas tornava-se impossível ao perceber o quanto sua vida girara em torno dela.

Apoiara-se nela na existência dela para fugir de sua miséria por tanto tempo que desconhecia maneiras enfrentar seus tormentos sozinho. Recorrera às memórias que guardava, às mulheres que pareciam dublês dela, à bebida, a qualquer coisa capaz de lhe dar a ilusão de tê-la — mesmo que por pouquíssimos minutos. Todavia, Elena não era uma coisa para que ele pudesse a possuir.

Este entendimento viera tarde demais.

No terraço da casa Betirako, admirava as estrelas. Inclinava a cabeça, mirando o céu sem pretensão de ter uma revelação do Céu. A despeito disso, recebeu-a inadvertidamente através da visita de um anjo.

Um anjo da Victoria's Secret, do tipo que não se acha em nenhuma Fashion Week.

Ela pairava pouco acima dele. O vestido branco esvoaçante apenas colaborava para aproximá-la de uma aparição divina. As ondas do cabelo alaranjado destacavam-se em sua assimetria, parte delas movia-se no ritmo do vento à altura da orelha e a outra caía sobre o seio direito.

A cintura minúscula, inverossímil, dava à fada um ar de fragilidade. Perguntou a si mesmo qual era a probabilidade de ela realmente respirar. Anjos não precisam respirar.

— Procurando uma leitura astrológica? — indagou Tiffy, pousando ao lado dele. — Estou meio enferrujada, mas ainda consigo pescar uma informação ou outra.

— Os astros têm experiência em desastres na vida afetiva?

Tiffy apoiou a mão no queixo enquanto estudava as constelações.

— Ciedlo se alinhou à Rawin ontem e já entramos no quarto decanato de Ignis, o que significa um momento propício pra tomar iniciativa na vida amorosa — revelou ela, num tom acadêmico. — Então, não, eles não têm — concluiu, descontraída. — Só sabem prometer um novo amor pro próximo ano, lamento informar... Mas eu tenho — acrescentou ela.

— Você? — franziu os lábios, duvidando da veracidade da informação. — Quem foi o idiota que te deixou escapar?

— Meu ex-noivo. — Revelou, lisonjeada pela sugestão de que perdê-la seria estupidez.

— Azar o dele. — Evan deu de ombros.

— Azar meu. Iludida e traída.

— Ei, deixe disso! Alguns caras não sabem dar valor pro que têm — disse o sujo a respeito do mal lavado. — Não foi sua culpa.

— Uma parte dela é. Libs me alertou sobre ele...

— Por favor! Ninguém ouve conselho de irmão mais novo. Acredite em mim, falo por experiência própria. Eu sou o caçula de cinco, nem uma alma na minha casa ouvia o que eu tinha a dizer.

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