75 || Skynet, Genisys, Legion, HUI

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Kai os seguia, embasbacado, no automático, aos modos do primeiro robô que construiu ainda na adolescência. Enquanto seus tios e os demais traidores gabavam-se, pensava em alternativas para evitar o pior.

Rebelar-se, aberta e pronunciadamente, custaria caro. Seria meio difícil encontrar alternativas para sair de uma furada se estivesse morto. Então recolheu-se aos próprios pensamentos. Assim, calado, retraído como sempre, não levantaria suspeitas. Tinha de ser tão sorrateiro quanto o Conselho para manter a cabeça de seus amigos longe da guilhotina e, ao mesmo tempo, conservar-se ileso. Precisava de algo extraordinário, mais milagroso do que factual.

A janela de tempo hábil muito o desagradava. Os miseráveis — que sequer podia chamar de família quando nada tinham em comum —, abreviaram partes das formalidades do processo de coroação. Não esperarão nem o corpo esfriar.

Masahiko Hayato não brincava em serviço. Preparara a papelada há muito, embasado na legislação. A lei determinava que "Em caso de ausência de herdeiros da Família Real, o sucessor será determinado pelo líder do Conselho Real". Num segundo se tornariam o que sempre foram em oculto: governantes de Eutsi. Daí para frente, projetava apenas um futuro tenebroso, no qual Erdi se tornaria uma Nova Hen com o agravante de ser regida por um bando de supremacistas.

Oh, Lux, o que faço agora? Buscou inspiração divina. Traduzindo sua preocupação em um movimento reflexo, costumeiro, empurrou os óculos e teve uma epifania.

Como pude esquecer? Reprovou-se. Kai não precisava de distrações espalhafatosas para fugir e envolver-se de corpo presente para auxiliar os seus. Tinha a resposta à distância das mãos, dos dedos que tocavam seu protótipo, o projeto ambicioso de sua vida.

No instante em que se viu a sós em um quarto de hóspede, onde fora deixado para trocar o uniforme do exército e vestir-se com um traje de festa tradicional de Hen, Kai aguardou o barulho dos passos no corredor desaparecerem por completo, tratou de acionar HUI e fez uma prece.

— Tomara que isso dê certo — murmurou, cerrando as mãos de tensão enquanto dava comandos verbais à inteligência artificial.

— Tomara que isso dê certo — murmurou, cerrando as mãos de tensão enquanto dava comandos verbais à inteligência artificial

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Os minutos em cárcere duravam horas, dias, semanas, anos.

A distorção temporal da inércia deixavam-nos ainda mais lentificado. A falta de interação verbal se dava por um cansaço generalizado e seguia seu curso. Nem os mais tagarelas voltaram a se pronunciar.

Em meio a tamanha morosidade, ao lado de Tiffy — que reconfortava a irmã e segurava as mãos dela como podia —, Evan fitava as paredes arcaicas, de pedras desconjuntadas, precárias feito uma prisão clandestina. Devo ter um imã pra atrair tanto lugar assim, pensou, cogitando uma razão para sua má sorte. De quebra, ainda é tão vigiado quanto o resto do reino.

A luzes discretas piscavam ao centro do teto da cela, indicando que o aparelho estava em pleno funcionamento. O globo composto por microcâmeras, anexo ao teto, passaria por uma lâmpada qualquer diante de olhares desatentos. Esse não era o caso de Evan.

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