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⚠️ Conteúdo sensível: eita, bicho, conjunção carnal kkk (–18)⚠️

"O chão é cama para o amor urgente,
amor que não espera ir para a cama."

Carlos Drummond de Andrade, em "O Amor Natural"

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Não havia fada madrinha, mas existia um Luuk e ele estava a postos para fazer mágica. Assim que Elena se esquivou do rei, ao perceber quão tarde era, o rawine ficou alerta. Notou quando ela saiu de fininho por uma porta lateral recém-aberta — uma entrada secundária que dava acesso ao lado reservado do palácio — cuja abertura indicava o fim da festividade.

Elena andava a esmo. Havia trotado pelo pátio interno como se estivesse sendo perseguida por alguém ou algo. De certa forma, estava. Não teria se afobado ao descer as escadarias de salto alto — quase rolando pelos degraus e se estatelando mais adiante —, se algo não estivesse atrás dela.

Era oficialmente a soldado Elena Fernandes do Exército de Eutsi. Na manhã seguinte receberia sua primeira missão oficial, lidaria com seu ônus, arcaria com todas as consequências. Ainda que a responsabilidade fosse partilhada com a equipe, havia muito em jogo. Isso triturava seu juízo. Consumia as migalhas de alegria que ajuntara naquele breve delírio coletivo em forma de baile.

Sem guia, que não o coração, aventurou-se noutra estrada de ladrilhos chamativos, desbravando o desconhecido noite adentro. Sua decisão fora péssima, entretanto, ignorou outra vez os sinais de alerta. Na ocasião, não se importara com os possíveis desfechos dos seus passeios, apesar de recordar-se das ondas de má sorte que a atingiam sempre que deixava sua curiosidade assumir o controle.

Apenas seguia. Por sorte, os trechos eram iluminados e não se via sequer as sombras de seres viventes. Seria um passeio calmo, previu diante dessas evidências. Com o decorrer do tempo, tal certeza foi se concretizando. Os jardins, a decoração externa, os pátios exalavam requinte. Quando menos esperava se surpreender com as belezas do palácio, encontrou uma praça charmosa — minimalista, se comparada ao resto do lugar — que a compeliu a parar sua trilha.

Atirou-se no primeiro banco que viu pela frente. Tirou os sapatos, analisou os estragos (o calcanhar ferido e os calos) e suspirou. Não é o seu dia, Elena. Depositou os sapatos no chão. Vasculhando os arredores enquanto massageava os pés, vislumbrou uma espécie de píer a poucos metros de si e decidiu "aportar" nele.

A estrutura de madeira esbranquiçada projetava-se às margens de um lago. Tendo se sentado há pouco, precisou recorrer ao resto da reserva de suas forças para deixar a praça e realizar a troca de seu local de repouso. Com dificuldade, aboletou-se no assoalho do píer e mergulhou os pés nas límpidas águas mornas.

Espalmou as mãos para sustentar o peso de seu tronco e inclinou a cabeça para trás, dando um suspiro diferente do anterior. Fechou os olhos, confiante de que vivenciava a situação ideal para fazê-la esquecer dos problemas.

Então, ouviu um farfalhar de folhas e pensou de imediato: De novo, não. Alerta, suspeitou estar sob o ataque de algum bicho mutante, ao estilo do "esquilocego", ou na iminência de se deparar com outro trabalhador noturno tão esquisito quanto o jardineiro. No entanto, suas preocupações foram em vão. Fora só o vento. Mas o vento não viera desacompanhado.

Embora a súbita ventania fosse responsável pelo alvoroço dos arbustos e árvores, não apagava o fato de que alguém chegara tão perto dela sem denunciar a própria presença. Luuk a alcançara junto com a lufada de ar — culpada por avacalhar com o penteado da terráquea.

Ele carregava os sapatos dela, sustentando-os com o indicador por debaixo do salto e balançando a mão.

— Se a intenção era desaparecer, seria melhor não ter deixado pistas. — Chacoalhou os sapatos outra vez, para enfatizar seu ponto.

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