34 - Sua Alteza Real

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Eutsi, Erdi

1º dia de Ardeat, 13932 A. L. – 02h35 pós-Lunaris

— Por que eu não estou surpreso de ser o último a saber? — a pergunta retórica ecoou na Sala do Conselho Real. — Dois deles. Dois!

O rei Reuben cerrou os punhos sob a mesa, numa tentativa vã de controlar suas emoções. As víboras bajuladoras do Conselho Real fariam um banquete se vislumbrassem o mínimo sinal de instabilidade.

— Nem pensem que eu compactuarei com esse tipo de desrespeito. Intimar terráqueos depois de tudo que aconteceu... Estamos tão desesperados assim? — levantou-se da cadeira branca de espaldar alto em um movimento fragmentado e vagaroso, antecipando as objeções à sua partida. — Eu me recuso a comparecer, estão me ouvindo? Me recuso!

— Mas Vossa Majestade...

— Sem "mas"!

— Não podemos dispensar o pronunciamento, Majestade.

— Chame os roteiristas e a equipe de filmagem, resolveremos isso aqui mesmo — ordenou secamente. — Assunto encerrado.

Reuben abandonou a reunião do Conselho, deixando o grupo de nobres ultrajados para trás. O rei não apresentava tamanha rebeldia e irritabilidade desde os tempos de juventude, nos quais se esquivava dos deveres reais. Quando corria até alcançar um pedaço do paraíso esquecido nas adjacências do palácio real.

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Os nobres entreolharam-se, simulando perplexidade. Por fim, o presidente do Conselho se manifestou:

— Ora, ora! Isto foi... inesperado — ironizou o conselheiro Hayato, ajeitando a gola de sua túnica.

Os outros conselheiros concordaram com o apontamento fútil, balançando a cabeça como bonecos de mesa. A atitude do rei era esperada desde a formulação da lista dos recrutas selecionados para aquele trimestre. A presença de humanos em Batasuna nunca foi sinônimo de boa sorte.

Além de os considerar uma raça inferior, aquém das necessidades do exército, o infortúnio com os terráqueos ainda estava "fresco" na memória dos conselheiros. Apesar das duas décadas que haviam se passado, o impacto da morte deles assombrava o rei e respaldava as intervenções incisivas do Conselho nas decisões que cabiam ao monarca. Em outras palavras, tinham o aval para interferir nas questões do reino quando o rei apresentasse o julgamento comprometido.

Elena Fernandes. Evan Blair. Tinham muito a agradecer a estes humanos por caírem como uma luva em Batasuna, por provocarem o alvoroço que garantiu governabilidade ao Conselho.

— Bom, pelo menos agora os adultos podem tratar dos assuntos de gente grande — Katsuo Hayato deu um sorriso discreto, mesmo não sendo um segredo o quão aliviado estava pela debandada de Reuben. Sem demora, mudou o rumo da conversa. — Qual foi o parecer do chanceler da Cúpula?

— Deve estar furioso porque "roubamos" os cãezinhos deles — escarneceu Inbal, a tesoureira de Eutsi, intrometendo-se no assunto.

— Perdeu a compostura, se é que eles têm essa qualidade. Disse que toleraria abrir mão da funcionária deles, caso compensássemos a perda de alguém como ela com uma transação generosa. Porém, e enfatizou o "porém", não admitiriam que o prisioneiro ficasse conosco. Trocando em miúdos: está tudo dentro dos conformes — assegurou Barak, o responsável pelas comunicações interplanetárias, ignorando o comentário venenoso da colega conselheira.

— Espero que isto seja verdade, meu caro — a coronel Wu declarou. — É o segundo mês consecutivo em que convocamos um guerreiro valioso para a Cúpula. Não podemos confiar na honradez de um governo envolvido com as ratazanas de Erori. Vossas Excelências, sejamos sinceros, por quanto tempo acham que esses vermes inescrupulosos irão honrar um acordo tão antigo? — interpelou-os. — Nós estamos brincando com fogo. Eu estou arriscando minha carreira, a posição que alcancei por mérito próprio... Não posso arcar com um rawine baderneiro destruindo o patrimônio do reino.

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