16 || Férias frustradas com a amiga

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Elena queria ir embora, tinha ótimos motivos para o querer. Evan, por sua vez, duvidava das próprias intenções e da possibilidade de escapatória desde o dia um.

Às vezes, ele sentia vontade de bater à porta da humilde mansão dos Blair e andar com os coturnos enlameados sobre o precioso tapete persa de Vossa Excelência por pura diversão. Imaginava-se esperando a chegada dela.

Depois de enfrentar uma sessão da Câmara, Adelaide estaria pronta para descontar o estresse em algum desavisado. Então, ela encontraria um homem imundo acomodado em seu sofá, com os pés sobre a mesa de centro. Ao vê-la, ele abriria um sorriso largo que repuxasse a cicatriz ao máximo e lhe diria que a estadia no Tibet foi revigorante.

Esses eram os momentos nos quais seu rancor falava mais alto e ele queria escancarar a parcela de culpa que ela tivera pelas suas tribulações. Queria voltar para assombrá-la como um fantasma do Natal passado. Mostraria a ela que acolhimento e compreensão eram a solução. Caso os tivesse sentido no passado, nunca teria abandonado sua vida confortável.

Pensamentos dessa natureza, no entanto, iam embora na mesma velocidade em que chegavam a ele. Cada hora passada em Eutsi o levava à conclusão de que voltar não era uma opção. Sua intuição o dizia que encarar a guerra dos extraterrestres e uma eventual morte era melhor do que voltar atrás.

Aos olhos dele, fugir não era a melhor escolha. Nunca foi. Lamentavelmente, sua opinião era completamente enviesada. Nem quando esteve no Inferno ele considerou desistir da realidade cruel e buscar abrigo no colo da mãe.

Entretanto, tratando-se de Elena, Evan a seguiria e apoiaria as decisões dela ainda que soubesse quão equivocada ela estava. Além disso, a mãe dela era diferente. Elena tinha motivos de sobra para perder a razão, sentir saudade e desejar retornar aos braços dela a qualquer custo.

Contudo, fugir colocando o pescoço em risco continuava sendo uma péssima ideia.

Caso conseguissem escapar e chegassem sãos e salvos à Terra, o planeta provavelmente já não seria o mesmo. Talvez o ambiente que encontrassem ao retornar fosse o mundo pós-apocalíptico das ficções científicas. Eles poderiam ser os últimos humanos vivos, responsáveis por repovoar a Terra. Eu aceitaria essa tarefa numa boa.

Nessa realidade imaginada eles ficariam juntos. Nela, haveria a possibilidade de vivenciar o conto de fadas com o qual sonhara repetidas vezes durante as solitárias noites em seu quarto.

A Branca de Neve seria liberta de sua maldição com um beijo do Príncipe Encantado e viveriam felizes para sempre.

Mas por que diabos eu não consigo gostar desse plano?

Por mais tentadora que fosse a possibilidade de ter uma segunda chance com Elena na Terra, não se equiparava ao magnetismo daquele novo mundo. Além de tê-la trazido de volta à sua vida, ele o alimentava com a adrenalina da atmosfera de perigo constante. Isso muito o agradava.

Havia pegado gosto pela sua linha de ação. Tornara-se um "faca na caveira" de corpo, mente e alma. E sentia que não mais poderia ser outra coisa.

 E sentia que não mais poderia ser outra coisa

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