9 || Corra, Forrest! | A Arena |1

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⚠️ Conteúdo sensível: violência e traumas físicos/psicológicos⚠️

Destinada à maioria das atividades do treinamento, a Arena erguia-se imponente com suas formas assimétricas. A ínfima sombra gerada pela luz tímida do sol escondia a magnitude dela. Era maior do que um estádio olímpico e o portal triangular que dava acesso a ela era incrustado de pedras peroladas.

Zoya os aguardava, impacientemente, à entrada da Arena. Aos poucos, os recrutas chegaram. Os terráqueos, como temia, foram os últimos. Ela havia notado o quão alheios ao treinamento os dois estavam em comparação com os demais.

Sabia muito pouco sobre o que era normal ou anormal para os terráqueos. Sendo assim, restavam a ela as suposições. Considerava a possibilidade de tal afastamento se tratar de algum rito de acasalamento.

Essas ideias, contudo, eram apenas especulações. Não havia entradas sobre esses aspectos no manual fornecido pelo exército para se certificar da veracidade das suposições.

Além do mais, havia estudado somente o básico sobre a Terra durante a sua formação no internato. Rawin limitava o acesso a estudos antropológicos culturais e o currículo era ainda menor ao se tratar de sexualidade ou crenças religiosas.

No entanto, Zoya havia aprendido muito sobre comportamento observando animais durante o curso de caça. Ela conhecia aquele modo de agir, pois o vira em otsehoas (híbrido lobo-leão) quando se aproximavam de suas fêmeas.

Havia outro aspecto intrigante sobre o comportamento dele. Evan andava constantemente olhando para os lados — e para Elena —, virava a cabeça instintivamente em resposta aos mínimos estímulos sonoros; quase como se estivesse fugindo de alguém.

E ela poderia apostar que o certo alguém imaginado queria esfaqueá-lo... de novo. A cicatriz no rosto dele não viera de um acidente; disso tinha certeza. Possuía vasta experiência no campo das cicatrizes e ainda maior em ferimentos feitos por facas. Talvez fosse...

Isso não é da minha conta, é assunto dele. Deles. Ela dispersou os pensamentos, focando-se nos seus afazeres. Não lhe importava o quanto os estrangeiros a fascinavam, seu dever para com a nação de Eutsi vinha em primeiro lugar. Foco, eu só preciso de foco. Desde que pisei aqui estou mais dispersa e não posso continuar assim. Deu meia-volta, pedindo-lhes que a seguissem.

Conduziu-os ao interior da Arena, mais especificamente à pista de atletismo. Ela e os demais treinadores subiram ao camarote, enquanto os recrutas sentaram-se abaixo deles, do lado oposto, em uma elegante arquibancada de dimensões modestas.

— Bom dia, recrutas! Começaremos nossas atividades com uma prova simbólica para analisar o condicionamento físico de vocês.

"A prova consiste em uma corrida com obstáculos. Vocês serão avaliados pelo número de voltas completas, ritmo e tempo total de corrida. Lembrem-se que os dados do monitoramento contarão, quanto maior o desempenho e menor o nível de estresse fisiológico, melhor será o resultado. A ordem da seleção dos recrutas será aleatória. Fiquem atentos, poderão ser chamados a qualquer momento."

Zoya acomodou-se no assento central. Cultivara altas expectativas. Nenhum deles tinha a formação de Rawin, entretanto, alguns haviam se preparado ao longo dos anos. Tanto a obrigatoriedade do alistamento para os eutsianos quanto a possibilidade de convocação de indivíduos dos demais planetas levou os habitantes do Sistema Kontz a instituir um intenso programa de capacitação física compreendendo todos os indivíduos jovens. Ela esperava que isso lhes garantisse um desempenho satisfatório naquela manhã.

A mensagem recebida em seu tablet a informava que a lista com a ordem de chamada dos recrutas estava pronta. Com um clique, o primeiro nome saltou da tela em uma projeção holográfica.

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