+16 | Completo | Um acontecimento inusitado leva Elena à maior aventura de sua pacata vida: uma jornada ao Planeta Luz. Perdida neste incrível mundo, ela precisa se encontrar em meio ao caos e lutar contra forças desconhecidas.
A força de Elena Fern...
"Qualquer missão, em qualquer lugar, a qualquer hora, de qualquer maneira."
(Lema do 1º Batalhão de Ações de Comandos)
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Oriente Médio, Albenda
2076 D.C.
Em 2023, o imperialismo ianque invadiu as terras tupiniquins. Depois do colapso do que um dia fora os Estados Unidos da América, a Terra nunca mais foi a mesma. A maioria dos sobreviventes da Terceira Guerra se dispersou pelas Américas Central e do Sul.
Os mais influentes, no entanto, viram a oportunidade de chegar a outro patamar ao dirigirem-se a um país emergente. Assim, o Brasil acolheu diversos imigrantes da América do Norte em seu território. Junto à diversidade dos novos habitantes, acumularam-se os problemas.
Com a população brasileira dobrada, logo faltaria o básico. Não haveria recursos naturais para suprir as demandas do povo. Partindo desse pressuposto, chegaram a uma decisão que, apesar de moralmente incorreta, tapearia os problemas pelos próximos sessenta anos ou mais.
Sofrendo a influência dos novos habitantes do país, que souberam infestar os lugares de poder assim que obtiveram sua cidadania, o Exército Brasileiro passou a se envolver no mesmo tipo de atividade que os extintos fuzileiros norte-americanos.
Então vieram as incursões. Os homens de uniforme camuflado passaram a "defender" seu país atacando outros territórios. Sob a proteção deles, a mão invisível expandia a agropecuária brasileira para outros territórios latino-americanos, extraía minérios e combustíveis fósseis de países alheios.
Dentre as indústrias que se beneficiavam com essas missões estava o Grupo Empresarial Blair, responsável pela maior refinaria de petróleo do Brasil — tendo desbancado a Petrobras em 2022, valendo-se da crise política e econômica.
A família Blair vinha de uma longa linhagem de fazendeiros escoceses que, com a Segunda Revolução Industrial, vislumbraram um futuro melhor nos Estados Unidos e fizeram as malas sem demora. Vivendo o sonho americano, expandiram seu mercado, dedicando-se para além do agronegócio, e abriram fábricas de automóveis e siderúrgicas.
O sucesso exponencial dos Blair não se deixou refrear pelos conflitos e moléstias que ocorriam ano após ano e assolavam o globo terrestre. Com o advento de mais uma guerra, trataram de emigrar para o Brasil antes da situação piorar.
Os Blair eram criaturas espertas e adaptáveis. Poucas pessoas no mundo podiam se gabar de ter um tataravô que foi discípulo de Henry Ford. Evan tinha sangue de empreendedor e todas as possibilidades de uma vida abastada e próspera. Mesmo assim, lá estava ele: em um muquifo no fim do mundo, amarrado e amordaçado.
Desistira de tentar se soltar. Seria pior se mexesse as mãos e o atrito da corda de cânhamo que atava seus punhos aprofundasse as feridas preexistentes.
Tinha calafrios. Acabara de receber um desagradável jato de água no corpo. Estava nu, encharcado e preso num quarto minúsculo com um basculante semiaberto que permitia a entrada do vento noturno. Os dedos gelados do ar reviravam o seu corpo, terminando em tremores e ranger de dentes.
Nas setenta e duas horas condenado àquele martírio, transitava entre o confinamento no quarto escuro e a saleta mal iluminada onde o interrogavam.
Quantos homens? Quais são os seus planos? Que horas ocorrem as trocas de turno? Sempre as mesmas perguntas. Portanto, dava-lhes a mesma resposta: "eu não sei". Evan poderia ser chamado de tudo, menos de traidor. Não entregaria seus irmãos aos lobos, caso lhe fosse dada a oportunidade.
Suportou a extração de quatro molares, os dentes do juízo — e supôs que devia agradecer aos envolvidos por terem poupado os dentes frontais —, pregos debaixo das unhas, afogamentos, espancamentos e outras doses de degradação.
Em uma dessas sessões, um de seus captores teve a brilhante ideia de abrir-lhe um segundo sorriso. Com uma faca de ponta aquecida, foi traçada uma linha irregular do lado direito de sua face. O torturador teria terminado o serviço, completando a obra no lado esquerdo, se não houvesse sido interrompido no meio do processo.
Salvo pelo gongo? Nem tanto.
A cicatriz daquele corte sádico tornou-se um lembrete da extensão da crueldade das pessoas. Não era à toa que detestava quando o recordavam da existência dela. Nada fazia para escondê-la, mesmo assim não apreciava a intromissão de terceiros. Aquele era um assunto dele e ele preferia enterrá-lo. Evitava trazer à consciência o quanto os dias no cativeiro haviam o abalado.
Acharam-no ao quarto dia, quando o passar do tempo tornara-se indistinguível e ele batalhava para se manter consciente depois de horas insones. O tiroteio que precedeu seu resgate lhe pareceu um evento surreal, um sonho.
Quando deu por si, estava ao lado de Doutorzinho no fundo de um Land Rover, tendo seus ferimentos limpos e os cortes menores suturados; sendo remendado enquanto não chegavam ao posto médico da base militar.
Sentiu-se terrivelmente consciente de si mesmo. Agora, além de ser um homem de 1,95 metro, dotado de um bronzeado cancerígeno que aterrorizaria dermatologistas do mundo inteiro, com um fraco para a bebida, chamaria atenção pelo entalhe no rosto. Rosto esse que, um dia, sua mãe havia considerado perfeito.
Ali, teve uma revelação — que só o tempo provaria a veracidade. Enquanto o mundo chacoalhava no embalo das quatro rodas enfrentando um terreno árido, a aridez dos próprios pensamentos o levou a uma conclusão fatal: ele estava fadado a uma vida infeliz. Preenchida pela Morte. Morte e solidão.
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Olár, terráqueos 🖖
Começo dizendo que: qualquer semelhança com a vida real é mera coincidência mesmo, porque 95% do capítulo já estava escrito antes das notícias dos últimos tempos. O que acontece, parafraseando Belchior, é que o profeta do terror de Laranja Mecânica sempre esteve certo. O seromano nunca aprende. Por que seria diferente na ficção?
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