2 || Um dia normal | Na Lagoinha

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EM ALGUM LUGAR DO UNIVERSO...

Levantou-se a duras penas, entre arfadas, apoiando-se em uma superfície rígida que, ao abrir os olhos, percebeu se tratar do chão

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Levantou-se a duras penas, entre arfadas, apoiando-se em uma superfície rígida que, ao abrir os olhos, percebeu se tratar do chão. ÓTIMO! AMO acordar no chão! AMO! Ser atropelada e acordar no chão duas vezes em menos de uma hora eram os meus sinceros desejos pra hoje.

Elena já vira muitas condições precárias de hospitais, filas quilométricas, macas em corredores e lera "Holocausto Brasileiro". Entretanto, tais coisas, teoricamente, haviam ficado no passado. Deixar pacientes largados no chão em plena Nova Era? Conte outra!

Subitamente atingida por uma tontura, enfrentou as vistas turvas, o mundo girando, e sentou-se na primeira cadeira que encontrou. Agrupava os pensamentos com dificuldade. Supunha ter batido a cabeça ao cair.

Minha mãe, pensou ao recobrar o senso. Luna provavelmente estava zanzando à procura de um médico que a explicasse todos os pormenores da condição de saúde da filha, do internamento à medicação após a alta hospitalar. Sua mãe dobrara os cuidados com tais questões depois de o marido falecer aos 36 anos devido a um infarto. Tranquilidade não era o estado de espírito no qual esperava encontrá-la quando a visse novamente.

Elena não a julgava. Elas eram uma família de duas pessoas. Mais uma perda familiar estava fora de cogitação.

Checou a parte posterior da cabeça, à procura de sangramentos, mas não achou ferimento algum. Ainda bem que não deu em nada, pensou, altamente desconfiada, depois de elevar seus braços e pernas.

Aparentemente, estava intacta. Entretanto, havia uma pergunta que insistia em atormentar sua mente atribulada: onde estava?

Não era um hospital, disso teve certeza quando notou mesas, cadeiras e sofás distribuídos pela sala. Além disso, sua mochila pesava como uma âncora em suas costas e ela ainda vestia as próprias roupas. E o mais bizarro: não estava sozinha.

Encontrava-se em um enorme salão. De seu lugar privilegiado, pôde ver várias pessoas deitadas ao longo do chão. Ideias pipocaram, ela criava várias hipóteses e, em seguida, as descartava.

Sem demora, o vendaval de pensamentos tornou-se brisa e o pensamento lhe veio como um sopro. Será que estão mortos?

Levantou-se esbaforida e ajoelhou-se ao lado da pessoa mais próxima, um homem jovem que, ao contrário dela, parecia ter sido atropelado. Levou a suada e trêmula mão até o pescoço dele. Enquanto o fazia, deteve-se no rosto dele.

A sensação de familiaridade despertada por ele provocou calafrios. Nunca me imaginei no meio do clichê "te conheço de algum lugar". Com um pouco mais de esforço, com certeza o encontraria em algum canto obscuro de suas memórias.

A pulsação sob os seus dedos era fraca e lenta, porém, existente e compassada. Ela estava viva, ele estava vivo, não estavam num necrotério alternativo ou no purgatório. Respirou quase aliviada. Quase. Ainda não fazia a mínima ideia de onde tinha ido parar.

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