11 || Corra, Forrest! | Forrest Gump é mato |3

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⚠️ Conteúdo sensível: violência e traumas físicos/psicológicos⚠️

— Não acha que isso tá passando um pouco dos limites? — cochichou Luuk.

— Nós temos ordens para não interromper os processos avaliativos. A menos que seja um caso de ferimento grave ou iminência de morte, não há nada que possamos fazer — Zoya rebateu em seu tom de voz usual.

Luuk cerrou os dentes para conter sua oposição. Acatar tais diretivas era mais difícil do que pensara. Em sua nada humilde opinião, estas regras serviam a um único propósito: dificultar a vida dos recrutas e treinadores.

A maioria dos rawines, com o tempo, acostumavam-se com imposições sem reclamar. No entanto, Luuk não era um deles. E, por mais que estivesse acostumado à crueldade do treinamento nos internatos de Rawin, não era conivente com a exposição dos recrutas a riscos daquela natureza.

Interromper a prova, por um instante, pareceu a melhor alternativa. Talvez valha a pena cometer mais uma infração, o pensamento agitou-lhe os nervos. Embora fosse tentadora, ele descartou a ideia.

O preço de sua liberdade era fazer vista grossa e ponto. Além disso, já se arriscara demais ao oferecer amparo à terráquea. Não deveria abusar da sorte. Assim, restava-lhe questionar — em silêncio — o valor dessa liberdade condicionada a aceitar disparates.

Do outro lado da Arena, na arquibancada, um recruta pensava de modo semelhante. Porém, este ultrapassara o "talvez". Evan sabia que interferir, ainda que fosse uma infração e pudesse o encrencar tanto quanto ou até mais do que uma tentativa de fuga, era o certo a se fazer.

Tiffy girava a cabeça de um lado para o outro, desnorteada, tentando se guiar pelos sons e sendo traída pela Torre de Babel da própria mente. Ele não suportaria vê-la daquele jeito por muito mais tempo.

A confusão dela era tão palpável quanto o dispositivo acionado a poucos metros dela que piscava como uma árvore de Natal. Estava prestes a detonar. E os treinadores não moveriam um dedo até a situação ficar crítica.

Contudo, Evan não deixaria o pior acontecer.

Ah, não. Hoje não — prometeu a si mesmo, reunindo forças para agir depois de ter tido a energia drenada pela própria prova. Levantou-se abruptamente e desceu os poucos degraus da arquibancada em uma velocidade impressionante.

Ele correu mais rápido do que o Forrest Gump fugindo dos meninos malvados que o importunavam. Lançou-se, envolvendo-a e tentando servir de escudo humano caso o pior viesse a acontecer.

Então, a temida explosão ocorreu atrás deles. Foram jogados sobre o gramado ao lado da pista. Enquanto eram arremessados, Evan torceu para não a machucar durante a queda.

Rolaram pela grama por alguns metros e pararam. Evan sentiu-se grato, apesar de suspeitar que tinha causado um dano colateral ao cair por cima dela. Assumira que suportar o peso de alguém do seu tamanho sobre si em uma situação tão delicada equivalia-se a uma sessão de tortura.

Todavia, pouco importava a posição desagradável. Tiffy estava inteira e isso era o que realmente importava. Nem quis pensar no que teria ocorrido se ele tivesse demorado mais um pouco.

Debaixo dele, Tiffy arfava, com a pele reluzente de suor. Ela ancorara-se nele em um ato reflexo. Conseguia sentir as unhas dela cravadas em suas costas como se a densa camada de tecido do uniforme não existisse.

Retirando a venda dos olhos dela com destreza, enxergou o medo que transitava por aquela imensidão branca. O rosto dela, antes corado, estava pálido e congelado numa expressão de espanto. Parecia que ela tinha acabado de ver um fantasma.

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