Planeta Luz

57 - De volta ao lar (Parte 1)

Desfalcado pela ausência de Evan, o grupo adequou-se à atual condição. Na maioria dos dias subsequentes ao evento, os demais soldados se ocuparam com missões distintas, de serviços internos a oferecer suporte aos outros esquadrões. Através dessas experiências, constataram uma suspeita de longa data: Eutsi estava em maus lençóis.

Alguém do outro lado se irritara, era evidente. Erori tinha adquirido motivação para avançar impiedosamente. Desde a queda de Kyar, nenhum outro líder eroriano havia ordenado tantos ataques. E sequenciais. As cidades caíam como dominós enfileirados, tombando uma por uma. A destruição acercava Erdi, em breve a alcançaria.

Ainda que a Redoma — dita inexpugnável — os protegesse dos males do mundo externo, as pessoas já não dormiam tranquilas. Rumores se espalhavam como uma doença contagiosa, da boca do povo soavam ecos do passado, ninguém se sentia seguro.

Nem o olhar penetrante e o tom ameaçador de Hadassah, espalhados pela cidade em telas de variados tamanhos, persuadiam do mesmo jeito. Quem correria para se alistar e ser empurrado para a batalha quando até os soldados treinados eram esmagados feito moscas? O Exército carecia de almas para alimentar suas tropas suicidas, mas o método tradicional não mais funcionava.

Eutsi estava sozinha, em um bote furado prestes a naufragar. Precisava de aliados. Com um exército capenga e fragmentado — distribuindo-se ao longo da fronteira, no front, e pelas ruínas de Kondena, na manutenção dos postos avançados e em equipes de reconhecimento —, não iriam muito longe. Se havia uma ocasião perfeita para apelar, era aquela na qual se encontravam.

O amigável rei holograma repetiu frases feitas apenas para amaciar a notícia real: todos os militares reformados deveriam se apresentar no quartel. Isso incluía quem cumprira o tempo obrigatório de serviço há pouco — pessoas que sequer tiveram tempo para retornar a suas vidas "normais". Os cidadãos toleraram o alistamento obrigatório sem questionamentos. Engolir mais serviços compulsórios forçava os limites. A medida abalou grande parte da credibilidade na competência dos gestores.

Para piorar, a pressão interna para multiplicar o contingente de tropas não era suficiente — nunca fora. Precisariam recrutar ajuda externa. Aí residia o perigo. Se transparecer as próprias necessidades para os cidadãos de Eutsi já havia causado rebuliço, expor a vulnerabilidade do reino para outros seria infinitamente pior — catastrófico até.

Nenhum conselheiro queria arriscar o próprio pescoço (ou a reputação) indo a nações estrangeiras. Nenhum deles admitiria quão degradante consideravam o ato de se arrastar pelos outros planetas implorando por apoio. Restava-lhes, então, delegar a responsabilidade. Tendo em vista os interesses escusos do Conselho, a coronel Wu deu ordens diretas à Zoya para que ela tratasse dos acordos.

A capitã optou por jogar a carta racial: enviaria os membros da própria equipe aos seus planetas de origem como representantes de Eutsi. Infelizmente, nem essa jogada deu resultados.

Tiffy se recusara a ir a Ciedlo. Por mais que o cargo de Zoya lhe permitisse obrigá-la a ir, não a forçaria. A fada permanecia abalada por conta de Evan, Zoya estimava que ela não dormira um segundo desde aquele dia. Não havia motivos suficientes para enviá-la a um potencial beco sem saída quando havia outra ciedli como opção.

A segunda opção aceitou a tarefa de imediato. Libby partiu com a cara, a coragem e a boa vontade. Mas não garantiu retorno positivo. Duvidava que os conservadores que tomaram o parlamento de Ciedlo seriam receptivos ao retorno triunfal da maior libertina de Anioly.

Além do mais, ela e a irmã desapareceram do mapa meio século atrás, quando os ciedli mais precisaram delas. Isso, por si só, já era o suficiente para ela ser recepcionada com paus e pedras. Ainda havia outro problema: se o objetivo era persuadir alguém, a irmã adequada não seria ela. O Parlamento com certeza clamaria pela namoradinha de Ciedlo, o sonho da nação, também conhecida como Tiffy.