28 - Você de novo?

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Detestava banhar-se tão tarde, principalmente por conta das águas congelantes do lago mais próximo. No entanto, depois da sentença mórbida de Kai e do cortejo fúnebre no caminho de volta, alguns minutos debaixo da água gelada seriam aconchegantes. Pelo menos se refrescaria e afugentaria os temores na base dos tremores.

Flutuava na parte mais profunda, de barriga para cima, movimentando os braços suavemente para se manter estável. A lua baixa, agigantada e brilhante, iluminava o lugar como um holofote. A noite avançava, aformoseando-se diante dos olhos de Elena. Na quietude dela, a solidão não parecia tão ruim.

O frio tornara-se insignificante, já não se importava com as lufadas de vento e os pelos eriçados. Naqueles poucos instantes de alívio, tratou de varrer as preocupações para debaixo do tapete e conservá-las no esconderijo.

Tendo excedido seus limites, encheu os pulmões de ar e mergulhou na imensidão verde-escura do lago. Passara tempo o suficiente relaxando, era hora de ir para onde seus pés tocavam o chão, terminar seu banho, ir embora e talvez — um grande talvez — dormir por mais de quatro horas.

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Luuk retirava com cautela os elásticos que prendiam suas tranças. Estava radiante por poder desfrutar da água doce outra vez, apesar de o estar fazendo às escondidas na calada da noite para evitar as broncas de Zoya.

Considerava o momento no qual soltava os cabelos e se livrava do uniforme a melhor parte do dia. Ao adicionar o ar-livre à equação, ele obtivera o produto perfeito. Estava no seu habitat natural, com o bônus de ter excluído os pontos negativos do passado.

Lançou a toalha, antes enroscada no pescoço, no mesmo galho que sustentava as roupas limpas de Elena, sem sequer reparar nas peças já penduradas na árvore. Continuou andando, imperturbável, parando somente ao ter os pés beijados pela água.

Alheia, privada de seus sentidos por conta do mergulho, Elena nadava completamente submersa. Decidiu parar quando encontrou um local adequado. Subiu à superfície para respirar, mas teve a inspiração interrompida pelo que avistou às margens do lago.

Ela berrou, alarmando Luuk que, reconhecendo a voz dela, logo vasculhou os arredores para descobrir a causa da comoção. Encontrando uma Elena paralisada, porém, intacta — apesar dos olhos arregalados fixados nele —, aliviou-se.

— Que susto, Terra! Achei que tinha se machucado — suavizando sua expressão, continuou a destrançar o cabelo como se nada tivesse acontecido.

Os treinadores podiam se beneficiar de regalias negadas aos recrutas. Possuíam um alojamento amplo, suítes individuais, energia, comida, tudo. Elena não compreendia o motivo pelo qual ele viera sujeitar-se à péssima experiência dos recrutas, privando-se das diversas comodidades ao seu dispor.

— Você de novo? Não tinha lugar melhor pra ir não, tipo um banheiro? — ele assentiu. — Então o que você tá fazendo aqui? — fingiu incômodo. Chegara a um ponto no qual ficava na defensiva para não dar o braço a torcer e evidenciar o quanto passara a apreciar a companhia dele, com ou sem roupa, independentemente do contexto.

— Eu prefiro a natureza — deu de ombros, andando a passos vagarosos. — E tomar banho com roupa não dá. Sinto muito, Terra, mas eu não vou voltar pra me vestir.

— Tá bem, Pelado. Mas se apresse, por favor, é meio desconfortável conversar com você assim. — Eu tenho a opção de não ficar encarando também, refutou-se, mesmo não estando disposta a desviar o olhar. Elena repreendeu-se por não conseguir tirar os olhos de Luuk, apertando os lábios à medida que ele se aproximava.

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