32 - Análise

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Batasuna, Ilha Begiak

Centro de Treinamento do Exército de Eutsi

— Não podemos esperar, capitã. Confiamos no seu julgamento. — A mulher uniformizada interrompeu a chamada.

O holograma desapareceu. Sequer haviam se passado 24 horas da última missão e seus superiores — não qualquer superior, quem tinha entrado em contato fora a coronel Yuko Wu, figura proeminente no exército e entre as Grandes Famílias de Hen.

Não bastasse os títulos e honrarias dela, também era esposa do Conselheiro Hayato, tornando-a um elo entre Exército e Conselho. Zoya jamais questionaria a decisão da coronel, apesar de discordar. Os superiores tinham cometido um gigantesco equívoco ao trocar um programa de computador por um ser vivo enviesado.

Minha responsabilidade. Haviam dispensado as formalidades. Ficaria a cargo dela separar o joio do trigo. Nada de algoritmo embasado no desempenho dos recrutas, da impessoalidade do ranking e percentuais de eficácia. A avaliação subjetiva de Zoya teria o maior peso. Ela determinaria o destino dos recrutas.

Ademais, para piorar a situação — pois "todo castigo para um rawine é pouco" —, o exército exigira soldados capacitados em até três semanas. A conclusão do treinamento entrara em prioridade máxima.

Subtrair um mês de treinamento significava duas coisas: os eutsianos estavam desesperados, sem sombra de dúvidas, e ela teria de operar milagres. Alguns recrutas, nas poucas semanas passadas, mantiveram-se em posições desfavoráveis. Elena era uma delas.

Na lanterninha do ranking, a terráquea permanecera inabalável. Acompanhando-a, seis outros recrutas tinham o desempenho entre os espectros medíocre e mediano. Zoya não conseguia parar de pensar no que seria deles. Mesmo os enviando a focos de combate indireto, sempre existiria o risco de o inimigo alcançá-los. Ela não permitiria que os pegassem desprotegidos. Era seu dever moral prepará-los.

Mas como?

Apelaria ela ao recurso derradeiro? Os resultados compensariam tamanha crueldade? Talvez valha a pena. Os erorianos não estavam para brincadeira. Também não atacaram tão seriamente quanto o esperado. A proporção de feridos superara a dos mortos.

Os soldados não eram rawines — este detalhe importante foi o ponto chave para a sua conduta durante a missão. Isso aumentara a chance de sobrevivência em 80%. Seus pares desconheciam o conceito de misericórdia, nunca deixariam inimigos vivos.

Contudo, a alta possibilidade de se depararem com rawines nas próximas missões e enfrentarem guerreiros impiedosos justificaria submeter os recrutas de Eutsi à dureza de um treinamento semelhante ao dos Internatos? Zoya precisava ter certeza absoluta de sua decisão. Esta era uma pergunta crucial e exigia uma resposta compatível à sua gravidade.

Precisava ser rápido. O luxo da demora não lhe pertencia. Caso postergasse, criaria uma bola de neve que rolaria morro abaixo e destruiria seus planos de realizar um excelente trabalho — para, se possível, não retornar ao "lar".

Tanto ela quanto Luuk tinham sido convocados para servir, desagradando a Rawin. "Extraditar" a melhor funcionária da Cúpula e o indivíduo mais odiado pelo alto escalão decerto não havia deixado Eutsi em bons termos com Rawin. A Cúpula exigiria a volta de seus filhos pródigos tão logo o tempo de serviço obrigatório terminasse.

Por isso primava pelo correto e insistira tanto em alertar Luuk sobre a importância de ter um comportamento exemplar. Se o serviço deles agradasse os eutsianos, as chances de serem efetivados e permanecerem em Batasuna cresceria exponencialmente. Era só disso que ela precisava. Uma oportunidade — que, ao seu ver, ele estava desperdiçando.

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