33 - Eu te avisei

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Batasuna, Erori

Palácio de Eumin

A mulher sentada sobre o tampo da mesa do Soberano de Erori saboreava uma fruta suculenta, cujo sumo escorria sensualmente pelo seu decote avantajado. Para uma entidade como ela, alimentar-se era um processo desnecessário. No entanto, aprazia-lhe a reação que provocava nos mortais. Deleitava-se ao tomar a forma deles e receber o espanto, a confusão, o terror e até mesmo o desejo destes.

Azea, antecessor do atual Soberano, era um excelente representante desse último tipo de seres inferiores. Ao contrário dele, seu filho, Yamanu, mostrava-se imperturbável diante da irresistibilidade dela. Aparentava a placidez de um ancião isolado da sociedade.

Aparentava. Faltava precisão quando se tratava de determinar o humor do governante. O capacete em tons metálicos atracado à cabeça do homem ocultava sua face da vista dos demais o tempo todo. Ela enxergava apenas o que ele demonstrava através dos gestos e da fala.

Yamanu apoiou os cotovelos nos braços da cadeira giratória onde estava sentado. As mãos enluvadas cruzaram-se debaixo de seu queixo.

— Me dê ao menos um motivo para eu acreditar em você — intimou-a, áspero, sem comoção alguma.

— Eu falo a verdade, Soberano. Nada além da verdade — jurou redundantemente.

O riso sarcástico de Yamanu ecoou pelo amplo cômodo.

— Acaso eu me pareço com meu avô ou meu pai? — bufou. — Homens que fraquejam e se curvam quando desafiados pelos próprios desejos não merecem governar.

Seus dedos percorreram a pele exposta dela.

— Deixe-me dizer uma coisa, Umbra — sua mão parou no pescoço delgado dela. — Beleza é uma maldição.

A mulher alta calou-se. Sob a superfície espelhada do capacete, Yamanu fitava com extrema atenção os olhos completamente brancos que ela possuía. A marca das divindades, pensava, irônico. Uma "marca" com um significado qualquer, concluiu com desdém.

A opacidade da córnea, vista na imensidão branca dos olhos dos deuses, era uma peculiaridade de quem tinha a capacidade de fechar os olhos para o mundo físico e abri-los para o metafísico. Alguns ciedli também possuíam esses olhos leitosos, agregando uma aura de misticismo ainda maior àquela conferida por suas asas brilhantes e "segredos de Estado".

Sabendo disso, a lógica de Yamanu o levava a questionar-se como algo compartilhado com um reles grupo de fadas poderia ser tão especial assim. Só poderia ser mais uma das inúmeras mentiras daquele império de ilusões.

— Enquanto não puder comprovar estas "informações" com uma evidência concreta, eu não acreditarei em uma só palavra sua. — Yamanu afastou a cadeira para se levantar. — Mais uma coisa: não confunda brandura com estupidez. Eu posso não sair por aí exterminando fadas, mas eu sei revidar quando há uma ameaça legítima.

— Ah, é? — Umbra divertiu-se com a insinuação. — O que um mortal poderia me fazer de mal?

— Provoque a minha ira e você saberá — dirigiu-se ao elevador privativo. — Com a sua licença, minha querida. Tenho de comparecer a uma reunião importante. Meus soldados acabaram de voltar de Txapela e eu preciso de um relatório completo para traçar meus próximos planos.

Yamanu retirava-se em silêncio, com a postura e elegância de um verdadeiro governante. Todavia, à porta do elevador, antes de entrar, ele comentou:

— É sempre um prazer te ver. Estou ansioso para saber como será sua próxima tentativa de me "converter". — A acidez das palavras dele seria capaz de corroer o mais resistente dos metais.

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