Planeta Luz

36 - Batata-doce e frango (Parte 2)

Reunidos no centro da Arena, ao redor dos treinadores, os recrutas foram divididos em dois grupos. Elena, novamente, fora separada de Evan. Decerto, alguém lá em cima não se agradava deles — e Evan não estava insinuando que fossem os deuses.

O treino, por ironia, era uma capacitação para o uso de armas. Lógica impecável: primeiro, dê armas para quem nunca atirou e só depois ensine a atirar. Temia pelo castigado corpo de Elena. Se continuassem em um ritmo frenético, o quanto ela suportaria?

Chegara a cogitar que, naquele ritmo, a sua Elle sequer chegaria a "dar as caras" na próxima missão. Sendo assim, Evan se absteve de maiores reflexões. Persistir nesta linha de raciocínio lhe deixaria em maus lençóis — e de ajuda para isso ele não precisava.

Os grupos apartaram-se de forma organizada e silenciosa, ainda em ritmo de funeral. DaVian, a responsável por treiná-los no uso de armas brancas, seguiu com Zoya, Luuk e Ark para o portal lateral da Arena, à esquerda de onde estavam. Loraatra e Kigtag, liderando o grupo selecionado para treinar com armas de fogo — no qual Evan estava incluso —, dirigiram-se ao portal norte junto a Yregh e Xyraga — o par de treinadores mais indispostos dali.

Evan antecipara o que os esperava depois da saída da Arena. No entanto, sua imaginação não fizera jus à construção de dois andares diante deles. Por fora, ela era tão visualmente chamativa e requintada quanto qualquer outra construção do Centro de Treinamento. Por dentro, era o oposto. Simples e vazio como um galpão abandonado. Entrar ali fora como deslocar-se para um mundo invertido.

A galeria de tiro era um lugar inóspito, com uma luz fria, estandes e divisórias — igual a tantas outras. Seu único diferencial era um elevador feito em material transparente, situado no canto mais remoto do amplo vão térreo. A poucos metros da entrada, uma das treinadoras elevou a mão em sinal de parada.

— Dirijam-se às estações — ordenou Loraatra secamente.

— Cada um montará a própria arma e praticará sozinho até segunda ordem — instruiu Kigtag.

Os recrutas, receosos perante ordens tão inespecíficas, permaneceram nos respectivos lugares, aguardando por maiores detalhes. Contudo, estes não seriam fornecidos.

— Andem! Não temos o dia todo — Loraatra apressou-os.

A treinadora mal-humorada deu as costas antes de verificar se haviam realmente compreendido o que precisavam fazer no treino. Os outros treinadores a seguiram, sem se preocupar em preencher as lacunas deixadas por Loraatra. Ainda há quem fale mal da capitã, pensou ele enquanto se dirigia ao estande mais próximo.

— Ela é de poucas palavras, não? — Tiffy comentou, acomodando-se ao lado dele.

— Folgada também — disse Evan.

Tiffy aquiesceu, com um sorriso tímido.

A fada era uma companhia quase agradável e o encontrava tanto em situações corriqueiras quanto em ocasiões inoportunas. Mais do que acompanhar, ela marcava presença. E o "estar presente" dela parecia-lhe maior do que qualquer outro. Definitivamente maior do que a presença de sua família; maior do que os amigos-irmãos das forças especiais; maior do que Elena.

Sua velha "escudeira" já não era a mesma. A cabeça dela sempre estava em outro mundo, fosse pensando em Luna ou em algo diferente — ou outro alguém, talvez o tio Carlos. O olhar expressivo de Elena, na maior parte do tempo saudoso, por vezes se distanciava ainda mais, parecia-lhe estranhamente apaixonado. Todavia, Evan achava essa opção pouco provável. Na falta de uma justificativa melhor, tomava-o por uma diferente expressão de saudade.

Tiffy, pelo contrário, mostrava-se atenta a ele independentemente do momento. Fosse na sala branca — ao vê-lo pela primeira vez —, depois de rolar na grama da Arena, durante a descontração das horas vagas ou sentindo os efeitos do suposto nocaute dado por ela, Tiffy parecia investir-se por completo. Isso o encantava.