55 - Minha fama de mau

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⚠️ Conteúdo sensível: traumas,abuso infantil, violência física/psicológica⚠️

"(...) O constante atrito de mentes de pouca luz enfraquece até mesmo as melhores resoluções."
Herman Melville, no livro "Bartleby, o Escriturário"

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Erori, Eumin

13933 A. L. – 06h pós-Solis

Yamanu estava os provocando, induzindo-os a cair em suas armadilhas. Atacara-os para atiçar. Faria os eutsianos provarem o próprio veneno. E o faria para extinguir sua fama de mau.

Do mais jovem ao idoso, a opinião a respeito do governante de Erori era a mesma. Sempre assumiam o pior no tocante ao Soberano. Raramente estavam certos. Mas ele compreendia tamanho julgamento.

Yamanu descobrira, muito precocemente, qual era a fonte dos receios do povo. Ele fazia parte de uma linhagem de monarcas que se revelavam loucos ou cruéis (às vezes, ambos) desde a mais tenra idade.

Zakarra fora o único a perder a linha em um estalar de dedos durante a vida adulta. Os sucessores dele desandaram feito trem descarrilhado desde os primeiros passos. Kyar, a Valente; Ekaitza, o Insano; Azea, o Temível: todos vieram com defeito de fábrica. Uma árvore genealógica dessas jamais daria um bom fruto, decerto. Poderia ele condenar alguém pela incredulidade?

Sendo assim, dedicara sua vida ao desafio de provar-se diferente de seus antecessores — ou, no mínimo, menos cruel. Isso, por si só, já o diferenciava dos demais. Sem falar que também não havia perdido os parafusos, até o momento. Não a ponto de atacar uma cidade insignificante ação que em nada o beneficiaria.

O projeto de bombardeio não fora obra sua. Ele não daria um tiro no pé despropositadamente, alvoroçando os eutsianos à toa. Entretanto, diante do malfeito refeito, ele agiu. Se os eutsianos queriam culpá-lo, pois bem, que o culpassem. Mas não os permitiria fazê-lo sem antes dar motivos.

Coloriria o céu com novas estrelas cadentes. E eles concluiriam quem era o doido da história: se um líder assertivo ou um rei desesperado. Sobre si, Yamanu podia afirmar que jamais empurraria recrutas para uma batalha. O mesmo não podia ser dito a respeito de Eutsi. Isso o irritava. Muito.

Embora não pretendesse combater amadores com soldados de igual inexperiência, ele não retaliaria por meio de guerreiros de alto nível. O uso de força total contra soldados fedendo a leite configuraria uma perda de tempo e de esforço — dois dos desperdícios que mais detestava e com os quais não podia arcar.

Não "quebrara o porquinho" e gastara dinheiro público na aquisição de novos lotes de rawines — expondo a riscos sua estimada economia, que restabelecera a alto custo — para ser forçado a enviá-los em missões fúteis. Seria como disparar uma bala de canhão para matar uma mosca.

Em vista disso, delegou soldados naturais de Erori, de média patente e relativo bom histórico, para minar a patifaria de Eutsi antes que se espalhasse como um câncer. Uma peleja de nativos — e de pobres agregados alistados sob a pressão de uma lei obsoleta — deveria ser o suficiente para acabar de vez com a baixaria. Antes que eu vire imperador dos desertos de Meri e Senhor Protetor do entulho e dos restos mortais.

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Palácio de Eumin

Câmara dos Sussurros

A postos, na Câmara dos Sussurros, Yamanu calçava suas luvas e ajeitava o capacete enquanto aguardava os relatórios. Sua única expectativa era receber ao menos uma boa notícia. Nada de se desapontar com a incompetência dos seus subalternos, nem de receber outra visita de Umbra.

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