31 - Entre mortos e feridos, salvaram-se todos

142 22 221
                                    

Esbarrando em um e outro no meio da "multidão" concentrada na praça da cidade, Evan abriu caminho e atravessou o "Mar Vermelho" que o separava da nave de resgate. A tripulação desta incluía emergencistas, uma delas terminava de fazer um curativo em Elena. Ah, não — teve um sobressalto.

Dispensou a razão e começou a correr na direção dela. Sem esperar a mulher, vestida de branco da cabeça aos pés, se afastar dali propriamente, quase a derrubou ao terminar a corrida afobada em um solavanco.

— Elle, o que aconteceu? — Evan resfolegava, escorando-se na fuselagem da nave ao lado dela.

— Calma, respira primeiro — pediu. — Eu meio que... levei um tiro. Não foi nada demais, eu garanto. Já estou melhor, olha só — tentou mexer o braço para provar, mas acabou mordendo o punho para não se xingar por ter feito tamanha estupidez.

— Estou vendo — comentou, irônico e emburrado. — Por que toda vez que eu me afasto de você algo ruim acontece? — meneou a cabeça.

— Ok, senhor Amuleto da Sorte, não vá se achando. Eu sou um imã de encrenca desde sempre. E eu tenho certeza de que você tava presente quando eu torci o pé depois de pisar em falso no seu jardim.

— Me preocupei do mesmo jeito também, só pra deixar claro — rebateu. Deu um passo para frente e puxou-a para si, tomando cuidado com o local machucado. Naquele abraço desajeitado, bagunçou os cabelos dela. — Eu não vou deixar te machucarem de novo, ouviu?

— Ev, não precisa...

— Ninguém vai te machucar, eu prometo — interrompeu-a com o veredito. — No seu grupo ou fora dele, eu farei o que for preciso pra você sair dessa inteira.

Ela se afastou para lançar um teatral "meu herói", piscando os olhos com deslumbramento.

— É sério, não precisa. Não quero que você se distraia pra ser minha babá. Nós dois sabemos o que acontece quando você dá uma de Super-homem.

— Elle, esse não é um tópico aberto a discussões... — Evan interrompeu sua fala em vista da criança que se dirigia até eles a toda velocidade. — Já fez novos amigos? — ergueu uma sobrancelha, mesmo sem estar surpreso. Fazer amizades em tempo recorde era um proeminente talento de Elena.

— Ahp! — Ziva chamou-a. O irmão vinha logo atrás dela, lembrando-a de que Elena não falava o idioma deles. Então, emburrada, ela requisitou os serviços de Yochanan como tradutor.

— Ela quer saber pra onde levaram nossos pais — Yochanan explicou-a.

— Boa pergunta — mordeu o lábio. Tendo sido encaminhada aos primeiros socorros sem ficar a par do que acontecia nos arredores, estava tão desinformada quanto as crianças. — Venham, vamos descobrir.

Partiram para o centro da aglomeração, onde supuseram que encontrariam alguém capaz de dar-lhes respostas.

✶✶✶✶✶✶✶

Os dois rawines discutiam. À distância, notava-se o quão carrancudo Luuk estava. A expressão sombria não lhe caía bem. Zoya era a sisuda, não ele. O motivo de tamanho dissabor? A discordância entre os dois.

— Cumprimos o nosso dever. É hora de ir. — Zoya refutou, incisiva.

— Eles morreram em batalha, merecem mais do que serem jogados numa cova e apodrecerem debaixo da terra — argumentou Luuk.

Ele sabia que os agentes de limpeza eutsianos fariam algo do tipo. Portanto, buscava impedir tal desfeita.

A tradição rawine determinava o enterro dos cadáveres como um ato desrespeitoso. Em Rawin, a cremação era a única opção digna para os Guerreiros.

Planeta LuzOnde histórias criam vida. Descubra agora