60 || Mr. Sandman

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"E nenhum sonho jamais é apenas um sonho."
"De Olhos Bem Fechados" (1999). Dir. Stanley Kubrick.

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Reino de Nexi, Sede do Império Kontz

Palácio Real

11932 A. L.

Elena pousou no palácio real, como o fizera em tantas outras ocasiões. Contudo, fora parar em um cômodo diferente ao lado de personagens caviar — os quais nunca vira, mas ouvira falar. Prontamente assumira seu papel de observadora, ocupando o assento vago ao lado esquerdo do então imperador de Kontz, Ausartakus VI. O Conselho estava em reunião.

Os participantes, exaltados, levantavam-se das cadeiras, erguiam as vozes, por pouco não trocavam ofensas de cunho pessoal. Ausartakus tinha acabado de vetar a proposta controversa dos conselheiros acerca da extração de minérios em Hen.

— Ilustríssimos conselheiros, nossa crise no ramo não é pretexto para fazer mau uso dos nossos privilégios como sede do Império. Atormentar os henis com nossas demandas, nos aproveitando das leis, é aviltante. Não percebem? Precisamos arcar com o declínio de Nexi, é hora de procurar novos ramos, alternativas para nossa economia.

A insatisfação da maioria do Conselho — à época composto apenas por representantes de casas nobres nexianas —, frente ao fiasco das pedras preciosas, a marca do reino de Nexi, crescia feito pão fermentado. Os nobres insistiam no assunto, questionando a decisão de Ausartakus e, consequentemente, a autoridade dele.

Quando já não se distinguiam palavras e o falatório, ou melhor, a discussão adquirira baixeza — envolvendo ofensas diretas e xingamentos — Zakarra interveio. O príncipe herdeiro, antes sentado à direita do pai, levantou-se impondo sua forte presença, empunhou seu machado duplo e, com um urro, talhou a mesa da sala de reuniões. Partira o móvel ao meio com um único golpe, tamanho fora o impacto. Supôs que uma demonstração de força traria ordem àquele galinheiro.

Zakarra sempre expressava sua oposição com agressividade em vez de assertividade. Jamais admitiria isso e seguiria com seu temperamento explosivo — nada cooperativo à resolução dos problemas do reino —, todavia, sentia na pele a repercussão dos danos causados por ele. Ao ricochetearem nas paredes, as consequências o atingiam com o dobro da potência.

Com frequência, pesava-lhe nos ombros o fardo de ser deslegitimado em várias ocasiões às custas de seu lado irascível. Havia uma constante pressão sobre Zakarra, por sempre resolver as divergências com o próprio punho. Os demais perguntavam-se sem cerimônias: por que ele não aprendia com o irmão?

Ora, pois ele não era como o irmão nem queria ser. Simples assim. As pessoas, por sua vez, não toleravam respostas simples. Preferiam insultá-lo ou coisa pior: compará-lo ao caçula. E compará-los era desleal.

Antes de serem príncipes, eram mortais e falhos. Cada um tinha seus defeitos e qualidades. No caso de Zakarra, enxergavam apenas os defeitos. Quanto a Nolako, exaltavam suas qualidades e ignoravam suas falhas.

Nolako prezava o diálogo e a resolutividade através do tato no trato profissional. Não tinha habilidades físicas excepcionais, lugar no conselho ou direito à coroa, mas tinha o povo.

Aí entrava a tão falada cortina de fumaça: com a popularidade do príncipe mais novo e a indisposição frente ao mais velho.

Quando o conflito dos irmão ficava em voga, Ausartakus saía dos holofotes para deixar a desavença entre os filhos sob as luzes do palco político de Nexi. O imperador fazia o que bem entendia nessas ocasiões, conseguia evitar intromissões de diversos cantos, visto que os olhos de nobres e plebeus — famintos por discórdia — se voltavam a Zakarra e Nolako.

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