— Elle, volta aqui! Isso não é uma boa ideia.
— Não? Então me dê uma boa ideia! Eu não vou ficar aqui de braços cruzados e aceitar essas maluquices igual a esse povo.
— Eu conheço gente da laia deles. Confrontar nunca é a melhor ideia. — Apelou ao bom senso dela. — Primeiro — levantou o indicador, contando —, essas pessoas são, no mínimo, muito suspeitas e provavelmente perigosas. Pense comigo: que tipo de gente prende os outros assim e ainda se acha no direito de confiscar os pertences delas? Segundo: eles não vão te revelar nada além do que tá no roteiro deles.
— Como se você tivesse ouvido o que a mulher falou! Cochilou metade do discurso e quer dizer que eles revelaram coisas. Essa capitã aí passou uma eternidade cuspindo deveres e proibições! — Torceu os lábios, numa careta passageira.
— É exatamente disso que eu estou falando! Se as pessoas desse exército quisessem que a gente soubesse mais do que foi explicado, elas diriam.
— Então qual é a sua sugestão, ó especialista em assuntos militares?
— Nós nos planejamos. Fazemos um reconhecimento, encontramos uma saída, esperamos o momento certo e metemos o pé daqui. Porque eu te garanto uma coisa: se a gente ficar, é um caminho sem volta. Não me parece que dispensariam dois recrutas jovens e saudáveis tão facilmente.
— Nossa Senhora, Ev! Vira essa boca pra lá. Eu não posso pensar, nem por um segundo, em ficar por aqui. Eu não sei como anda a situação com seus pais, mas eu sei que minha mãe é tudo que me resta. E eu sou tudo que resta a ela — os lábios de Elena tremiam a cada sílaba. — Dar uma de soldadinho na Guerra XYZ desses marcianos de araque tá fora de cogitação.
"Eu não quero ser responsável pelo fim da única família que eu tenho. Se eu continuar sumida, o que vai acontecer, hein? Eu vou virar mais uma entre os milhares de desaparecidos que vão parar no jornal de meio-dia? Ou minha mãe vai pensar que eu fui dessa pruma melhor e morrer do coração igual ao meu pai?"
Evan agitou as mãos para baixo, pedindo-lhe, com o gesto, que se acalmasse. Causar uma cena e atrair atenção seria pior para eles.
— Nada disso acontecerá, ok?
— Sim, você tá certo. Não acontecerá... porque eu cansei de esperar! Estou indo lá agora pra tirar satisfações e exigir que nos mandem de volta. Nem gaste energia tentando me impedir. — Elena foi embora, resmungando e pisando forte.
Ela pensou que as coisas não poderiam ficar piores. O pensamento, no entanto, era apenas um chamariz para desfechos ruins. Na ficção também era assim. Bastava o protagonista ousar ter pensamentos bons para descobrir que o buraco é mais embaixo.
Chegando à lateral do palanque, onde os treinadores se agrupavam, Elena cutucou o ombro da capitã, que estava de costas para ela.
— Pois não? — Zoya girou sobre o eixo do seu corpo em um movimento preciso e não fragmentado.
— Zoya, certo? — perguntou, receosa, retraindo-se diante da severidade e imponência da capitã. A rawine confirmou. — Zoya, houve um tremendo mal-entendido. Eu não me alistei em lugar algum e não me lembro de ter recebido essa tal convocação também. Vocês trouxeram a mulher errada. E eu vim até você pra solucionar esse problema. Eu preciso voltar pra casa.
— Incorreto. Não houve qualquer tipo de mal-entendido. Veja por si mesma: — ela mostrou-lhe a tela de um tablet feito de material translúcido — esta é a sua ficha. Como pode ver, estamos cientes de que você não se alistou. Mas você foi convocada e trazida até aqui por conta disso.
— Convocada, ok. — Mordeu os lábios. — Mas eu não posso recusar? — ela reformulou, suspeitando da natureza do problema: — Ninguém pode recusar?
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Planeta Luz
Ciencia Ficción+16 | Completo | Um acontecimento inusitado leva Elena à maior aventura de sua pacata vida: uma jornada ao Planeta Luz. Perdida neste incrível mundo, ela precisa se encontrar em meio ao caos e lutar contra forças desconhecidas. A força de Elena Fern...