19 || Tive um pesadelo

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⚠️ Conteúdo sensível: tortura,violência física/psicológica, maus-tratos/abuso infantil⚠️

"Por qualquer coisa são espancados, por um nada são castigados. O ódio se acumula dentro de todos eles."

— Jorge Amado, em "Capitães da areia"

— Jorge Amado, em "Capitães da areia"

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As noites eram iguais. Quentes, longas, turbulentas.

A despeito do cansaço, seu sono era interrompido pelos pesadelos recorrentes. Sempre foi assim. Sempre seria assim. Aquelas memórias jamais a abandonariam.

Como poderiam?

Testemunhava a pálida menina alta e magricela entrando em um pequeno jato acompanhada por duas brutamontes enviadas pela Cúpula. As tatuagens de corvo no dorso das mãos denunciavam que estavam à serviço do Braço de Ferro. Elas escoltaram-na até o local onde supostamente seria o teste de suas habilidades intelectuais sem dirigi-la palavra alguma.

O edifício no qual adentraram era igual aos outros prédios do governo: amplo, monocromático e gélido. Não soube se seus calafrios se originaram do medo ou da baixa temperatura. Os corredores estreitos davam acesso a múltiplas portas, que exalavam um odor forte de produto de limpeza.

No final do percurso, uma porta automática se abriu. Empurraram-na para a sua provação.

Degringolou no chão, se deparando com um cenário desértico. Dunas vermelhas e algo que simulava um sol escaldante a recepcionaram. Seus pés afundaram na areia quente prontamente.

Logo, um show cuja única audiência eram os representantes da Cúpula da Staat de Platz 14 — que a observavam do camarote no outro lado da sala, através de uma ampla janela de vidro — começaria.

Um homem vestindo o uniforme azul escuro do Braço de Ferro, segurando um chicote ramificado igual a um açoite romano e coberto de apêndices metálicos, surgiu atrás dela. Sua reação instantânea foi querer virar-se. Nesse ínterim entre a chegada dele e o início do movimento de seu corpo, algemas ergueram-se do meio da areia como serpentes a dar um bote e fecharam-se em seus punhos. Forçada a permanecer naquela posição, não poderia correr do seu destino.

A ingenuidade provou-se uma de suas piores inimigas. Não seria submetida a teste algum. Se houvesse uma prova por trás daquilo, seria sobreviver a um massacre programado.

Ao primeiro golpe, trincou os dentes para não gritar de dor e dar à Cúpula o prazer de ouvir o seu lamento. A música do chicote estalando virou uma constante. As chibatadas cumpriam seu propósito, provocavam uma dor lancinante que era reavivada em cada golpe certeiro.

Os metais rasgavam pele e roupa indiscriminadamente, deixando-as em frangalhos. À medida que ela tentava se mexer, esquivar-se dos golpes, os cabos de aço conectados à algema puxavam-na para baixo. Logo ela caiu de joelhos e não demorou a estatelar-se com o rosto no chão.

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