Um nome. Bastou um nome para a paz se retirar dali. Assim o pesadelo começou: com um sonoro "Elena Fernandes" tão inexpressivo quanto os demais nomes citados por Zoya.
A divisão dos destacamentos ocorrera dentro dos conformes até Elena surgir na conversa. À medida em que Zoya designava os membros das subunidades, as reações variavam entre frustração e satisfação. Ao chegar na vez de Elena, o silêncio sepulcral que se instalou na sala foi a única reação.
A maioria dos soldados de primeira viagem fora escalada para compor unidades de suporte ou fazer parte pelotões da retaguarda. A minoria, composta por uma única terráquea, foi designada a um grupo seleto de Forças Especiais.
É uma pegadinha, Elena quis se convencer. Não fazia sentido. Tinha de ser uma brincadeira de mau gosto.
A escolha de Luuk, das fadas e de Mille foram óbvias. Era o que se esperava de alguém com mais de um neurônio funcionante.
Tico e Teco, apesar de se engalfinharem ora sim ora não, eram escolhas lógicas. Kai, a enciclopédia viva com domínio das tecnologias, e Hujo, o engenheiro aeroespacial com uma memória invejável, viriam a calhar em situações de emergência.
Até mesmo Evan, em seu estado lastimável, fora uma boa adição. O terráqueo tinha experiência de mais e juízo de menos, entretanto, alguém que se arriscaria para salvar um colega, independentemente da natureza do perigo, era um item raro. Zoya não se permitiria dormir no ponto e deixá-lo passar batido por conta de um desentendimento com um superior.
Elena era um caso à parte. Ainda que esquadrinhasse cada instante do processo de treinamento em busca de potencial — algo que ela possuía —, não se encontraria embasamento suficiente para arrastar alguém com 50,8% de aproveitamento e incluir em um grupo de alto padrão.
Elena era uma pessoa decente, trabalhadora, que não tinha vergonha de lutar pelo que acreditava, nem levava desaforo para casa. Dito isso, caráter definitivamente não se configurava como pré-requisito para ser um bom soldado.
Fazer parte das Forças Especiais não era brincadeira. Como unidade de elite, deveriam planejar e executar operações, missões de alta complexidade, estratégia e até mesmo prestar assistência às tropas. Armamentos avançados e melhor treinamento, teoricamente, capacitariam os soldados para tais ações. Possuir um bom coração era algo dispensável — por vezes, indesejável. Pessoas como Elena, ao entrarem neste jogo sádico, são destroçadas.
Todos o sabiam. Desta feita, permaneciam atônitos. Por sua vez, Zoya, no ápice da indiferença, continuava determinando as colocações sem se abalar.
Os Conselheiros se entreolhavam. A humana era uma espécie de subcelebridade entre a microssociedade "escondida" atrás dos muros da cidadela real desde o alvoroço causado pela simples presença dela em Batasuna. Então, acontecera de novo. Outra escalação no mínimo suspeita, acompanhada pela onda de desconfiança e estranheza que inundava o cômodo.
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O rei travara em uma pose rígida e nada natural, tão inanimado quanto o cadeirão no qual se sentava. Isto preocupara Namrud, que saiu do personagem para demonstrar preocupação com o pai. Divergiam no modo de pensar e agir, no entanto, tinham muito em comum — principalmente perdas. Amavam um ao outro também. E, por tanto amá-lo, Namrud detestava quando o pai se prestava a ser o palhaço do circo armado pelo Conselho. Não fosse pela insistência de Reuben, ele estaria bem longe daquele "respeitável público".
Marcar presença em um evento que celebra os homens e mulheres responsáveis por executar os feitos que ele mais despreza o diminuía em vários níveis, de moral à vaidade. Todavia, Namrud, às vezes, acatava os pedidos do pai e dava as caras nos eventos reais que, segundo ele, festejavam a morte.
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Planeta Luz
Science Fiction+16 | Completo | Um acontecimento inusitado leva Elena à maior aventura de sua pacata vida: uma jornada ao Planeta Luz. Perdida neste incrível mundo, ela precisa se encontrar em meio ao caos e lutar contra forças desconhecidas. A força de Elena Fern...