Acidentes acontecem

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Brasil, São Salvador/DF5 de julho, 2081 D

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Brasil, São Salvador/DF
5 de julho, 2081 D.C. – 7 minutos antes do acidente

No ponto de ônibus, duas figuras caricatas a esperavam. Disfarçados de turistas, com direito a chapéus de palha e câmeras fotográficas penduradas no pescoço, os soldados eutsianos constantemente se entreolhavam e consultavam as horas. Precisavam transportar a recruta Elena Fernandes, mas a moça não aparecera até o momento.

Quando consideraram buscá-la no endereço listado como a residência dela, perceberam que (finalmente) ela estava chegando.

— Keziah — a mulher se virou —, tem certeza que é ela? — o homem perguntou para a mulher que estava sentada ao seu lado.

— Óbvio que tenho. Acha que nos enviariam até esse mundinho de quinta categoria se não fosse por conta de gente importante?

— Não sei — confessou. — Quer dizer, olhe como ela corre... Espero que seja só a preocupação com o atraso. Aliás, se ela tivesse aparecido exatamente no horário que nos informaram, já estaríamos em casa.

Os soldados olhavam atentamente na direção de Elena, que corria esbaforida e eventualmente esbarrava nos outros pedestres. Ela parecia completamente fora de si. Focava-se apenas no ônibus que se aproximava do ponto.

Desviaram-se do veículo antes que o mesmo tirasse Elena de seus campos de vista. Ela continuava correndo, alheia a tudo. Eles, no entanto, como soldados treinados, tinham uma visão panorâmica aguçada e viram o carro que logo colidiria com a moça. Sabiam que não era possível que freasse completamente.

— E lá se vai nossa abordagem formal... — falou entredentes.

— Deixe de reclamar e ajuste as coordenadas. Ande! — empurrou-lhe o aparelho de teletransporte portátil que havia retirado da bolsa de praia. — Eu acompanharei a garota.

— Por que você sempre com a parte fácil? — questionou-a, enquanto fazia os últimos ajustes. — Eu tenho que travar um alvo em movimento e torcer pra garota não chegar lá com umas moléculas a menos enquanto você recebe biscoito dos oficiais. Parece justo?

— Como você tá chato hoje! — desviou o olhar de Elena por alguns segundos para o repreender.

Nesse ínterim, ouviu-se a freada abrupta do carro e os gritos dos transeuntes. Elena tivera a perna atingida e a fração de tempo hábil para intervirem era limitadíssima.

— Agora! — a mulher gritou.

O outro soldado apontou um aparelho, semelhante à um radar de velocidade portátil. Dele saiu um feixe de fótons que a atingiu quando ela saiu do chão. Conseguira alcançá-la antes de o estrago ser maior e respirou aliviado.

— Conseguimos! — a mulher comemorou com um sorriso orgulhoso.

— Eu consegui, você quis dizer — limpou o suor da testa. — Já que você vai ficar no bem bom, me faça um favor. Peça para mandarem uma equipe pra arrumar a bagunça, ok? Não tenho como dar conta de toda essa gente.

Ela olhou para os arredores. O motorista desmaiado pelo impacto do airbag e as pessoas se aglomerando junto a ele, perguntando-se sobre a mulher atropelada que desaparecera diante de seus olhos, eram um péssimo sinal. Daquela vez não seria elogiada pelos superiores.

— Pelo menos a gente não ficou com o bêbado — deu de ombros, tentando parecer otimista. — Micah me contou que teve de carregar o outro terráqueo nas costas e ainda remendou os cortes dele.

— Eu não me importaria. Fiquei sabendo que ele é uma gracinha.

— Você não presta, Amos! — ela riu, balançando a cabeça.

O soldado voltou seu olhar para os terráqueos confusos e franziu o cenho.

— É uma pena precisar mexer com a cabeça de tanta gente. Será que eles ficarão com as mesmas sequelas que as cobaias?

— Por Lux, homem! São só alguns flashes e pesadelos, não é o fim do mundo — suspirou, exaurida. — Até logo, resmungão! — puxou um medalhão, antes coberto pela sua camisa, no qual uma lua crescente envolvia um sol e pressionou o indicador no centro dele. Com isso, desmaterializou-se.

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Reino de Eutsi
1º dia de Pelagus, 13933 Anno Lucidum (A. L.) – depois do acidente

Reapareceu em Eutsi, junto à Elena. Precisou chamar a equipe médica para sedá-la imediatamente e consolidar as fraturas antes de enviá-la à ilha Begiak, onde se localizava o Centro de Treinamento. A anestesia dela foi potente, de longa duração — o que tornou a jornada tranquila — e Keziah pôde deixa-la ao lado dos outros, naquele chão frio em que depositavam os recrutas.

Quem visse de longe consideraria desrespeitoso. Dir-se-ia que os despejavam como cadáveres em um instituto de perícia, mas não se tratava disso.

O ato não partia de desleixo ou desrespeito. Era um ritual. Todo soldado que ingressava no exército eutsiano sabia dos riscos que corria, da alta probabilidade de cair morto e alimentar o solo. Por isso, era preciso se lembrar que do pó vieram e ao pó voltariam.

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Olár, amigles. Decidi falar um pouco sobre o acidente da Elena e fazer uma referência à "abdução" do Evan. Espero que tenham gostado. Não esqueçam de deixar a estrelinha e comentar, ajuda muito a tia aqui ❤✨

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(768 palavras)

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