67 || Só o pó

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O barulho de preces silenciosas preenchia o deck. Ninguém — exceto Luuk, com seu otimismo surreal e o embevecimento de ser amado — transparecia segurança. Voavam alto, quilômetros e quilômetros acima das nuvens. Incógnitos — assim esperavam.

A nave dispunha apenas de analógicos. As turbinas eram discretas, emitiam um ruído quase imperceptível. O dispositivo de camuflagem, em teoria, garantiria um voo tranquilo. Todavia, nenhum destes servia como garantia de sucesso.

Torciam para aquelas medidas de precaução serem o suficiente, ao menos para permanecerem indetectáveis enquanto atravessassem as fronteira. Não precisavam de guardas ao seu encalço tão precocemente.

Guardas os perseguindo em outras naves, de fato, evitaram. A estrela cadente vindo na direção deles fora inevitável. Quando fora detectada, já era tarde demais. Hujo amenizara o impacto do míssil com uma manobra evasiva. Entretanto, era engenheiro, não milagreiro.

CABUM! Ouviu-se o estrondo, como nas histórias em quadrinhos. Mau funcionamento, pulsava o alerta no painel de controle. Hujo fazia o possível para mantê-los em voo. Conseguira ganhar tempo para pousarem no sentido oposto ao do lançamento do projétil. O pouso, por sua vez, não fora amigável.

Aos trancos e barrancos, com direito a todos apertando a PQP — alças de segurança dos assentos da nave semelhante à do banco de passageiro dos automóveis da Terra —, pousaram em um aterro sanitário nos arredores da capital. O bipe do painel ainda cantava, cabos de energia expostos faiscavam, a turbina direita fumaçava, perda total. Perderam também o jeito fácil de bater em retirada.

Desceram da nave com a calma de quem escapa um estabelecimento em chamas: nenhuma. Com a escada de emergência consumida pelo fogo, as fadas desembarcaram os demais na velocidade da luz. Ninguém esperaria a bomba-relógio explodir. Tendo abandonado a nave, dispararam para longe dali.

Neve amarronzada, contaminada pelo chorume, recobria o solo e demarcava seus passos, deixando um inconveniente rastro que precisava ser apagado no ritmo do seu avanço. O lugar era pouco vigiado. Raras câmeras. Ocasionalmente precisaram se esconder atrás das pilhas de detritos. O único guarda cochilava na guarita, de frente para as câmeras, como se pudesse monitorá-las de olhos fechados.

Fácil demais, pensou Zoya. Após tanta comoção, os erorianos — até então com a mão pesada sobre as armas — não aliviariam para o lado deles e nem precisaram de ajuda para segurar a barra que era enfrentá-los. A capitã mantivera-se à frente do grupo, desconfiada, com olhos na nuca. Mesmo depois de saírem dali, um alerta ecoava em sua mente. Havia algo de errado. Errado. Errado. Errado.

Erori, Eumin

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Erori, Eumin

13933 A. L. – 10h pós-Lunaris

Ainda sem sinais de soldados inimigos ou da patrulha da cidade, nem sequer tendo sombras atrás deles, seguiram o fluxo do movimento local. Tinham adentrado em um caricato bairro cyberpunk, onde a modernidade, os prédios altos e letreiros brilhantes, dividiam espaço com os becos escuros nos quais ocorriam trocas escusas (ou vendas ilícitas).

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