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  Não sei para onde estou olhando nesse momento. Sei apenas que não estou na Terra.

  Devo estar em qualquer outra dimensão, onde qualquer merda é gatilho suficiente para lembrar da noite simplesmente maravilhosa que tive ontem. Nem sinto minha bunda na cadeira.

  E, por mais que minha seriedade tome conta da minha cara cerca de 24 horas por dia, não paro de sorrir que nem uma idiota olhando as unhas de Jihyo batendo impacientes na mesa do caixa.

  Espera, as unhas de quem?

  Um estalo de seus dedos perto dos meus olhos me dá um susto tão grande que quase caio da cadeira.

  - Yeonji do céu... - Jihyo me fita intrigada. Ainda não me recuperei do meu transe, o que me faz ficar encarando a morena à minha frente, boquiaberta, até lembrar em que realidade estou. - Você 'tá bem?

  Analiso muito bem a pergunta. Sei que não importa o quanto eu esteja bem pra caralho, a minha cara faz parecer que cheirei uma carreira de...

  - Estou bem, melhor impossível. - respondo, antes de estalar seus dedos na minha cara novamente.

  A expressão confusa de Jihyo dá lugar a um sorrisinho malvado.

  - Você deu ontem, não foi? - ela é direta, até demais.

  Minha dicção falha completamente.

  - Espe-pe... c-como...

  - Você é meio óbvia, às vezes. - ela não me espera terminar de gaguejar para comentar. Se senta com certa agressividade em sua cadeira, em frente a minha.

  Falta cinco minutos para o supermercado abrir, e não há ninguém na porta aguardando para entrar, o que nos dá tempo para conversarmos um pouco antes de começar o trabalho pesado. Jihyo se vira para mim forçando um sorriso. Começo a ficar preocupada.

  - E você, obviamente teve uma péssima noite...

  Ela balança a cabeça, sinalizando para não me preocupar. Só que estou de humor bom o suficiente para poder insistir.

  - Não vai m...

  - Foi bom? - ela se desvencilha rapidamente da pergunta, me fazendo semicerrar os olhos em sua direção. Jihyo não obtém reação e continua insistindo no meu assunto. - Ou foi ruim...

  - Jihyo, não quer contar mesmo? - começo a ficar séria, desviando-me de seus olhos. Foco em arrumar outras coisas como arrumar minha mesa, até Jihyo desembuxar:

  - Briguei com meu namorado. - ela solta depois de bufar.

  - De novo? - me volto para ela, encostando meus cotovelos na mesa, me inclinando em sua direção.

  - É... - indaga triste. - É sempre por umas coisas idiotas. Não sei porquê sempre termina em uma discussão enorme.

  - Como assim? - a convenço-a a continuar. - Qual foi a razão da última briga?

  Jihyo desvia o olhar por um breve momento, pensando. Deve estar se perguntando se deve ou não contar para mim.

  Tento encostar em seu braço, mas está muito longe, então volto para o meu lugar fingindo que nada aconteceu.

  - Estávamos vendo os noticiários, ontem, quando de repente passou uma reportagem sobre a bolsa de valores. - ela começa. Tento raciocinar tudo, detalhe por detalhe. - Então ele começou a comentar sobre o quanto o capitalismo é necessário, e eu, claramente discordando. Quando vi, já estávamos falando sobre direitos humanos.

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