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        JungKook pov.

  A chuva não parou um segundo desde que entramos no hospital. Mas já não desce tão intensa, observando pelo vidro da janela do carro clássico de Roseanne.

  O clima não fica tão estranho já que Jimin e Roseanne, nos bancos da frente, não param de discutir sobre coisas sem sentido como "porque o vestido da Peppa Pig influencia a vida profissional dela". E confesso, preciso concordar com os argumentos de Roseanne. Ela é muito boa nesses casos.

  A parte ruim é que o banco de trás fica quase totalmente em silêncio. Heyoon às vezes balbucia sílabas, e eu complemento coisas que concordo na conversa do casal. Só Yeonji que não diz nada. Ela se inclina para deitar sobre o bebê conforto de Hey, brincando com as mãozinhas dela em silêncio. Às vezes sorri, mas na maioria fica com um semblante cansado.

  É errado reprimir coisas que estou sentindo, e por mais que eu me condene, não posso deixar de me preocupar com ela. No quê eu tornei a vida dela. E a falta de compreensão de demais pessoas.

  Me viro, analisando a si, e essa situação toda. Eu poderia não estar encarando essa Yeonji em estado crítico se tivesse dito, pelo menos, um "Vamos sentar, e conversar" há alguns anos atrás. Mas o Jeon daquela época não entendia o sentido dessas palavras. E isso foi o suficiente para transformar a vida de alguém em um inferno. A vida de alguém que não merecia. De alguém que eu realmente gostava.

  De alguém que ainda gosto.

  Suspiro, não conseguindo mais tentar me convencer do contrário. Já tem um tempo que sufoquei esse sentimento, porque não sei lidar muito bem com eles. E depois de muitas conversas com minha mãe sobre esse assunto, cheguei na conclusão que não parei de gostar de Yeonji... desde aquela época.

  E estraguei tudo. Porque não entendi o quê estava acontecendo.

  Mas entendo agora. E confirmo quando Yeonji ergue seu olhar para mim, dando um sorriso mínimo. Em agradecimento, mesmo que eu não tenha feito mais que minha obrigação. Ou para apenas dizer que está tudo bem, quando eu sei que não está.

  Retribuo o sorriso, a vendo cortar o contato visual quando volta para aproveitar seu momento com sua filha. Continuo atento à qualquer sinal. Ela passou por uma situação difícil, e ainda está vulnerável. Consigo ver o medo em seus olhos, de que qualquer sintoma de antes volte. Mas não vai.

  Reconheci rápido dessa vez. Já tinha presenciado uns ataques de pânico da minha mãe, e só comecei a saber o que fazer depois de muita prática. Por sorte, eu estava no lugar certo quando o caso foi Yeonji. Não sei se algum deles poderia ter idéia de como ajudar. Muito menos Taehyung.

  Pensar no atual de Yeonji sempre me dá uma certa ânsia. Desde sempre ouvi falar dos Kim, e vê-los de perto não me impressiona. Não se envolvem em polêmicas profissionais porque são bem rígidos. Até com os filhos. Por isso Taehyung é tão bruto e controlador. Esse foi o tipo de amor que apresentaram a ele. O que não dá certo, visto de todos os relacionamentos amorosos fracassados do mesmo. E está à beira de outro também.

  Não sei se é errado dizer que estou observando as reações de Yeonji ao relacionamento tóxico em que vive. Não preciso de muito esforço para ver que não está satisfeita com isso tudo, mas que ainda se prende à ele. Acho que na cabeça dela, precisa dele. Quando está completamente errada. Está testando seus limites por muita pouca coisa.

  Fico incomodado com essa situação, como Roseanne fica, como Jimin fica, mas por uma motivação quase diferente. Yeonji está se privando de uma coisa que ela realmente mereça, por um sentimento quase não recíproco. Seria ótimo ela pudesse entender que merece coisa melhor.

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