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  Nem conto mais quantas vezes ouvi esse celular tocar, mesmo que ignore. Não aguento mais esse barulho, por isso saí do quarto.

  Eu tive a sorte grande de poder ser liberado pelo psicólogo hoje, apenas para descansar. O que não faz sentido, mas cumpro mesmo assim. Só que, é claro, não mentalmente.

  Nem fisicamente, já que é o quarto toco de cigarro que apago, quando pego outro para acender. Me acalma, mesmo que não me ajude a pensar direito.

  Penso em cinquenta maneiras diferentes de pedir desculpas para Yeonji sem que eu tenha cara de palhaço. Mesmo que não tenha feito nada que mereça esse seu gelo.

  "Ela não disse que você não poderia ir na casa dela. A história tem dois lados." A frase de Jimin volta na minha cabeça, toda vez que ouso pensar nessa questão.

  Grunho, quando dou uma bela tragada no cigarro. Não sei porquê isso me incomoda tanto. Tenho mil e uma coisas para pensar sobre o trabalho enquanto observo o céu nessa tarde fria. Mas não. Os problemas pessoais sempre tomam conta da minha cabeça.

  O sol se põe aos poucos, mas quase não dá para ver o céu infestado de nuvens, e a água da piscina é tão gelada que não consigo molhar nem as pontas dos dedos. Queria poder entrar nela, mas hipotermia com cigarro não é algo prazeroso. É fatal, na verdade.

  Sinto muita a falta de Yeonji, de todas as formas. Principalmente de quando bufa brava sempre fumo perto dela. Se estivesse aqui, estaria do meu lado, citando todas as coisas péssimas que o cigarro pode fazer comigo. Me irritando, mas não calaria, acho fofo seu jeito de se preocupar.

  Yeonji não é do tipo que fala que se preocupa. É do tipo que demonstra, do seu próprio jeito. Se eu estivesse passando mal, iria me recomendar uns remédios que não tenho idéia do que sejam, e seria prazeroso apenas ouvir seus conselhos.

  Suspiro pesado, lembrando da última vez que fumei perto de uma piscina. Yeonji jogou o cigarro quase intacto na água. Foi trágico na hora, mas foi engraçado.

  Só que, não tem nada de engraçado agora.

  Jennie foi a única que conseguiu arrancar um sorriso sincero de mim essa semana. O que me faz lembrar da nossa conversa de dois dias atrás. Passei mal no final daquele dia, no entanto, foi consideravelmente melhor do que todos os outros.

  Minha cabeça não dói tanto quando penso nela, só fico meio confuso diante de tudo que aconteceu. Esperaria uma explicação melhor de "simplesmente nos conhecemos" para meu pai ter me roubado a primeira garota que amei na vida. Precisava arrancar isso dela. Principalmente, porque não entendi como foi que terminamos.

  Tudo aconteceu tão rápido. 6 anos deveriam me fazer esquecer, mas não. Algo me incomoda dentro do meu peito, e tento ignorar mais que tudo. Não quero sentir tudo aquilo de novo. Eu deveria estar satisfeito com minha vida agora.

  E a prova de que não estou é como me encontro, e onde me encontro. Acabado. Cansado sem fazer nada. Com medo de perder pessoas, e mesmo assim, não fazendo nada para impedir.

  Eu me tornei um lixo. Um fracassado. Sem nada conquistado. Nada que realmente é meu. Como Yeon disse, eu sou herdeiro. Eu não mereço tudo que tenho. Simplesmente nasci assim. Sou um sortudo fodido. Igual JungKook.

  O pensamento sobre Jeon me faz rir. Chega a ser até ridículo toda vez que penso nele. Quase toda hora, para ser exato. Meu psicólogo disse que não é saudável, e me fez um monte de perguntas sobre. E sempre me perco nas respostas, me imaginando colocando as mãos naquele pescoço, acabando de vez com tudo o que me impede de ser feliz. Eu sempre pareço maligno nesses pensamentos. Parece até que sou eu o vilão da história.

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