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  20:15.

  E nada.

  Há quase quatro horas que estou esperando Taehyung, e não ouço nada.

  Acho que isso tudo foi em vão.

  Encaro o teto, raciocinando um pouco, tentando me distrair da minha própria solidão, mas apenas piora.

  O vestido preto de tubinho que eu guardei aperta no quadril, mas me recuso à tirar ele. Eu sei que Taehyung vai vir. Ele não pode faltar, não é?

  Vou esperar, então.

  Espero.

  Me levanto e faço um chá de camomila que eu havia guardado no fundo do armário, e volto para a sala. Paro para ver a vista e me apoio na janela.

  Foi dessa mesma janela que vi Taehyung chegar várias vezes para fazer absolutamente nada na minha casa. Mas não vejo com a mesma frequência de antes.

  O barulho do relógio de parede me faz o encarar. 21:37.

  - Eu me odeio. - suspiro e saio da janela, ponho a xícara de chá na pia e vou para o quarto.

  Já no quarto, encaro o espelho. Já não é a mesma 'gostosa' que Rosé havia falado, e sim, a Yeonji idiota que não sabe fazer nada da vida à não ser se deprimir e se fechar para as pessoas.

  Quando sinto, as lágrimas já caem dos meus olhos, e fica pesado demais respirar nesse vestido.

  O arranco do meu corpo, relaxando algumas partes do tecido, mas já não me importo. Então, me viro de costas para os espelho, já enxerguei o suficiente. Arranco o primeiro moletom do armário e um calção de dormir.
 
  Respiro fundo em cada passo, sentindo saudade da época que eu me preocupava apenas com um emprego. Cada lágrima é uma lembrança.

  Sinto como se minha casa tivesse apenas o chão. Sem móveis, sem luz, sem comida, sem Heyoon... Taehyung. Nada. Então me encolho no canto da sala, e já não posso mais conter os soluços.

  Tudo o que tenho evitado vem à tona. Meu pai, minha mãe e como ela pode estar vivendo, sendo que conhece apenas bebidas e homens que pegam seu dinheiro. A escola e todas as oportunidades que eu perdi por causa da maldita timidez.

  Jungkook também me vem à mente. Sua insensibilidade, e seu medo de ter responsabilidade pelo menos uma vez na vida. Talvez eu deveria ter abortado, assim Heyoon não teria que passar por uma vida com uma mãe desequilibrada que faz de algo tão simples, um gatilho enorme. Ela merecia alguém melhor.

  Taehyung é o último, e o que mais me atinge. Desde o começo do namoro, parece que está desandando. E tudo por causa do pai dele. Dói mais pensar que não teve coragem de me dizer o que aconteceu.

  Dói pensar que ele não confia em mim.

  - Não, não. Ela vai vir só mais tarde. - um murmúrio familiar abafa o som do choro, seguido pela porta sendo destrancada.

  Rosie para na porta, com uma caixa numa mão, e Heyoon em outra. Está quase tão surpresa quanto eu, mas pisca do mesmo jeito.

  - Yeonji...

  - Rosé. - consigo sorrir ladino, mesmo com toda dor. Jimin aparece logo depois, e também para por um momento ao me ver encolhida no chão.

  - O que aconteceu?! - ela resmunga, enquanto se recupera da surpresa. Jimin também parece transparecer a mesma dúvida.

  Tento respirar por um momento, recuperando a fala.

  - Acho que Taehyung acabou se esquecendo. - meu rosto se esquenta ao dizer isso. Não consigo segurar e as lágrimas descem de novo.

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