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  Não tem como voltar atrás.

   Minhas unhas estão todas destroçadas de tanto que as mordo. Tae quase não repara meu nervosismo.

  - Quer uma água com gás? - ele aponta para a garrafa no porta copos. A pego sem nem pensar.

  - Tem limão?

  - Tem. - assente sorrindo, se virando para observar meus goles exagerados na bebida.

  Mas isso não me acalma.

  Me arrependo um trilhão de vezes de ter aceitado ir nesse encontro. A porra da semana passou tão rápido que questiono se o Universo me odeia. É ele me odeia.

  Só consegui dormir nessa porra por causa do efeito do anticoncepcional, mesmo assim, acordei três horas da manhã hoje para tomar meu chá de camomila. Lembro que tenho que comprar uma caixinha de sachês amanhã. Chás me acalmam, na medida do possível.

  Meu estômago embrulha de nervosismo, sinto náuseas desde que entrei nesse carro. Heyoon lá atrás no bebê conforto come um biscoito de pão que ela gosta de mastigar. A observo, pensando em como escondê-la.

  "Você não vai nem botar os olhos em Heyoon, Jeon!". E a vida me fez de palhaça mais uma vez.

  - Porra... - solto enquanto faço vômito para o lado de fora da janela. O vento na minha cara também me dá um tapa.

  - Yeonji, você está bem? - Tae começa a estranhar meu estado. Meu medo de cagar na calça só aumenta.

  - Estou... - minto com a voz pesada. Recosto minha cabeça no painel do carro.

  - Tem... certeza?

  - Sim. - minto de novo. Minha vida é uma mentira.

  E fica um silêncio enquanto meu estômago embrulha. Taehyung me paga.

  - Ah, já entendi... - ele murmura de repente. Me viro para o mesmo tentando consertar minha postura. Aperto os olhos antes de perguntar:

  - O quê?

  - Você tem medo de parque de diversões! - ele se vira para mim com um sorriso amplo. Afirma isso com tanta confiança que chego a conclusão: Taehyung é mais lerdo do que eu.

  Mas vejo uma oportunidade.

  - É... - minto, novamente.

  A risada que ele solta a seguir me irrita e me conforta ao mesmo tempo. Arregalo os olhos para me concentrar em não explodir.

  - Tipo, você tem medo dos brinquedos? - ele pergunta. - Porque lá também tem as feirinhas, onde dá para comprar algumas coisas. E também tem aqueles negócios de, tipo, tiro ao alvo.

  Eu acho tão fofo o modo em que Tae tenta me consolar, que quase esqueço de toda a merda que vai acontecer.

  - Acho que dá para ganhar um daqueles ursos de pelúcia, de graça. - ele sorri fofo. - Se você não quiser, não precisamos ir naqueles brinquedos grandes.

  - E também não quero chegar perto dos palhaços. - ressalto, lembrando do meu próprio medo. Pelo menos não menti nisso.

  Tae ri.

  - Então não vamos chegar perto deles.

  Isso me consola, bastante.

  - Ah, olha ali! - Tae aponta para fora do carro. Acompanho sua visão para me arrepender logo depois.

  E de repente, meu medo volta por completo. Quanto mais o Lotte World cresce enquanto chegamos mais perto, mais rápido meu coração pulsa. As luzes do parque de diversões piscam igual o meu cu.

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