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  - É aqui. - suspiro ao apontar para o enorme portão. Encaro a pintura nova do muro, parece mais sério do que realmente histórico. Reformaram esse lugar, é claro, depois de dois anos com isso caindo aos pedaços. Faz um tempo que não passo aqui.

  - Tem certeza? - JungKook inclina sua cabeça ao mudar sua expressão para pura apreensão, quando encara o lugar. - Você não disse que iríamos em um cemitério.

  - Eu quem vou entrar lá, JungKook. - franzo as sobrancelhas para sua pergunta. Consigo ver claramente a preocupação em seu olhar.

  - Ah, sim. - ele engole a saliva ao olhar para frente, fazendo uma expressão pensativa. - E eu vou ficar aqui para fora, sozinho?

  - Sim, por quê? - me confundo com seu rosto apreensivo, que alterna seu olhar entre mim e o portão do cemitério. - Está com medo?

  - Não, de forma alguma! Você está com medo? - ele nega de uma forma nada convincente, me fazendo sorrir de lado. Ele não sabe o quanto fica fofinho jogando seu medo para mim.

  - Eu não vim perturbar nenhum morto, JungKook. - rolo os olhos ao voltar meu olhar para o local. Observo por um tempo a entrada desse lugar com o coração pesado. Espero mesmo que não esteja incomodando. - Pode ficar aqui, nenhuma alma penada vai te arrastar até o inferno.

  Tento achar um pouco de graça dessa situação toda ao provocar JungKook. E seu rosto desanimado, realmente, me faz sorrir em meio aos dias difíceis que tenho passado.

  - Nem um pouco exagerada. - retiro uma mecha de franja da minha testa ao fingir indiferença à sua frase. - Não conhecia esse seu lado místico.

  - Ah, não queira. - acreditar em espírito é a pior coisa que poderia me acontecer. Pelo menos, não me faz falar tanta merda quanto já falo. Aprendi a não brincar com morte justamente com a pessoa que vim visitar.

  Retiro o cinto remendado da caminhonete velha ao me preparar para sair.

  - Você vai demorar? - preciso segurar meu suspiro com outra pergunta de JungKook.

  - Você faz perguntas demais.

  - Só estou preocupado que você queira ficar por lá. - sua brincadeira me faz rir. Eu não deveria achar graça, não depois de quase terem chamado a polícia da última vez que saí de casa.

  - Idiota. - sorrio, realmente enxergando sua preocupação ao me esticar até o banco de traz do carro, para pegar meu presente. - 15 minutos, no máximo.

  - Ok, tudo bem... última pergunta. - agora sim, bufo, achando idiota essa sua insistência ao sair do carro. Mas sorrio ao enxergar seu olhar curioso. - Qual é a da samambaia?

  - Era a planta preferida do meu pai. - sorrio ao bater a porta, observando apenas um vislumbre de sua expressão surpresa.

  Não está tão surpreso quanto eu, garanto. Foram dois anos completos sem visitar seu túmulo, com medo de sentir vergonha de conversar com ele antes, e depois do que minha vida se transformou. Mas parei de sentir culpa.

  Acho que não tenho nada a dever para a memória do meu pai. Muito menos sinto peso de ter feito algo errado enquanto encaro seu túmulo. A única coisa que sinto é pura saudade enquanto encaro a pedra. Aquela sensação de falta que sinto que nunca vai acabar em meu peito. E a certeza de que tudo estaria melhor se estivesse aqui, comigo, nesse momento tão difícil.

  Mas a vida não é da forma que eu quero. Aprendi isso da maneira mais cruel quando perdi meu pai. E ainda lido com isso de forma totalmente errada. Por isso que vim aqui. Sentir sua presença, mesmo somente em minha mente, talvez seja a luz para mim no meio disso tudo. Já que costumava dizer tudo à ele.

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