Amor e Ódio

Pontos cegos

Ela bateu uma vez na porta antes de deslizar através de uma pequena fresta entre a porta e o batente, fechando-a silenciosamente atras de si. O som da voz de Gilberto lhe disse que Thais realmente não estava exagerando. Fazia um tempo desde que Juliette o ouviu soar tão irritado.

- Compreendo isto completamente. – Ele olhou para cima e pressionou o dedo nos lábios como se para avisá-la para não dizer uma palavra. Juliette assentiu. – O que não compreendo é você acreditando que precisamos desta auditoria antes do prazo. Somente fazemos este tipo de auditoria a cada três anos. A última que fizemos tem dois. Você está sendo irracional.

- Não, não estou! Sou dono de uma grande parte das suas ações, Gilberto. Quero garantir que estamos seguindo as diretrizes que são estabelecidas pelos diversos órgãos governamentais. Eles irão forçar todo mundo a fazer a auditoria a cada dois anos começando no próximo ano. Estou lhe pedindo que adotemos isto antes. - A voz impaciente de um homem carregou através do viva-voz.

- E eu estou dizendo não. Estamos muito ocupados agora. Eu estava sobrecarregado durantes este últimos cinco meses, promovendo eventos para colocar a empresa em evidência na mídia e assim conseguir mais investidores enquanto o resto de vocês do conselho estava em seus iates. Não vai acontecer. Sei como administrar um negócio. Com muito sucesso, eu poderia acrescentar. – Gilberto respirou fundo. – Vou desligar, Caio. Conversaremos mais tarde, mas não sobre isso. Não vou discutir sobre isto novamente.

- Sim, você vai. Inferno, Gilberto! Só porque você começou a empresa não significa que só você tem as rédeas sobre ela agora. – A voz do homem era mordaz e um pouco mais exigente do que Juliette já tinha ouvido.

Que o estava acontecendo? Juliette se perguntou.

- Caio, você possui ações de uma subsidiária da minha empresa. Sou dono de cinquenta e um por cento desta subsidiária e mais sessenta e cinco da minha própria empresa. O resto das minhas ações é de propriedade de bilionários e investidores. Você não é um deles. Esta discussão acabou. Aprecie o seu dia. – Gilbert apertou um botão no telefone e olhou para cima, sua voz elevando-se de maneira significativa. – Aquele idiota pomposo está tentando me dizer como administrar a minha maldita empresa! Tenho algumas coisas para dizer para ele que precisa ser feito pessoalmente. Adotar cedo. Sim, ok... faremos isto e você apenas beba seus malditos martinis e fique sentado na praia enquanto torno todos vocês ricos!

Juliette atravessou a sala e diminuiu a distância entre eles.

- Está tudo bem, Gil. Ele não pode obrigá-lo a fazer nada, certo?

- Mais ou menos. – Gilberto deixou escapar um longo suspiro e esfregou a mão sobre a testa. – Odeio esse cara. Precisamos descobrir como lhe oferecer mais do que ele vale e nos livramos dele.

- O que posso fazer para ajudar?

- Não sei. A lista dos meus problemas só aumenta, se não bastasse Rodolfo agora isto. A lista apenas continua crescendo e crescendo, honestamente. Você conseguiu localizar João Luiz e a Viviane?

Juliette não se deu ao trabalho de mencionar que os encontrou jogando conversa fora na sala de descanso.

- Sim, estão a caminho.

A reunião seria com o Gilberto, João Luiz e Viviane Queiroz. Os dois últimos já estavam na sala do Gilberto a espera, os dois sentados no pequeno sofá que ocupava a parede esquerda na sala. Juliette escolheu a poltrona mais próxima para ocupar, assim deixando a outra para Gilberto, que por sua vez preferiu se manter em pé.

Ele explicou a situação do contrato e as suposições perante as atitudes de Rodolfo, Juliette não deixou passar despercebido o fato dele ter omitido a possível participação do Felipe. Assim também como relatou sobre a solicitação do Caio, um dos acionistas e membro do conselho, sobre a solicitação de uma auditoria.

Por mais que estivesse solidária com a situação do patrão, e amigo, ela não iria deixar com que nenhum ponto importante pudesse ser posto de fora para poupa-lo.

- Não podemos esquecer o Felipe, ele também está envolvido, até onde é o que nos resta descobrir. Claro, além de também saber o que eles estão planejando e tentar anular o quanto antes seja lá o que eles têm em mente. – Juliette encarou o amigo, lhe oferecendo um olhar de apoio.

- Sim. – Disse apenas, fazendo um breve aceno com a cabeça.

-Não sabemos ainda o que procurar, então devemos nos ater aos mínimos detalhes. A primeira tentativa foi o contrato, porém conseguir identificar que existia algo de errado os fazendo recuar. Porém acredito que esse recuou não foi uma desistência para o que eles estejam tramando. Pode parecer exagero, mas garanto que eles estão planejando algo contra a empresa. E a última conversa que tive só me fez ter certeza disto. – Disse Juliette

- Então preciso que vocês trabalhem em colaboração com a Juliette, certificando que não possuímos nenhuma ponta solta. Sua maior responsabilidade é a parte jurídica da empresa, mas isso não a coloca em desvantagem a vocês. Confie a ela está a frente de tudo, e isto vale para tudo. Então devem se juntar e verificar cada detalhe e repassarem para ela. – Gilberto olhou para cada um antes de continuar. – Não esqueçam que desejo que isso se manter entre as pessoas presentes nesta sala. Não quero causar alardes desnecessários, ainda mais neste momento em que estão todos de olhos na Vigor.

- Não sairá nada daqui senhor Gilberto. Cuidaremos para ser o mais discreto possível. – Garantiu Viviane.

Ele assentiu com a cabeça.

- Preciso que organize algumas coisas na contabilidade... – Iniciou Gilberto, agora se direcionando ao João Luiz.

- Estamos trabalhando nos saldos bancários para os arquivos fiscais. – Disse Joao, se antecipando.

- Bom. – Voltando sua atenção para Viviane continuou. - Comece a analisar as exigências governamentais que mencionei. Sei que você não estava aqui dois anos atrás quando nós as arquivamos, mas faça com que Thais puxe os arquivos e vamos pelo menos ver o que enfrentamos caso Caio convoque uma reunião do conselho e ganhe o voto sobre arquivamento precoce. – Gilberto rosnou baixo.

- Tudo bem. – Ela assentiu.

- Mais do que nunca, preciso que os três trabalhem em sincronia. E que cubram os pontos cegos onde eu não consigo vê-los sem que eu precise colocar toda a minha atenção nele. Preciso que vocês sejam a extensão de mim nesta empresa. Sei que o que estou pedindo vai além das suas funções, mas garanto que no final lembrarei de bonificá-los devidamente. Dei o sangue para fazer desta empresa o que ela é hoje, não hesitarei em fazer o mesmo para não deixar que nada abale.

- Conhecemos muito bem a história desta empresa, e acredito que falo por todos quando digo que também não mediremos esforços para mantê-la estável e segura, como ela está. – Disse Juliette.

Gilberto andou até a porta da sua sala.

- Por enquanto é isto.

Todos se levantaram, sentindo que a reunião estava finalizada. João Luiz e Viviane saíram imediatamente, porem Juliette se demorou um pouco mais.

- Certo. Avise-me se você precisar de alguma coisa. – Ela se virou para a porta.

Juliette estava falando, não só como sua funcionária, mas também como uma amiga.

- Um clone, e quem sabe um outro coração.

Juliette não respondeu da maneira que queria, pois, a porta estava aberta e ela não queria expor o lado pessoal do Gilberto na frente de outros funcionários. Ela realmente não respondeu.

Juliette ponderou sobre o chefe, e amigo. Gilberto tinha muitas coisas em seus ombros e com honestidade, ele não precisava dela como sua AP ou conselheira sênior. Ele precisava de um parceiro. Ela conversaria com ele sobre isso em breve e veria se não conseguiria persuadi-lo a conseguir um pouco de ajuda.

Após sair para o corredor, ela se voltou para Thais e encolheu os ombros.

- Bem, você estava certa. Ele está mal humorado. Então vá com calma ao entrar ali.

Juliette se virou para caminha pelo corredor até o seu escritório, mas Thais a impediu.

- Você está bem? Precisa que eu costure a sua cabeça de volta?