· Perspectiva de Sarah
Assim que voltou para a mesa sem Juliette, Sarah sabia que sua mãe não demoraria a aparecer. E como se o simples pensamento a tivesse invocado, Maaba se materializou ao seu lado, sentando-se na cadeira antes ocupada por Juliette apoiando a mão no encosto do seu assento diminuindo ainda mais a distância entre elas.
- Precisamos conversar. – Disse em tom baixo para que somente ela a escutasse na mesa.
Viviane já tinha retomado sua posição na mesa ao lado de João, ambos prestando a atenção ao que a cerimonialista dizia.
- Não é momento nem lugar para isto. – Sarah respondeu sem encara-la fingindo também estar prestando atenção ao palco.
- Você precisa me ouvir, eu só vim para poder explicar tudo. – Maaba insistiu. – Você não me atendeu, saiu sem deixar que eu te explicasse nada. Você não pode fazer isso comigo, filha. Aquelas coisas escritas ali não são totalmente a verdade, preciso que você acredite em mim. Eu te amo, filha, e não seria capaz de fazer nenhum mal a você. Eu não tive culpa, acredite em mim por favor.
- Não estamos sozinhas, como disse, esse não é o melhor momento para termos essa conversa. – Sarah a repreendeu.
Sarah deu uma breve olhada para Viviane e João, que ainda estavam direcionando toda a sua atenção para o palco.
- Podemos sair um pouco, procurar um local mais reservado. Eu só preciso que você me der alguns minutos para explicar tudo aquilo escritos nos papeis que você deixou para traz. Não é o que parece.
- E o que parece? – Sarah se vira pela primeira vez em sua direção.
- Só me deixe explicar, me der alguns minutos para fazer isso filha. É o que eu te peço. – Suplicou Maaba.
Sarah encarou a sua mãe por alguns segundos, ponderando se deveria ceder ao seu pedido. Ter aquela conversa lhe custaria muita energia, o que ela julgava não ter naquele momento. Ainda precisava se recarregar, ponderar tudo o que descobrirá antes de fato enfrentar a sua verdadeira origem.
Desviando o olhar, varreu o salão em busca de Juliette, ela tinha ido ao banheiro a um tempo considerável, pensou que talvez deveria ir atrás dela ao invés de dar ouvidos a mulher ao seu lado implorando por uma conversa a qual não se sentia confortável em ter.
Ela ainda não sabia o que sentia em relação a mulher que sempre chamou de mãe, não era capaz de decifra seus sentimentos e o que pensava sobre toda a sujeira que descobrira sobre o seu passado. Ter uma conversa de tamanha magnitude em meio a um evento com pessoas ao redor não lhe parecia algo muito convidativo.
- Eu estou te implorando, filha. Me dê só um minuto e prometo lhe deixar em paz depois disso. – Maaba chamou novamente sua atenção.
Sarah nunca tinha presenciado sua mãe tão submissa, ela sempre exercia sua autoridade de mãe quando queria algo. Vê-la implorando pela primeira vez, surpreendeu Sarah. Aquela mulher não era a Maaba que conhecia.
- Tudo bem. – Cedeu.
- Obrigada. – Maaba deu um sorriso fraco mais repleto de gratidão.
Chamando a atenção de Viviane, Sarah disse.
- Quando Juliette retornar pode avisa-la que estou com a minha... – Sarah fez uma pequena pausa ao olhar para Maaba. – Que não demoro. – Disse por fim voltando a olhar para Viviane.
- Digo sim.
- Obrigada.
Sarah se levantou e Maaba repetiu seu movimento logo em seguida trazendo sua bolsa consigo. Foram para uma área destinada a descanso do grande barulho da festa. O espaço possuía poltronas brancas e uma mesa de centro entre elas, a porta que dividia a área de descanso e o grande salão abafava grande parte do barulho vindo dele. A vidraça do lado oposto da porta dava visão para a parte dos fundos do hotel onde um lindo e espaçoso jardim era iluminado por luzes amarelas. Tanto Sarah quanto Maaba decidiram ignorar os acentos ficando de pé uma de frente para a outra.
- Você tem dois minutos para dizer seja lá o que deseja e depois ir embora. – Disse firme, cruzando os braços na frente do corpo, como se o ator fosse capaz de levantar uma barreira entre ela e Maaba.
- Eu só preciso que você me ouça. – A voz da mulher tinha um tom angustiante, quase de dor. – Que entenda que tudo o que fiz foi por te amar, por querer te proteger.
- Me proteger? – Sarah disse no tom irônico. – Me diga, como mentir sobre a maternidade me protegeu de algo? Fingir ser minha mãe, escondendo quem realmente era me protegeu? Me responda como matar a mulher que eu amava me protegeu? Como usar da morte de Joey para me manter frágil ao ponto de quase me afastar de Juliette. Pois não consigo ver proteção em nenhuma dessas atitudes.
Os olhos de Sarah escureceram como nunca antes, seu semblante se tornou ainda mais fechado, como se uma nuvem negra, bem-carregada, estivesse pairando sobre seu lindo rosto.
- Eu não a matei. – A voz de Maaba soou frágil, quase um sussurro.
- Sim, você a matou. – A voz de Sarah soou exasperada. A raiva tomando conta das suas emoções. – Você não a matou diretamente, mas sim indiretamente. Você manipulou para que eu descobri sua traição e causando o acidente que tirou a vida dela. Você que colocou aquela mulher em nossas vidas, ainda foi capaz de usar minha dor para tentar me manipular. Me responde, como tudo isso foi para me proteger?
- Eu não queria que nada daquilo tivesse acontecido, eu só queria afasta-la de você. Ela estava fazendo você sofrer. Ela não te merecia, minha pequena. – Maaba deu um passo em sua direção, o que fez Sarah da um passo para trás recuando fazendo com que ela parasse de avançar. – Eu sei que o caminho que eu seguir não foi um caminho louvável, eu errei, sim assumo a culpa pelas consequências, mas minha intenção era somente te proteger. Assim como não contar sobre o meu. – Ela fez uma pequena pausa. – O nosso passado.
- Por que você fingiu ser minha mãe? – Sarah perguntou exaltada.
- Eu não fingir, meu anjo. Eu sou e sempre serei sua mãe. Não importa se você tenha nascido ou não de mim. Isso não muda nada, não muda o amor que eu sinto por você. – Maaba apertou a bolsa que segurava. – Eu pretendia te contar sobre ela, contar sobre tudo o que tinha acontecido até o seu nascimento. Tinha jurado para ela que iria lhe proteger custasse o que custar, e é o que vinha fazendo, eu só estava tentando cumprir com a minha promessa.
- Para ela? – Sarah perguntou em confusão.
- Sim, para a Maria Abadia, a minha irmãzinha querida. – Maaba estava com os olhos lacrimejando. - Eu jurei para ela que eu iria te proteger como se fosse minha própria filha. Jurei que te manteria afastada de tudo e todos que tentassem te machucar. Maria te deu o meu nome ao nascer, eu não entendia e até briguei com ela por ter feito isso. Colocado o nome de alguém fadada ao fracasso como eu em uma criatura tão pura como você. Ela dizia que nos duas era o que ela tinha de mais valioso nessa vida, que assim como sonhava com o dia que eu me afastaria de toda a sujeirada que eu estava metida, sonhava com um futuro lindo para o bebê que carregava em seu ventre.
![](https://img.wattpad.com/cover/259852605-288-k826140.jpg)
VOCÊ ESTÁ LENDO
Amor e Ódio
Fiksi PenggemarAmor e ódio não se excluem. Movem-se num mesmo campo e, apesar de possuirem aspectos aparentemente distintos, a relação entre estes dois sentimentos envolve uma ligação entre eles. Duas mulheres de personalidades distintas, tendo seus caminhos entre...