Em estado de choque

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Havia espaço somente para um deles na parte de trás da ambulância. Gilberto teve de explicá-lo duas vezes para Juliette enquanto ele a ajudava a entrar na parte de trás. Ele ofereceu um sorriso tenso.

- Encontraremos com você lá. - Ele afastou-se enquanto eles fechavam a porta.

Juliette moveu-se para o outro lado de Sarah enquanto os paramédicos moviam-se rapidamente, gritando ordens de um lado para o outro entre si.

Lágrimas escorriam pelo seu rosto enquanto ela aguardava para se aproximar e garantir por si mesma que Sarah estava bem. Pelo som das coisas, ela estava se saindo melhor do que o esperado. A bala entrou na frente do seu peito, no lado direito, o que aparentemente era uma coisa boa.

Juliette tentava ouvir a confusão médica, mas estava em estado de choque e tudo parecia estranho.

- Tudo bem. Aproxime-se aqui, mas se algo acontece, você recua no minuto que eu disser, tudo bem? - O paramédico olhou de novo para ela. - Você vai ficar bem?

Ela assentiu e aproximou-se, querendo dizer um milhão de coisas, mas sua voz ficou perdida atrás do medo que comprimia os seus pulmões.

Ela pegou a mão de Sarah e passou os dedos pelo lado do seu rosto onde a máscara de oxigênio não estava.

- Por que ela não está acordada? - Sua voz não era nada mais do que o sussurro de uma criança assustada.

- Precisamos dela em um estado de descanso, tentando mantê-la calma. Sua pressão sanguínea estava alta, o que é esperado, mas não queremos fazer com que o coração bombeie mais sangue do que o necessário até que nós a tratemos.

Eles correram através da cidade enquanto Juliette tentava se manter controlada. Se ela estivesse sozinha, teria sido uma bagunça absoluta de soluços e lágrimas.

Não havia espaço para isto na pequena caixa onde eles estavam sendo jogados de um lado para o outro.

- Estamos a dois minutos do hospital. Desça assim que pararmos a ambulância e abrirmos a porta. Você precisará se afastar e quando os médicos estiverem trabalhando nela, eles virão buscá-la. -  O outro paramédico gritou algo e Juliette recuou quando Sarah deixou escapar um gemido demorado e convulsionou.

- Oh, merda. - Ela murmurou e pressionou os dedos na boca.

Estamos aqui. Para fora. Agora! - O primeiro cara gritou para ela e ela quase caiu para fora da ambulância, mas tropeçou para trás para abrir espaço para eles.

Eles tiraram Sarah da ambulância e correram a toda velocidade para o hospital enquanto Juliette tentava se acalmar.

Tudo estava acontecendo tão rápido e, no entanto, de alguma maneira tudo parecia em câmera lenta ao mesmo tempo.

- Por favor, não deixe nada acontecer com ela. Por favor.

Ela entrou na sala de emergência e parou na recepção, esperando que a funcionária olhasse na sua direção. Impaciência deveria ter inchado dentro dela, mas ela parecia não conseguir forçar nada ao redor do entorpecimento da sua atual situação.

- Sim, senhora?

- Minha noiva acabou de dar entrada por um ferimento a bala. Preciso fazer algo? - Juliette murmurou enquanto as lágrimas continuavam a manchar seu rosto.

- Sarah Andrade? - Jamie assentiu. - Apenas sente-se e faremos com que você preencha a papelada daqui a pouco quando as coisas se acalmarem para você.

O rosto da mulher suavizou apenas um pouco e a gentileza na sua expressão fez com que a fachada de Juliette escorregasse um pouco mais.

- Ok, obrigada.

Ela virou-se e saiu novamente para o clima da quase madrugada, pressionando as mãos no rosto e deixando escapar um soluço demorado.

Braços fortes a envolveram e a voz de Gilberto encheu seus ouvidos.

- Ela está bem? O que está acontecendo, Juliette? – Ele perguntou.

Ela assentiu.

- Eu a-cho que sim.

- Você está bem? – Viviane se posicionou a sua frente, levando a mão direita ao seu braço esquerdo e o esfregando carinhosamente.

- Eu. Eu estou.

- Que merda aconteceu lá? Porque Maaba atirou na própria filha? – Gilberto perguntou num tom manso. – Que merda está rolando e eu não estou sabendo?

- Apenas me dê um minuto.

- Leve o tempo que precisar. - Ele a abraçou quando ela se soltou, chorando muito e demorado com a ideia de não ter Sarah com ela para sempre. – Desculpe. Venha aqui.

A ideia de perdê-la, especialmente por algo que sentia que poderia ter evitado estava condenando seu espírito. Ela sentiu pesar por ter a deixado sozinha na mesa com Maaba.

Se não estivesse a deixado só nunca que iria permitir que Maaba a levasse para aquela maldita área e a ferido com um tiro no meio dos seus peitos. Um tiro que deveria ser recebido por Juliette.

- Vamos entrar e sentar. Eles cuidarão bem dela. – Gilberto estava se esforçando para permanecer calmo pelo que Juliette poderia dizer, mas a preocupação transparecia no seu rosto, nas linhas tensas do seu sorriso e nos olhos semicerrados.

Ele passou um braço ao redor dos seus ombros enquanto voltavam para a sala de espera.  O lugar estava fervendo de atividade, o que não poderia ser uma coisa boa.

- Eles disseram algo? Onde ela foi atingida? - Gilberto sentou-se ao lado dela, sem soltar seus ombros até que ela se afastou dele.

Enquanto João permaneceu em pé e Viviane ocupou o lugar vago ao seu lado.

- No peito, no lado direito. Estou tão contente que não foi no esquerdo. - Ela estremeceu com o pensamento. - É um jogo de espera agora.

Ela estremeceu de novo e a imagem de Maaba cheia de ódio passou pela sua mente.

A expressão horrível no rosto de Sarah quando ela caiu.

Seus olhos encheram-se de lágrimas de novo.

- Apenas gostaria que eu tivesse impedido Maaba. Ou que fosse eu.

- Juliette! Não diga isto! - Gilberto a puxou com força. - Gostaríamos que não fosse ninguém.

Ela explodiu em outro ataque de lágrimas. Ele a puxou com força e a abraçou até que os soluços diminuíram para um fio.

- Apenas recoste-se e relaxe o melhor que puder. – Ele disse baixinho.

- Os melhores cirurgiões da cidade trabalham aqui. Eles não irão deixar que nada aconteça com a Sarah, tenha fé amiga. – Disse Viviane alisando suas costas em conforto.

Juliette recostou-se em Gilberto e fechou os olhos, tentando acalmar seu coração acelerado.

Ela ficaria bem.

Ela precisava ficar.

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