· Perspectiva de Juliette
Após compartilha uma garrafa de vinho com Sarah e sua mãe, elas decidiram sair para jantar em comemoração. Por mais que desejasse ficar a sós em comemoração à grande noite, ter Maaba acompanhando tornou-se algo inevitável. Entre conversas sobre o futuro do casal e revelações sobre a infância de Sarah, a noite estava transcorrendo de forma leve e agradável até.
Por mais feliz que estivesse com aquele momento, Juliette não conseguiu se desvencilhar do desejo de conversar o quanto antes com Gilberto. Mas como antes, as ligações feitas antes de saírem para o restaurante iam direto para o correio de voz.
Juliette colocou sua preocupação mais uma vez de escanteio e dedicou a aproveitar a noite que marcaria o dia do grande pedido.
Após jantarem, Maaba pediu que fosse aberta mais uma outra garrafa de vinho, era a terceira aquela noite. Juliette pensou que logo estaria sentindo os efeitos colaterais de encarar uma terceira, mas não protestou ao pedido da futura sogra.
Pouco tempo depois que o garçom abasteceu as taças, Maaba a levantou mais uma vez em um brinde. Juliette se perguntou qual seria o desta vez.
Elas já tinham brindado pelo pedido, pela infância gloriosa de Sarah. Pela beleza de todas a mesa. Pelo futuro, esse duas vezes, se sua mente não estivesse já pregando uma peça, pensou Juliette.
- Quero brindar por boas ideias. – Maaba levantou a taça. – Elas sempre tornam a nossa vida mais alegres. Através de boas ideias conseguimos alcançar a felicidade, ou pelo menos conseguimos trilhar até ela.
Depois do brinde confuso, todas tocaram as suas taças e deram um pequeno gole no líquido. No mesmo instante o telefone de Maaba começa a tocar, chamando a atenção de todas.
- Só um minuto, preciso atender essa ligação. – Disse afastando a cadeira. – Se me derem licença, volto em instantes.
E assim ela se retirou da mesa, deixando Juliette e Sarah a sós.
Juliette sentiu uma forte vontade de verificar o seu próprio aparelho, queria dar uma pequena olhada se Gilberto finalmente tinha retornado suas ligações, ou ao menos respondido alguma de suas mensagens.
A falta de retorno e não sabe sobre o seu paradeiro a estava torturando.
Amanhã seria um dia bastante movimentado na empresa, seria o grande dia do evento beneficente, com os holofotes voltados para o evento, Gilberto estaria fora do radar. Ele iria dedicar a maior parte do seu tempo garantido que tudo estava nos trilhos para que a noite fosse impecável. O que deixou Juliette ainda mais preocupada, pensou em como Gilberto ficaria ao descobrir o suposto envolvimento de seu, então namorado, com sua secretaria. A quem confiava seus segredos corporativos.
- Durma comigo está noite no "meu apartamento". – Sarah usou os dedos indicadores para fazer aspas no ar. - Se ele estiver em casa quando voltarmos você poderá conversar com ele. E se não, ainda existe o amanhã. Compreendo que o que deve ter para dizer seja algo de suma importância, tanta que está quase, se não já feito, superando o fato desta noite marcar uma data importante para nós. Não estou dizendo que você não está feliz com a nossa atual situação, longe disso, sei compartilha a mesma euforia que eu. Mas sente-se presa as responsabilidades como profissional, e arrisco a dizer que no âmbito da amizade também, que acabam levantando questões que rouba sua mente do agora. Não se preocupe com isto agora, seja lá o que deseja dizer a ele, pode esperar um pouco.
Juliette sentiu como se estivesse se tornado um livro aberto para Sarah. Para ser sincera consigo mesma, nem ela mesmo sentia que poderia se ler com tanta facilidade.
- Estou compartilhando uma rotina com Gilberto a bastante tempo para que eu possa identificar um pouco do seu modo operante, se ele não deu sinal até agora, não adianta em nada você verificar o celular a cada cinco minutos. Ele não vai entrar em contato, não até sentir que conseguiu resolver, seja lá o que esteja corroendo a sua mente. Você mais do que eu, sabe como ele agi. Quando some não é achado, até que assim decida. Estou mentindo?
Juliette continua sentada diante de Sarah, recebendo o choque pela verdade que há em suas suposições, pelo profundo conhecimento que ela tem do seu processo de raciocínio. Assim como o do Gilberto.
As preocupações imediatas de Juliette são, infelizmente, fáceis de tirar o seu foco, devido ao dilema moral que ela enfrenta. Na verdade, porém, a verdadeira questão é muito simples para ela: Ela consegue fazer o que Sarah está lhe pedindo? Esquecer por algumas horas que a pessoa, a qual seu chefe e amigo se declarou amar, está tendo algum tipo de relação com sua secretária, a quem depositou confiança.
- Eu sinto muito. – A voz de Juliette sai baixa. – Sinto por estragar a nossa noite.
- Você não está fazendo isso, não sinta. – Sarah diz de forma firme.
Juliette olha em volta, procurando por Maaba, mas não a avista. Então decidi de uma vez por todas contar tudo para Sarah. Pensou que compartilhando com ela tornaria mais fácil de suportar.
O trabalho minucioso que estava fazendo na empresa estava cobrando muito dela, carregar essa informação estava tornando as coisas ainda mais pesadas. Tudo tinha virado motivo para desconfiança. Uma pontuação fora do lugar uma suspeita. O ambiente tranquilo de trabalho havia se tornado uma zona sensível, qualquer passo em falso tinha o poder de detonar uma bomba. Juliette tinha medo que depois de finalizado, a bomba em iminência causasse estragos além do âmbito profissional na vida do amigo.
- Entendo a gravidade da situação, e como amiga sei o que tudo isso implica. Mas, infelizmente, a única coisa que você pode fazer neste momento é tentar relaxar um pouco e aproveitar a noite. – Sarah começou de forma suave. – Como disse antes, você não conseguirá entrar em contato com ele neste momento. Então vamos aproveitar o restante da noite, terminar esse vinho e ir para a casa comigo. De qualquer modo, amanhã temos compromisso cedo. Dormir comigo no meu apartamento, além de mais prático, é o melhor a se fazer. Perderíamos um tempo crucial acompanhando a minha mãe até, para depois irmos para o seu. O tempo que levaríamos nesse percurso poderá ser melhor aproveitado se irmos direto para lá.
Com o olhar suplicante, Sarah captura um de seus pulsos.
- Por favor, amor, estou pedindo... Vamos focar um pouco em nós, pelo menos no restante da noite. Diga que sim...
A corrente elétrica que parte da mão de Sarah entra pela a de Juliette e vai direto ao ponto entre as suas pernas, com tal força, que chega a ter a impressão de que Sarah pode sentir.
A mente de Juliette entra em pane com a promessa por trás das palavras de Sarah. Se respirar é difícil, falar é praticamente impossível quando Juliette se ver presa na eletricidade entre elas.
- Bem... pode ser... – Sua voz custa sair.
Sarah está sentada bem pertinho dela, e pergunta, ansiosa:
- Você disse o que eu acho que disse?
- Sim, vamos fazer do seu jeito. – Juliette confirma em voz um pouco mais audível.
Um sorriso instantâneo ilumina o rosto de Sarah. Ela solta o pulso de Juliette, a arrebatando, lhe abraçando. No mesmo instante sua mãe retorna.
- Perdi alguma coisa? – Pergunta ao ocupar o seu antigo lugar.
Sarah rir de forma travessa ao se soltar do abraço que dava em Juliette, a encarando, responde.
- Perdeu a oportunidade de presenciar eu dizendo mais uma vez para essa garota o quanto estou feliz em estarmos noivas.
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Amor e Ódio
FanfictionAmor e ódio não se excluem. Movem-se num mesmo campo e, apesar de possuirem aspectos aparentemente distintos, a relação entre estes dois sentimentos envolve uma ligação entre eles. Duas mulheres de personalidades distintas, tendo seus caminhos entre...