Conteúdo doloroso

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A conversa com sua mãe durou até a entrada do prédio de Gilberto. Sarah tentava encerrar a ligação, mas a mãe sempre procurava uma desculpa para prolongá-la.

- Mãe, eu realmente preciso desligar. Prometo que não demorarei de dá notícias. Acabei de chegar no prédio, preciso verificar se a encomenda que você me enviou já foi entregue, e também preciso organizar algumas coisas. – Explicou Sarah.

- Tudo bem, mas não demore em voltar a ligar para sua pobre mãe. Tenha pena do meu pobre coração, ele já não é mais como antes.

- Garanto que ele está mais forte do que o meu. – Sarah deixou escapar a amargura em sua voz.

O sofrimento por Joey ainda tinha um gosto amargo.

Por mais que Juliette a fizesse se sentir bem, quando Sarah estava longe da sua presença todo o amargor voltava com força. Juliette estava se tornando seu escudo, ela possuía um poder de deixar toda aquela dor longe de Sarah, e Sarah era grata por isso, mas ao mesmo tempo tinha medo de que isso causasse uma dor ainda maior. Se isso era possível.

- Não me esqueça, eu estou sofrendo com a distância. Queria tanto a minha única filha perto de mim, estou cogitado pedi alguns dias de folga para ver como você está acomodada e matar essa saudade. – Disse a mãe melancólica.

- Mãe, já disse que estou bem. Não sou mais criança, mesmo tendo algumas atitudes que provem ao contrario eu sei muito bem cuidar de mim. A vinda para o Brasil era algo necessário, eu já lhe expliquei. Eu preciso disso, desse espaço. Desse novo começo, é isso. Eu preciso recomeçar. Sozinha, longe de tudo isso aí. Longe até mesmo dos seus cuidados. Preciso voltar a aprender a andar com meus próprios pés.

- Eu sei! – suspirou a mãe. – Eu só quero o melhor para você. Você sabe que pode contar com o meu colo sempre que precisar, não é? Se qualquer coisa te deixar abalada, saiba que não irei te julgar se decidir voltar e procurar abrigo em meu colo. Ele estará sempre aqui para quando precisar. Eu te amo, minha filha. E sempre irei te amar. Você é tudo para mim, o que eu tenho de mais precioso. E quando digo coisas que não te agradam, não é por mal. Eu só quero o seu bem, quero te ver feliz. Não desejo nada menos do que isso para você.

Sarah tentava segurar a emoção, estava no meio do salão principal do prédio. Algumas pessoas circulavam por ali. Ela não queria ser vista chorando por desconhecidos, eles não entenderiam o peso das suas lágrimas.

- Eu sei. Também te amo, e sempre amarei. Nessa vida e em quantas vidas eu tiver.

Sarah sentiu uma enorme vontade de voltar para Los Angeles, para o colo de sua mãe.

Por mais que o relacionamento das duas tenha passado por momentos delicados, Sarah a amava acima de tudo. E tinha consciência de que sua mãe além de colocá-la no mundo, tinha salvo a sua vida quando a resgatou de uma boate quase desacordada.

Mas estar ali, naquela cidade, estava a fazendo bem.

Como tinha dito a sua mãe, ela precisava daquilo. Precisava recomeçar e aprender a andar por si só.

Ainda não estava nem na metade do processo, Joey ainda se fazia presente.

- Te amo. – Disse mais uma vez antes de finalizar a chamada.

Assim que finalizou a chama, Sarah foi a encontro do concierge verificar se realmente tinha recebido a encomenda que sua mãe tinha encaminhado.

A curiosidade que sentiu logo que sua mãe mencionou sobre, agora estava maior. Se perguntava o que seria, e principalmente quem teria envidado para ela.

Após alguns minutos, o concierge reapareceu na recepção carregando uma caixa parda.

- Chegou ontem, tentamos entrar em contato com apartamento, mas ninguém respondeu. O responsável pelas correspondências se atrasou na distribuição das entregas, o porteiro não soube informar se o sr. Gilberto tinha retornado ao apartamento e se a sra. tinha sido informada. Infelizmente possuímos alguns funcionários que deixam a desejar, o que acabou interferindo na entrega do pacote. Espero que não seja algo urgente e que essa falta de agilidade não venha prejudicar. – Se desculpou o concierge.

- Não tem problemas. Obrigada! – Disse ao pegar o pacote.

A subida até o apartamento lhe pareceu maior do que o normal, concluiu que a ansiedade em saber o que continha naquele embrulho estava tornando aquele momento mais longo do que realmente era.

Assim que entrou no apartamento, tentou controlar a ansiedade.

Indo até a cozinha, Sarah buscou por um pouco de água. A emoção que sentiu a conversar com sua mãe ainda estava mexendo com seus nervos.

Assim que se aproximou da geladeira notou um bilhete pendurado.

"Oi, gata!

Não sei se volta tão cedo, mas caso aconteça...

Saiba que estarei fora de área durante todo o final de semana, talvez só volte no final da segunda-feira. Então, não precisa acionar as forças armadas para sair a minha procura. Se bem que se imagino certo, você também estará longe daqui por muitas horas.

Ah! Dispensei a secretaria, então se fez a burrice de voltar para o apartamento antes vai ter que se virar sozinha.

Espero que tenha aproveitado cada minuto com a Ju.

Aproveite cada minuto da sua vida, pois ela é mais breve que imaginamos.

Prometo não atrapalhar o casal precisando da ajuda da Juliette para salvar minha pele, mas não prometo me comportar.

Bjs."

Sarah encarou o bilhete que mais parecia uma pequena carta e sorriu. Seu amigo sabia como ninguém ser direto.

Assim que abasteceu um copo com água, Sarah foi para o seu quarto, fazendo uma pequena parada na sala para pegar novamente o embrulho que tinha deixado em cima do sofá na sala de estar.

Colocando a água sobre a mesa de cabeceira, ela colocou a caixa em cima da cama e se sentou. Verificando que precisaria de uma tesoura ou algo com pontas para romper o embrulho, ela saiu da cama para procurar. Assim que encontrou voltou ao seu antigo posto.

Quando rompeu a caixa, pode verificar que possuía uma outra dentro dela. Uma caixa mais delicada.

Por fora parecia ser e madeira, mas não passava de impressão. O material era uma imitação, mas por dentro era aveludada. A caixa em si era muito delicada e bonita. Seu coração começou a bater em disparada quando se deu conta do conteúdo. Algumas fotos do tempo em que estava com Joey, recortes de reportagens sobre elas. Um DVD em uma capa incolor possuindo.

Sarah pegou uma das fotos, no mesmo instante que as lágrimas começaram a escorrer pelo seu rosto.

Ela não estava entendendo de onde tinha vindo tudo aquilo, mas aquilo a tinha atingido de uma forma tão bruta e tão profunda. Toda a dor e sofrimento veio dez vezes pior. E ela não conseguiu se conter. 

Amor e ÓdioOnde histórias criam vida. Descubra agora