Algo permanente

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· Perspectiva de Sarah

Havia se passado dois meses Sarah e Juliette tinham conseguido esclarecer o mal entendido e transformar o relacionamento em algo mais solido, mas nenhuma das duas ainda foi capaz de oficializar o relacionamento. Seguindo os conselhos do amigo, Sarah iniciou a ida as consultas com a psicóloga Camilla de Lucas, mesmo não possuindo métodos comuns, sua abordagem estava ajudando Sarah a lidar com os seus traumas, tendo um retorno positivo ao tratamento. Apesar de se manter receosa inicialmente, contrariando suas próprias expectativas, Sarah mantem consultas regulares e contato direto para quando exista a necessidade de uma intervenção emergencial.

Ela ainda não conseguiu descobrir quem era o responsável pelo envio da encomenda. Seguindo também o conselho do Gilberto, ela colocou um detetive partícula atrás de alguma pista do remetente, mas solicitou que não se aproximasse demais da sua mãe. Pois não queria que ela acabasse descobrindo sobre a caixa, e principalmente o seu conteúdo. As feridas que tinham causado nela aumentava as suas próprias. A última coisa que desejava era levar mais preocupação para sua pobre mãe. Por mais que o relacionamento das duas tenham tido momentos de conturbação, ela era tudo para Sarah.

Por não encontrar o remetente, e não ocorrer algo similar novamente, Sarah resolver dar a história como esquecida se livrando do conteúdo e seguindo em frente com sua vida.

Mesmo depois da conversa e, de se declararem apaixonadas, Sarah e Juliette ainda não se intitulavam namoradas, por mais que passagem a maior parte do tempo livre juntas. Na manhã seguinte do encontro e reconciliação, as duas conversaram sobre como iriam lidar com seus sentimentos e reforçaram o desejo de estar juntas. Mas Sarah queria oficializar, sentia que precisava acontecer um pedido de namoro e tudo mais que julgava ter direito, mas tinha decidido esperar um pouco mais até estar segura de que seu passado não voltasse para atrapalhar o seu presente. Precisava se sentir segura com as consultas, e realmente acreditar em sua evolução. Que suas feridas e insegurança não falariam mais alto do que seus sentimentos por Juliette.

E hoje, ela sentiu que esse momento finalmente tinha chegado. A situação entre elas não poderiam estar mais estável.

O restaurante que o Gilberto tinha escolhido para levar Sarah para jantar naquela esta noite era certamente o retrato do meio social que pertencia. Poucas pessoas se encontravam no lugar, a maioria delas fazia parte da alta elite da cidade.

Esse tipo de ambiente fazia com que Sarah recordasse da sua antiga vida em Los Angeles, e de como gostava de participar de atuar. Se perguntou se conseguiria voltar para a profissão que tanto amava, se poderia recuperar a sua carreira.

O maître encaminhou Sarah e Gilberto até a mesa, que estava elegantemente arrumada.

O garçom aproximou-se da mesa que eles ocupavam, segundos depois, perguntando-lhe se desejavam beber algo. Gilberto optou pelo vinho, escolhendo pelos dois.

- Estou pensando em fazer o pedido hoje. – Disse para o amigo sentando a sua frente.

Gilberto parou o movimento que fazia com a taça de vinho.

- Que pedido? Não me diga que já está pensando em casa? – Disse num tom vacilante. – Acho muito bom vocês terem se acertado, mas casar?

Sarah revira os olhos, e coloca a sua taça na mesa.

- Claro que não vou pedir para casar com ela, ainda não. O pedido é de namoro.

- A esta altura? – Gilberto riu, depois de dar um gole no vinho continuou. – Pensei que isso já estava no passado. Quem pede a outra pessoa em namoro hoje em dia?

- Eu. – Sarah fez um bico para o amigo.

- Só você mesma. Vocês já estão juntas a o que? Dois, três meses? Você vive mais com ela do que aqui, mal te vejo. Você não fica com outra pessoa além dela, e ela não fica com outra pessoa além de você. Se isso não for um namoro, eu não entendo mesmo de relacionamento monogâmico.

- Não é bem assim, eu fico aqui também. Porém o mocinho também anda sumindo com um boy misterioso, que até agora não teve a consideração de me dizer de quem se trata. Pensei que eram melhores amigos, irmão, mas estou enganada. - Sarah levou uma das mãos ao peito, de forma teatral. – Mas sim, eu sou daquelas que ainda fazem pedidos de namoro, e pretendo fazer o pedido para a Ju e irei precisar da sua ajuda.

- Meu amor, a certos assuntos que precisamos manter em segredo, até mesmo daqueles que mais amamos. – Gilberto deu um sorriso de canto. – O que está pensando em fazer, não me diga que em algo brega tão como o próprio pedido de namoro.

- Não é brega, quando você estiver apaixonado, assim como estou, vai mudar esse pensamento.

- E quem disse que não posso estar apaixonado? – Gilberto ergueu uma das sobrancelhas.

- Você apaixonado? Não está, no máximo encontrou alguém que está sendo capaz de aplacar o seu fogo ao ponto de te colocar por um tempo na rédea. Se realmente estivesse apaixonado não estaria o escondendo, não pensaria duas vezes em agir como um louco só parar demonstrar para ele, e também para o mundo, o quanto sua paixão é grande. Faria qualquer ato "brega" – Sarah fez as aspas no ar com os dedos. - Com a intenção de tirar sorrisos bobos do rosto dele. Desejaria gritar para os quatros ventos o quanto se sente sortudo por tê-la ao seu lado, de falar sempre o quanto ela é maravilhosa e que te trouxe luz para os seus dias nebulosos. Que somente ao lado dela você se sentir incrivelmente radiante.

Gilberto a encarou por alguns segundos em silêncio.

- Você está lascada, garota. Ela realmente te pegou de jeito.

Sarah sorriu para o amigo, ele estava mais do que certo. Ela estava perdidamente encantada por aquela mulher.

O garçom se aproximou com a salada e parou para perguntar se decidiram fazer o pedido. O jantar não demorou a ser servido. Enquanto apreciavam a refeição, eles conversaram um pouco mais sobre os planos de Sarah, e amadureceu a ideia de como seria feito o pedido de namoro a Juliette.

Ao final, Gilberto pediu por mais vinho dispensando a sobremesa.

- Você pensou na minha proposta?

- Pensei, mas ainda não sei se desejo me firmar aqui no Brasil. – Sarah deu um longo suspiro. – Por mais que as coisas estejam acontecendo fora do planejado, firmar um negócio aqui é um passo que ainda não tenho certeza que desejo tomar. Para ser sincera, ando pensando em voltar a atuar. – Ela abaixou o olhar, suas mãos torciam o guardanapo em seu colo.

- Você conversou isso com o seu antigo agente, com sua psicóloga. – Gilberto diminuiu o tom ao continuar. – Você falou isso para a sua mãe?

Sarah negou com a cabeça.

- Você é a primeira pessoa a saber disso.

- Eu sei o quanto você é ótima atuando, mas você sabe que pode ser um gatilho.

- Sim, mas não está nada decidido. – Sussurrou. – Eu agradeço a minha mãe por ter feito investimentos em meu nome quanto eu ainda era uma criança imatura lidando com a fama precoce. Se não fosse pelo controle autoritário dela, não sei se hoje eu teria a oportunidade de estar aqui. – Ela levantou o olhar para o amigo. – Graças a isso consigo manter o meu custo de vida, sem depender da atuação, mas eu não fazia isso por dinheiro, sim porque eu amava.

- Até um tempo atrás você comentou que estava querendo alugar um apartamento, o que achei um absurdo pois não vejo problema em você continuar comigo.

- Eu não iria comprar um imóvel, somente alugar. Algo temporário. Já iniciar um negócio aqui iria mudar muita coisa.

- E entrar em um relacionamento não? – Ele manteve seu olhar preso ao dela. – Você não pensou nisso antes de decidir que tinha chegado a hora de "fazer o pedido" – Ele repetiu o gesto da amiga. – Ter um relacionamento também é algo permanente, pelo menos assim penso. 

Amor e ÓdioOnde histórias criam vida. Descubra agora