Ultimo pedido de desculpa

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·         Perspectiva de Sarah

No abrigo daquele quadrado que considerava seu quarto, não mais um quarto de visita, Sarah refletia sobre a maneira como sua mãe tratou Juliette. Por mais que soubesse que ela estava certa em relação a Joey, isso não abriu precedentes. Sarah estava bastante chateada com as coisas que foram ditos por sua mãe para ela e para Juliette.

Sarah pensou que a primeira conversa que teve com Maaba a tinha feito entender a importância que Juliette exercia em sua vida, e que a tinha convencido a conhecê-la antes de fazer qualquer tipo de julgamento.

Decidiu tomar um banho, queria lavar o peso que tinha se instalado em seus ombros. Não queria mais se martirizar revivendo as palavras ditas naquela sala, o que aconteceria entre sua mãe e ela caberia a decisão que Maaba iria escolher de agora em diante.

Ao sair do banho, Sarah vestiu uma blusa branca com listras pretas de manga curta, com um shortinho preto de dormir, deitou-se na cama olhando para o teto com os dois braços abertos enquanto deixava sua mente se levar e perde-se em lembranças compartilhadas com Juliette.

O que fez lembrar do compromisso da sexta-feira, iriam encontra-se com o investigador pessoalmente. Ele já estava iniciando com a investigação na tentativa de localizar quem estava por trás dos pacotes, Sarah tinha bancado sua ida até os Estados Unidos em busca de pistas.

Ela também precisava voltar para Los Angeles, mas isso deixaria para pensar em outro momento.

Sarah ouviu uma leve batida na porta, que estava trancada.

- Sarah. – Sua mãe pediu. – Posso entrar e conversar com você?

- Não, mãe. – Gritou. – Já houve conversas demais em menos de vinte e quatro horas.

- Minha filha, por favor. – Pediu, sua voz abafada.

Sarah se levantou, temendo se arrepender de deixa-la entrar.  Destrancando a porta a deixou passar. Olhando para o seu rosto, sua mãe lhe pareceu muito triste. E por mais que estivesse irritada e magoada com sua interferência, ainda a amava. Vê-la daquela maneira fez com que sentisse um aperto no coração.

Era verdade que a relação com sua mãe não fosse das melhores, que até mesmo chegasse a ser preciso usar da interferência jurídica para lhe dar limites, mas Sarah sentia que apesar das atitudes exageradas e sufocantes de sua mãe, ela a amava. Era sua única família, e não queria continuar tendo uma relação tão conturbada com aquela mulher.

Maaba sentou-se na beirada da cama enquanto Sarah preferiu se manter de pé, com os braços entrelaçados a frente do seu corpo de costas para ela.

Por mais que amasse e desejasse uma relação melhor com aquela mulher, não iria voltar atrás nas palavras ditas momentos atras, na sala de estar.

- Eu não quero te perder, meu amor. – Maaba disse com delicadeza. – Eu passei dos limites ao falar tudo aquilo sobre a sua namorada, sei que o que fiz foi além do limite aceitável. Mas não fiz por maldade, não mesmo. Fiz por me preocupar com sua felicidade, por temer que te aconteça algo ruim e que não seja capaz de suportar. Eu sei também que não sou a melhor das mães, mas tudo que faço é para proporcionar o melhor para você, e isto não significa que irei acertar em minhas atitudes. Te vi ir ao fundo do poço e quase te perdi, cheguei a pouco de te perder para sempre. Isso me causou uma ferida tão profunda quanto a que você carrega por conta de sua desilusão. Mesmo quando estávamos distanciadas, eu me mantive perto de você através das notícias que saiam sobre você, sobre sua carreira. Sempre procurei saber se estava bem e lutei para você não saber que eu te observava a distância, por medo de que você acabasse me odiando ainda mais. Cheguei a estacionar na frente da sua casa e ficar lá por várias horas imaginando como era por dentro, como você tinha organizado as suas coisas. Eu sentia muito a sua falta, sentia por não estar por perto, não o suficiente, e te ajudar a dar os primeiros passos em sua vida adulta. De não ser a mãe que aconselhava quando você precisava. O que eu fiz indo até o trabalho da sua namorada pode lhe parecer um absurdo, mas peço que me entenda. Que entenda os meus motivos, mesmo que eles lhe pareçam errados. Eu só queria te proteger, cuidar de você como nunca fui capaz de fazer antes.

Sarah não disse nada, mas se virou para olhá-la intensamente.

Maaba suspirou.

- Sabe de uma coisa? Você pode não acreditar agora, mas eu só ganho vida quando estamos bem. –  Quando posso te abraçar e dizer o quanto te amo.

Magoada, Sarah se recusava a ceder ao que sua mãe dizia.

Por mais que ela sentisse desta forma, o que ela tinha feito tinha sido muito grave.

- Quer saber de outra coisa? – Maaba começou observando-a atentamente. – Talvez eu tenha sido uma tola por não dar o tempo que tinha prometido para conhecê-la e ter tirado conclusões precipitadas sobre ela... eu achava que estava fazendo a coisa certa indo até lá e tentando proteger as duas de cometer um erro e acabar se machucando. Eu acreditava que estava fazendo a coisa certa, fazendo o meu papel de mãe. Eu me enganei pensando que estava sendo uma boa mãe, que havia conseguido enxergar as coisas com clareza e que você saberia que eu não queria fazer o mal para vocês. – Maaba parou, suspirou, e seus olhos ficaram intensos. – Pensei que estava lhe fazendo o bem, tentando proteger os seus sentimentos e não deixando com que voltasse a sofrer como antes.

Sarah lançou um olhar triste e magoado para sua mãe.

- Não é assim que as coisas funcionam, mãe. Por mais que tivesse boas intenções, não tinha o direito de intervir desta maneira em minha vida. Eu sei do que é melhor para mim, mesmo que duvide disto. – Sarah prendeu o ar por alguns segundos, buscando manter-se calma. Soltando pesadamente o ar, continuou. – Posso tomar minhas próprias decisões e arcar com elas, sem que precise intervir. Se eu errar, se eu voltar para o fundo do poço será por resultados das minhas próprias escolhas. É assim que a vida adulta funciona para a maioria das pessoas, é assim que aconteceu e acontece com você. É assim que deve acontecer comigo independentemente de onde irá me levar.

- Eu sei.

- Sabe? – Sarah sentiu uma dor tão grande dentro de si, que sentia vontade de chorar. Ela estava realmente tentando, arriscaria até usar a palavra conseguir, se libertar de uma vez por todas das amarras do seu passado ao lado de Joey e de tudo o que isso havia lhe causado, se não fosse por sua mãe que estava fazendo questão de enfatizar quão tola foi a sua escolha em se colocar ao lado da mulher que lhe causou tanto sofrimento. – Pode até ser que você tenta feito de forma inocente, mas isso não minimiza a situação. E o fato de sempre trazer à tona minha relação com Joey não te coloca na razão, tão pouco te deixa com um passe livre em minha vida para fazer o que bem julgar necessário.

- Pode ser que eu tenha errado nisto também. – Lamentou.

- Se for viver julgando as minhas escolhas futuras com base nas do passado, então verá que as que foram feitas me levaram a um caminho próspero, apesar dos pesares. – Sarah disse firme. – Conseguir construir uma carreira sólida e com os frutos dela investir em algo mais consolidado. Nem mesmo a única escolha ruim que tive conseguiu levar tudo isso de mim. Sim, abandonei a atuação, me entreguei a coisas que não gosto nem de lembrar, as nada disso anula tudo o que construir sem a sua interferência. Por mais que eu tenha feito uma má escolha, nem ela conseguiu ofuscar as coisas boas que fiz em minha vida. Se hoje posso estar aqui, sem me preocupar com assuntos financeiros, foi por minha escolha. Então me deixe escolher com quem eu devo ou não entregar o meu coração. Me deixe escolher quem eu quero do meu lado hoje, e se depender de mim, para sempre. E se esse sempre não existir, tudo bem. Eu escolhi arriscar, e isto é o que importa.

Maaba se levantou e andou até ela.

- Você tem razão. – Disse a segurando pelos braços. – Eu sinto muito por tudo o que falei para vocês.

Sarah mantinha os braços cruzados a frente do seu corpo, seu corpo rígido por conta da irritação ainda presente.

- Eu espero que realmente se sinta dessa maneira. – A encarou, mantendo os braços cruzados o transformando em uma barreira entre ela e a mãe. – Assim como espero que esta tenha sido a ultima vez que precise se desculpar.

- E será, meu amor.

Sua mãe envolveu-a em um abraço, mesmo Sarah mantendo seus braços cruzados em frente ao seu corpo. Logo ela cedeu, a abraçando de volta.

Amor e ÓdioOnde histórias criam vida. Descubra agora