Amor e Ódio

Certa urgência

· Perspectiva de Sarah

Passar a tarde na companhia da sua mãe tinha sido surpreendentemente maravilhoso. Entre a ida a um spa, passeio por algumas lojas em busca de um vestido que sua mãe finalmente pudesse julgar adequado para a ocasião e a escapada em uma outra loja sem que sua mãe notasse, elas tinham se divertido bastante.

Sarah não conseguiu se recordar de um outro dia como esse vivido com sua mãe, estava feliz por finalmente elas estarem caminhando em direção ao entendimento.

Era final de tarde quando chegaram no apartamento de Gilberto.

- Acho que hoje batemos o recorde de compras. – Disse erguendo as sacolas.

- Nunca é demais ter algo novo para vestir. – Respondeu sua mãe com um largo sorriso no rosto.

- Não posso discordar, mas realmente acho que exageramos. – Sarah colocou as sacolas em cima do sofá da sala de estar. – Preciso me apressar se não irei me atrasar para me encontrar com a Ju.

Sua mãe continuou em pé, a encarando.

- Estava pensando. – Disse chamando a atenção de Sarah. – Não que eu esteja querendo ultrapassar um outro limite, longe de mim fazer isto novamente. Mas acho que seria uma excelente ideia se pudéssemos marcar um jantar no apartamento dela. Assim eu poderia me desculpar pelo ocorrido e conhecer onde a bela mulher que foi capaz de colocar um sorriso novamente no rosto da minha pequena filha.

Sarah surpreendeu-se com a proposta de sua mãe.

- Você realmente deseja fazer isto? – Questionou, sem conseguir disfarçar o espanto.

- Porque não? Pelo que vejo, ela é uma pessoa especial para você. E como disse, quero manter as coisas bem e saudáveis entre nós.

Sarah não soube o que dizer.

- Não hoje, é claro. – Maaba continuou. – Afinal seria algo de mal tom a se fazer. Se convidar para jantar na casa de alguém tão em cima da hora. Mas podemos fazer isso acontecer em algum momento antes do meu retorno para Los Angeles.

Recobrando-se. Sarah abriu um largo sorriso para a mãe.

- Sim! Claro. Podemos fazer isto sim, eu iria adorar e aposto que a Juliette também estará de acordo.

- Sei que sim.

- Preciso me apressar se desejo tomar um banho antes de sair. A estar altura, Juliette já deve ter saído do escritório. Se a senhora não se importa, irei para o meu quarto. – Disse Sarah lhe oferecendo um sorriso.

Sua mãe pareceu não se chatear, o que causou certo alívio para ela. Mas o fato de deixar sua mãe sozinha naquele apartamento a fez sentir uma pontada de remorso. Queria muito encontrar Juliette e finalmente lhe dizer o que tinha em mente desde a manhã daquele dia, mas ao ver sua mãe um pouco menos animada do que estava segundos atrás, fez o seu coração se comprimir. E pelo o que conhecia de Gilberto, ele não estava no apartamento, então sua mãe passaria a noite sozinha.

Ela hesitou por um minuto, mas tinha combinado de se encontrar com Juliette aquela noite, e também seria a noite da conversa que poderia mudar de forma definitiva a sua vida.

- Está tudo bem, eu preciso descansar um pouco. – Sua mãe quebrou o silêncio desconfortável. – Não estou tão nova quanto penso, e essa nossa pequena maratona por tantas lojas cobrou muito da minha energia.

Sarah sentiu como se sua mãe tivesse lido os seus pensamentos. Quando iria dizer algo ouviu a campainha tocar.

Não estavam esperando ninguém. Ela tinha marcado de encontrar com Juliette em seu apartamento e Gilberto tinha a chave da sua própria casa. Então quem poderia estar na porta, ter subido sem solicitação de autorização?

Sua mãe estreitou os olhos.

Ela deu de ombros e caminhou em direção a porta de entrada.

- Amor. – Disse surpresa.

Se surpreendendo ao se deparar com Juliette parada em sua porta. Sim. Porque não pensou que seria ela, afinal Juliette era a única com autorização para subir sem precisar de autorização, além de Gilberto, Maaba e ela mesma. Sarah repreendeu-se.

Dando um passo para trás, desbloqueando a passagem, Sarah permitiu a sua entrada. Juliette passou por ela, parando logo em seguida se virando para encara-la.

- Eu preciso falar com o Gilberto o quanto antes. – Disse num tom de urgência.

- Ele não está. – Sarah disse, sua curiosidade aumentada dez vezes mais.

Se perguntou o que será que tinha feito com que Juliette mudasse os planos.

- Pensei que iriamos passar a noite em seu apartamento.

- Sim, mas eu preciso falar antes com o Gilberto, ele não voltou para o escritório esta tarde. Não conseguir entrar em contato com ele por telefone, pensei que talvez tivesse decidido vir para casa mais cedo.

- Sinto muito, mas não. Ele não veio.

- Que porra! – Esbravejou.

Sarah arregalou os olhos para Juliette, pensou que talvez o assunto seja mais grave do que ela imaginava para fazer com que Juliette xingasse dessa forma. E pra ser sincera com ela mesmo, Sarah pensou que era a primeira vez que a via xingando realmente, e achou certa graça. Isso a fez lembrar da primeira vez que se beijaram e foi xingada de idiota por ela. O vocabulário de xingamentos de Juliette era digno de uma criança de três anos.

- Boa noite, Juliette. – Maaba a saudou, chamando sua atenção e a de Sarah.

Ambas olhamos simultaneamente para ela.

- Oh, me desculpe pela falta de educação. Boa noite. – Disse dando um breve sorriso.

Sarah sabia que tinha algo errado, Juliette tinha um semblante preocupado e uma certa urgência.

- Que bom que você veio esta noite. – Maaba fez uma pequena pausa, alternando o olhar entre Juliette e Sarah. – Estava mesmo conversando com minha filha sobre vocês.

- É mesmo? – Juliette perguntou com certa desconfiança.

- Oh, sim. Mas não da maneira que você esteja pensando... – Maaba foi interrompida por ela.

- Não estou pensando de nenhuma maneira. – Juliette se antecipou.

Sarah fechou a porta atrás de si e foi até ela.

- Mãe... – Sarah tentou falar, mas também foi interrompida.

Sua mãe levantou um dedo sinalizando para ela ficar em silêncio.

- Tivemos um encontro desconfortável. – Maaba encarou Juliette. - Eu me comportei de uma forma inaceitável, e fico mais do que feliz que esteja aqui. Preciso me retratar com você, assim como fiz com a minha filha. Se puder me dar um minuto, irei ficar mais do que grata.