Uma nova ID

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· Perspectiva de Juliette

Após se despedir de Sarah, Juliette partiu determinada a conseguir adiantar o máximo de trabalho possível naquele dia. Queria se livrar do mal humor que pairava sobre a cabeça de Gilberto, tudo aquilo estava deixando seu trabalho um pouco mais difícil e exaustivo.

Sua chegada atrasada no dia anterior seria compensada nesta manhã, decidiu pular a academia e chegar mais cedo ao escritório. Infelizmente teve que pular o café da manhã na companhia da Sarah, sabia que correria o risco de se atrasar, contrariando seus planos, se o fizesse.

No escritório, ela pegou uma caneca de aveia da lanchonete no térreo e preparou-se para um dia longo. Entre ajudar Gilberto a preparar suas declarações fiscais, conseguir que Viviane e João Luiz a ajudasse finalizar a buscar o quanto antes de algo que pudesse atingir a empresa de forma negativa o quanto antes, fazer seu trabalho e ainda tentar resolver dos desejos de Caio para a auditoria governamental adicional, ia ser feio.

Juliette estava determinada enquanto subia no elevador. Parte dela temia o dia e a outra mal conseguia esperar para começar, realizar os itens da sua lista e organizar. Eram dias como este que a impulsionavam como um coelho energizado.

Thais não estava na sua mesa quando Juliette entrou no saguão decorado dos escritórios, o que era pouco incomum. A mulher raramente se ausentava sequer para ir ao banheiro. A porta de Gilberto estava fechada e ela podia ouvir vozes atrás da porta fechada. Ele também resolverá madrugar na empresa, para a sua surpresa.

Entrando em sua sala, ela parou imediatamente, um pouco surpresa ao ver Viviane já inclinada sobre uma pilha de papéis sobre a mesa. João Luiz estava em uma outra mesa, instalada na tarde de ontem em sua sala para fornecer um ambiente melhor para eles trabalharem, no canto mais distante da sala, digitando.

- Bom dia, pessoal. – Juliette sorriu e caminhou até a sua mesa, deixando suas coisas e virando-se para perceber que ambos estavam com os fones de ouvido. Ela falou mais alto na próxima vez e quase apreciou que eles puxaram freneticamente os fios das suas orelhas. – Bom dia, pessoal!

- Bom dia. – Viviane se levantou e sorriu. – Veja se não é a pequena flor que desabrocha tardia nas manhãs.

- Na verdade, isto é cedo. Normalmente ela está a pelo menos mais uma hora de estar aqui em um dia bom. - João riu.

- Costumo chegar no horário adequado às minhas demandas aqui, fora que ainda levo trabalho para casa. Então vamos com calma, mocinho. – Juliette estreitou o olhar para ele, tentando se manter seria, mas falhando miseravelmente. – Esqueceu quem está no comando nesta sela?

- Eu? – Brincou João.

- Vai sonhando. - Ela foi para o outro lado da sua mesa e sentou-se. – Está tudo bem?

- Está, acho que sim. Queria lhe mostrar mais algumas coisas, mas irei esperar até que você tenha tomado seu café da manhã. – João alongou-se e acenou com a cabeça para Viviane. - A gênia ali já examinou e disse que precisamos verificar uma nova ID que foi acrescentada a algumas das contas.

- Uma nova ID foi acrescentada como um usuário autorizado para as contas? – Juliette ergueu uma sobrancelha.

- Sim. Parece que seja quem for tem o mesmo acesso a certas contas que Gilberto têm. – Viviane assentiu.

- Isso é impossível. – Juliette levantou, desistindo do seu café da manhã. – Deixe-me olhar isso agora.

- A não ser o Gilberto não tenha nos avisado, não há mais ninguém além dele, de mim e da Thais que deveria estar listados em todas as contas de compra. Eu tenho quase certeza que deveria ser somente nós. – Disse Viviane.

- Bem, lá está. Vamos descobrir quem é e talvez possamos compreender melhor alguns destes estranhos itens de conciliação nas contas bancárias. – João sentou-se novamente e puxou três pacotes, entregando todos eles para Juliette enquanto ela estava de pé ao seu lado.

- Quem tem este ID de usuário? – Juliette inclinou a cabeça e folheou mais algumas páginas. Havia poucas de cobranças com o usuário em questão, mas mesmo assim... não deveria ter havido nenhuma.

- Não faço a mínima ideia. Vamos falar com Artur na TI. – João aproximou-se dela e passou o dedo pelo papel, parando em uma cobrança de cento e cinquenta reais. – Por que teríamos um supermercado nos nossos gastos? Viviane você fez uma festinha em seu apartamento e não me convidou.

- Sim, Gilberto me deixaria fazer isto. Por favor, João. – Viviane lhe deu um olhar de soslaio.

- Quem sabe? - João riu.

Juliette sorriu, um pouco distraída com as pilhas de papéis na sua frente para rir do apreço de João em irritar Viviane com brincadeiras em momento sério de trabalha.

- Uau. - João recostou-se na sua cadeira. – Honestamente parece que pegamos alguém no meio de um ato criminoso. Estou interessado em ver quem é.

- Eu também. – Juliette passou os dedos pelos lábios. – Tudo bem, vocês continuem fazendo o que estão fazendo. Preciso falar com Gilberto. Não quero trazer à tona algo que ele já sabe. Seria um desperdício do nosso tempo.

- Concordo. – Viviane e João responderam um uníssono.

Juliette caminhou de volta pra a sua mesa e deu uma colherada rápida em seu mingau antes de ir ver Thais. A mulher ainda não estava lá, mas uma mulher de meia idade estava.

- Bom dia, senhora. – Juliette contornou a mesa.

- Já era hora. Estou parada aqui por quinze minutos. – Seu cenho franziu.

- Sinto muito sobre isto. Não tenho certeza onde a secretária do Sr. Gilberto esteja, mas fico feliz em ajudá-la. – Juliette manteve sua atenção sobre a mulher e forçou o sorriso agradável que ela estava acostumada a dar.

- Você não é a secretária dele?

- Não, senhora. Mas em que posso ajudá-la? – Juliette abriu a agenda sobre a mesa de Thais e pegou uma caneta. Enquanto Gilberto fazia a pobre da Thais colocar seus compromissos em um calendário eletrônico, ela era muito antiquada para não ter um livro físico para anotar tudo.

- Tenho uma hora marcado com ele agora. – O tom da mulher foi um pouco melhor, mas não muito.

- Sra. Diaz? – Juliette olhou para baixo examinando a página.

- Sou eu.

- Sente-se e irei avisá-lo que você está aqui. – Juliette ofereceu um sorriso para a mulher.

Caminhou até o escritório de Gilberto, batendo suavemente e enfiando a cabeça para encontrar Thais e ele em uma discussão acalorada.

- Ei, pessoal. Sinto muito interromper, mas a Sra. Diaz está aqui para a reunião das dez e meia com você, Gilberto.

- Obrigado. Mande a entrar. – Gilberto olhou para Thais. – Conversaremos mais tarde. Não acabei com isto.

- Tudo bem, mas minhas palavras não irão mudar. - Ela encolheu os ombros.

- Isto não é o suficiente para mim, Thais. – Ele caminhou de volta para a sua mesa antes que os seus olhos encontrassem os de Juliette. – Bom dia, Ju... Juliette.

- Bom dia, Gilberto. – Ela se afastou enquanto Thais saía, a outra mulher sem dizer nada. Pela aparência das coisas, ela estava muito irritada. – Está tudo bem?

- Não. Mande a Sra. Diaz entrar. Conversaremos sobre o resto disto mais tarde. – Gilberto virou-se e começou a digitar no seu teclado, eficazmente encerrando a conversa.

Pelo que Juliette poderia dizer não era um bom momento para trazer à tona saldos bancários. Iria simplesmente investigar isto e se nada surgisse, então bom. De qualquer maneira não havia nenhum motivo para incomoda-lo com isto. Ela se virou e esperava que Thais estivesse de volta à sua mesa, fazendo o seu trabalho, mas ela não estava. A tensão entre ela e Gilberto não era boa. Juliette fez um gesto para a senhora.

- Por aqui, Sra. Diaz.

- Perfeito. Obrigada. – Disse ela.

Juliette a conduziu para dentro.

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