Antes de tudo

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Amor e ódio não se excluem. Movem-se num mesmo campo e, apesar de possuirem aspectos aparentemente distintos, a relação entre estes dois sentimentos envolve uma ligação entre eles.

Duas mulheres de personalidades distintas, tendo seus caminhos entrelaçados por uma ligação em comum que as levará a uma atração inexplicável a primeira vista. E mesmo lutando a princípio contra esse sentimento avassalador, não resistirão por muito tempo. Elas precisarão aprender a lidar com o passado e presente enquanto decifram seus sentimentos, ou então o que já não estava sendo fácil, se tornará o verdadeiro inferno para ambas.

Uma paraibana após terminar a faculdade de direito resolve mudar de cidade, indo morar em Recife. Determinada acaba indo trabalhar para um, nada convencional, CEO. Dona de uma personalidade extrovertida, Juliette Freire é uma jovem advogada de renome. Conseguiu chegar ao topo antes dos trinta, sendo determinada e assertiva desde sempre, se enxergava como "casca grossa", mas no fundo sabia que era uma pessoa sensível. Mas isso não diminuía sua força de espírito. Era bem sucedida na área profissional, mas o mesmo não poderia ser dito sobre sua vida amorosa.

Sarah Andrade nasceu em Brasília, mas ainda pequena sua família foi morar nos Estados Unidos na cidade de Los Angeles. Seguindo a carreira de atriz, contrariando os desejos de sua mãe que desejava que a filha seguisse seus passos dentro do FBI, se tornou um dos nomes mais requisitados no meio artístico. Mas uma fatalidade envolvendo sua namorada a faz querer dá um tempo dos holofotes e deixar sua vida de glamour para trás. Ela escolhe voltar para o Brasil, aceitando o convite do seu melhor amigo.

A semana estava iniciando, para Juliette era garantia de uma pequena trégua nas maluquices do seu chefe, que adorava se meter em confusões entre brigas em boates e envolvimentos com homens nada confiáveis. Ela sempre era convocada nesses momentos para o salvar de uma possível prisão ou desfalque em sua fortuna.

Fora as enrascadas, trabalhar para Gilberto lhe permitia ter bastante tempo livre. Vez ou outra se envolvia em trabalhos voluntários, mas o contrato de exclusividade não a permitia trabalhar para outras empresas, não que ela precisasse. Sua vida financeira era estável, a permitindo viver de forma confortável e despreocupada.

Antes de iniciar sua jornada de trabalho, Juliette frequentava uma academia próxima ao edifício Vigor, prédio pertencente a Gilberto.

Vestida com uma calça legging cinza, um cropped da mesma cor com detalhes verde neon e um tênis também cinca. Seu longo cabelo preto, amarrado em um rabo de cavalo, Juliette ia em direção a academia. Em uma bolsa que carregava, ia sua roupa para depois dos exercícios. Sempre utilizava o vestiário para se livrar do suor causado pelos esforços dos exercícios e lá mesmo se aprontava para o dia de trabalho.

Juliette mantinha uma relação com Arcrebiano, há cerca de cinco anos. O que no início era só flores e altas expectativas, tinha se resumido a uma relação falida. Mantida pelo costume da rotina criada por eles. O encanto inicial foi substituído por um sentimento que Juliette não sabia identificar. Eles mal se tocavam, pareciam mais dois velhos amigos do que um casal no auge da paixão.

Ela pensava sempre em pôr um fim naquela situação, mas quando tentava tocar no assunto seu namorado sempre arrumava uma desculpa fazendo com que ela desistisse.

Chegou às oito no edifício, conseguiu pegar o elevador assim que entrou no saguão agradecendo por não estar lotado.

A sede da Vigor ficava em um edifício empresarial no bairro Boa Viagem em Recife, bem em frente para o mar. A empresa ocupava os últimos seis andares do prédio de dezoito andares. Os escritórios tinha um ar imponente. O último andar era ocupado pela presidência da empresa, diretores e pela sala de Juliette. Ela sabia que possuía aquele espaço não somente por mérito, mas pela relação de sincera amizade criada com Gilberto. No início não quis aceitar a posição de destaque, mas ele não a permitiu fazer a recusa.

Aquele andar possuía também uma grande sala de reuniões, uma sala de videoconferência, tudo decorado com muito bom gosto.

Assim como a sala do seu chefe, a de Juliette ficava de frente para a linda paisagem que a praia rasa de águas mornas protegida por recifes exibia. Era menor, mais isso não a tornava menos importante. Com uma decoração em tons claros e moderno, o painel de vidro permitia que a vista fosse disfrutada em todo o seu esplendor.

A manhã seria ocupada por uma reunião sobre a nova adesão do grupo empresarial, a presença de Juliette era necessária para apresentação da parte jurídica. Esse encontro estava marcado para acontecer às dez e meia, mas ela decidirá chegar antes para verificar mais uma vez a papelada e fazer algumas correções que julgasse necessárias.

Após alguns minutos, imersa nos documentos espalhados sobre sua mesa, Juliette é puxada de volta a realidade ao ouvir o toque do seu celular.

No visor aparecia a foto de Arcrebiano.

Ela pensa duas vezes antes de atender a chamada.

- Oi! – Fala ao atender.

- Você me encontra no restaurante ou prefere que a encontre na portaria do seu prédio? – Ele pergunta diretamente, sem se dá o trabalho de retribuir a saudação.

- Pensei que já tínhamos combinado de você ir me buscar no meu apartamento. – Responde Juliette, tentando controlar o tom de voz.

- Eu sei. Eu sei, mas as coisas mudaram. Responde o que você prefere.

Juliette tamborila os dedos sobre os papéis na mesa, tentando não deixar a irritação tomar conta de si. Ela conhecia muito bem o namorado. Se ele estava fazendo aquela pergunta é porque não queria ir buscá-la, mas sempre tentar fazê-la acreditar que a escolha final era sua.

- Podemos nos encontrar lá. Mesmo não sendo o que combinamos. – Juliette não deixou que passasse despercebido.

Ele dá um audível suspiro de alívio, aquilo só faz a irritação dela aumentar.

O jantar tinha sido decisão dele em uma tentativa de reavivar o romance entre os dois, mas parecia que o desejo pela noite romântica, que tanto ele tinha imaginado para aquele dia, não era mais o seu desejo.

- OK! Até mais tarde. – Arcrebiano desligou sem esperar a resposta de Juliette.

Ela ficou olhando para o aparelho, como se por passe de mágica ele ganhasse vida e lhe dissesse que aquela ligação não passou de sua imaginação pregando uma peça. Ela não queria acreditar na grosseria que acabara de presenciar da parte do seu namorado.

A relação dos dois estava tomando um rumo a indiferença, e aquilo era a última coisa que ela desejava para si.

Decidiu voltar a sua atenção para o trabalho e esquecer aquele comportamento tosco do seu namorado.

Faltava trinta minutos para o início da reunião, decidiu ir até a sala de Gilberto para verificar se tudo estava dentro dos conformes.

Sua secretária estava ao telefone, então Juliette decidiu não a interromper e foi direto para a porta do seu chefe. Ele tinha acabado de se sentar quando ela passou pela porta.

- Desse jeito eu vou acabar tomando posse dessa empresa. – Brincou, fechando a porta atrás de si.

- Meu amor, essas são as vantagens de ter seu próprio negócio. Chegar em cima da hora, mas possuir uma funcionária competente que vai garantir que eu ganhe mais dinheiro. – Gilberto respondeu com um sorriso largo no rosto.

- Só quero saber quando o magnata ai vai parar de aprontar e parar de me dá trabalhos que vão além das minhas obrigações. Sou sua advogada, não sua babá. Da próxima vez que me ligar às quatro horas da manhã em pleno domingo, vou bloquear o seu contato da minha agenda. – Juliette fala em um tom sério, sentando-se em uma das poltronas. 

- Você não deixaria seu melhor amigo parar nas manchetes policiais por conta de uma simples cachorrada. Tudo pronto para a reunião? – Ele pergunta tomando um tom formal.

- Sim, e já podemos ir.

Os dois se levantam e vão em direção a sala de reuniões. 

Amor e ÓdioOnde histórias criam vida. Descubra agora