A origem de todas as tragédias

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Mas se eu quero um futuro próspero e feliz ao lado de Juliette, preciso saber de uma vez por todas quem estar por trás disso. Preciso enterrar definitivamente o meu passado, mesmo que seja doloroso saber o conteúdo desta pasta. Pensou Sarah.

Depois de um tomar um longo gole do seu suco, ela encontrou coragem para tirar o selo de "confidencial" que fechava o envelope e pegou os papéis dentro dele.

A primeira coisa que ela viu foi a foto de uma mulher morena de olhos castanhos. O investigador havia prendido a foto com um clipe sobre a pilha de papéis marcados como "Mãe", Lilian Marie Potter.

Sarah estudou a foto por um momento. A mulher era jovem e bonita para os anos 80. Joey tinha herdado os lábios da mãe e as maçãs do rosto.

Joey havia contado que sua relação com a mãe não tinha sido das melhores, assim como era a relação de Sarah com a própria mãe. O que a levou se afastar e ir morar com a sua tia, tia essa que Sarah chegou a ver somente uma vez.

Sarah entregou a foto para Juliette, que permaneceu em silêncio ao seu lado. Sarah sabia que ela não a queria atrapalhar, mas insistiu em estar ali, lhe fazendo companhia. Mesmo depois de ter passado por um pequeno incidente logo pela manhã, mesmo insistindo que não teria sido nada, Sarah sentiu que seu coração se aquecia ainda mais por ter encontrado Juliette. Sabia que ela estará ao seu lado para todo o sempre.

Abaixo da foto tinha um pequeno relatório sobre a vida da mulher, mas ela não se prendeu muito ao relatório. Sabia que a mulher não teria qualquer ligação com tudo aquilo, pois sua existência era quase nula na vida da própria filha. Passou o papel para as mãos de Juliette.

Em seguida apareceu a foto de Joey, e assim como sua mãe, ela também possuía um relato sobre a sua vida. Sarah encarou a foto por alguns minutos, um filme de tudo o que tinha passado ao lado de Joey passando em sua cabeça. Assim como tudo o que tinha feito com a própria vida depois de sua morte, e se lamentou. Por pouco não tinha destruído a própria vida por acreditar que o que tinha com Joey era algo o qual não saberia viver sem.

Hoje ela conseguia ver o quão tóxico era a relação das duas, e alimentou por ela ter tido um final tão precoce. Apesar de tudo, ela desejava que Joey estivesse viva.

- Você está bem?

Sarah sentiu a mão de Juliette tocar o seu ombro, o que a arrancou de seus pensamentos.

- Oh. – Olhou para a morena. – Sim, estou bem.

Disse com um sorriso tranquilizador.

- Tem certeza? – Juliette insistiu.

- Sim, tenho. – Sarah respondeu prontamente. – É que... eu só estava pensando em tudo o que passei ao lado dela, como desejava que o acidente nunca estivesse acontecido. – Disse de forma sincera. – Eu lamento muito por tudo, eu realmente desejava que estivesse sido tudo diferente. Não que eu esteja dizendo que não quisesse ti conhecer, não me entenda mal. É que...

- Ei, calma. – Juliette a interrompeu. – Eu entendi muito bem o que você quis dizer. Infelizmente não temos controle sobre tudo em nossa vida, que dirá ter controle sobre a vida do outro. Também me pego desejando que estivesse sido de forma diferente algumas coisas do meu passado, e como desejo, mas não devemos nos sentir presos a esse desejo. Pois se isso acontece ele acaba virando culpa e, de alguma maneira, isso acaba nos corroendo por dentro.

Sarah apenas assentiu com a cabeça. Entregou a foto e relatório a Juliette e continuou verificando o conteúdo do envelope.

Nele continha informações sobre as pessoas próximas a ela e a Joey. Algumas da sua empresa, outras do meio artístico, até mesmo pessoas que Joey se relacionou enquanto ainda estava com Sarah. Todos eles não possuíam nenhuma ligação com as encomendas, assim como também não possuía um motivo plausível.

Sarah já estava acreditando que tinha sido passada para trás pelo investigador, pois as informações que ele a entregá-la não tinha levado a lugar algum. Nenhuma daquelas pessoas, segundo o seu relatório, tinha qualquer envolvimento.

O conteúdo do envelope já estava quase no fim, Sarah tirou mais um de lá.

Tinha uma foto de uma jovem aparentando não ter mais do que 16 anos, a foto era antiga e estava desgastada, mas ainda assim a fisionomia da jovem a fazia lembrar de sua própria mãe. A pilha de papéis estava marcado como "Mãe ou tia?", aquilo fez Sarah franzir o cenho.

Ela retirou a foto do clipe, encarando um pouco mais de perto. Procurando encontrar mais alguma coisa que a fizesse reconhecer quem era a pessoa da foto, mas não teve sucesso. Ela então afastou a foto, o que viu foi depois uma ficha criminal.

Carolline Vieira de Andrade, 22 anos. Extorsão.

- Como assim? – Sarah perguntou mais para si do que para Juliette.

- O que houve? – Juliette quis saber.

Sarah não sabia explicar o que estava havendo, pois acabara de se deparar com alguém que possuía um nome quase igual ao seu. Pelo sobrenome e aparência, só poderia ser algum parente. Então entendeu o motivo de estar escrito "mãe ou tia?''. Aquela mulher só poderia ser sua tia, pois sua mãe não era. Sua mãe se chamava Abadia e não Carolline.

- Ela tem o mesmo nome que o meu. – Sarah apontou para a foto, que agora estava nas mãos de Juliette. – Quero dizer, ela também se chama Carolline Vieira Andrade, mas eu não sabia que minha mãe tinha uma irmã.

Sarah encara ficha de forma contemplativa em suas mãos.

- Na verdade, ela quase nunca fala sobre o seu passado. O que ela me contou, em seus raros momentos, que não possuía mais família e que tinha decidido mudar de país em busca de uma vida melhor para nós duas. – Sarah continuou. – Eu cresci acreditando que a única ligação sanguínea que possuía era com ela. Eu sei tão pouco sobre a vida da minha mãe, quase nada da minha própria. Nem ao menos sei quem era o meu pai.

- Lamento por isso. – Disse Juliette. – Tudo isso deve estar sendo um choque para você. Não sei nem o que te dizer.

- Não precisa dizer nada. – Sarah a encarou. – Obrigada.

Sarah deu um rápido beijo em Juliette e depois voltou sua atenção novamente para os papeis.

Virando a primeira página Sarah soltou um xingamento.

Carolline Vieira de Andrade, 23 anos. Fraude.

As páginas seguintes continham mais registros de prisão, desde roubo à posse de drogas e prostituição. Quando Sarah começou a se perguntar se a mulher, que supostamente seria sua tia, estava presa sem chances de ser solta, ela viu a cópia de um artigo de jornal.

"Na cidade de Brasília, uma mulher foi encontrada morta em sua casa."

Seu sangue gelou, mas ela continuou a ler.

"Carolline Vieira Andrade, 26 anos, foi encontrada morta a tiros em casa, aproximadamente às 23h21 da noite de ontem. A polícia foi chamada à casa da vítima pela sua irmã gêmea para separar uma briga de casal, mas a vítima já estava morta quando os policiais chegaram. Os registros do serviço de emergência não estão disponíveis no momento, mas um policial presente na cena do crime confirmou que a vítima estava viva quando a ligação foi feita e o namorado da vitima evadiu do local, mas dois dias depois a polícia encontrou o seu corpo em um terreno baldio não muito longe da casa da vítima. Os investigadores procuram por provas que indiquem ou descartem a ligação de ambos os crimes."

Sarah releu o artigo uma dezena de vezes, ficando mais e mais nauseada cada vez que chegava na parte sobre a ligação ter sido feita pela sua irmã gêmea. Sarah entendeu que a mulher em questão só poderia ser a sua mãe, ela que tinha ligado para a polícia pedindo ajuda para a própria irmã. E a polícia chegou tarde demais para salvá-la. 

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