Purgatório

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A chegada de Sarah ao Brasil ocorreu dentro do esperado. No aeroporto, seu grande amigo a aguardava.

Gilberto estava com uma placa colorida com seu nome escrito. Nada discreto, ela pensou.

Eles tinham se conhecido anos atrás, quando ele foi cursar o seu PHD. A amizade foi instantânea, e a mais sincera possível. Através dele ela conheceu aquela que julgava ser a mulher da sua vida. O seu grande amor.

Sentir o calor daquela cidade já estava dando novas energias para ela. Ali sentiu que sua escolha tinha sido certeira.

Ao contrário do que sua mãe acreditava, sua estadia naquela cidade seria passageira. Assim ela acreditava.

No caminho para o apartamento do Gilberto, ele decidiu fazer uma pequena tour pela cidade, lhe apresentando os principais pontos da cidade. Chegaram no apartamento por volta das onze e quarenta.

O quarto que seu amigo disponibilizará ficava de frente para uma vista lindíssima da cidade e do mar que a banhava. Depois de organizar suas coisas, Sarah decidiu que precisava de um longo banho para despertar o seu corpo. O fuso horário mais o período da viagem fizeram com que se sentisse exaustão após o banho, ainda de roupão se jogou na cama. Não demorou a pegar no sono.

As dezessete, é acordada por um barulho continuo vindo da porta do seu quarto.

Ela tentou abafa-lo, sem sucesso, com as almofadas.

Vendo que quem quer que estivesse do outro lado da porta não estava disposto a desistir, ela levantou e foi atender ao chamado. Assim que abriu a porta, deu de cara com Gilberto.

- Vamos, mulher. Pensei que já estivesse pronta. – Disse entrando no quarto.

Sarah tentava desanuviar sua pente recém despertada.

- Vamos? – Perguntou em confusão.

- Sim. Falei com você que iriamos sair pela cidade as cinco, para realmente a conhece-la. Já tenho em mente os melhores lugares para te levar. Tem uma boate escândalo. Aposto que você irá amar, e de quebra ainda vai levantar esse teu astral que andar tão baixo, que logo é capaz de ficar subterrâneo de tão baixo.

A euforia de Gilberto era contagiante.

Sarah não tinha como se animar diante de tamanha energia.

- Não tinha internalizado a informação de que tinhas um itinerário para esta noite.

- Após, você tem trinta minutos para estar pronta, meu anjo. A cidade vai ficar pequena para o que eu estou planejando para a nossa noite. Espero que esteja pronta quando eu retornar a este quarto, se não estiver você irá do jeito que estiver. Internalize esse aviso. – Ele disse com um sorriso nos lábios, usando a palavra contra ela.

Sarah não estava nada empolgada com a saída, mas não queria cortar o clima do amigo.

Ela precisava ocupar a mente, e julgou que um pouco de loucura não cairia mal. Afinal estava em uma nova cidade, com novas pessoas. Longe de toda aquela bagagem de tristeza e culpa que carregava.

O bar que Gilberto escolheu para levar Sarah em sua primeira noite na cidade era muito conhecido e movimentado. Estava cheio de luzes na frente, o letreiro era de neon, escrito "PURGATORIO", por fora, era um bar de tijolos vermelhos, janelas de vidro que tomavam a maior parte da arquitetura, a porta de entrada era de folha de madeira, estilo os filmes antigos de Bang Bang.

A área interna era bastante espaçosa, o térreo possuía uma pista de dança e ao fundo um grande balcão contornava a metade da pista, ocupando três das quatro paredes. As prateleiras atrás dele repletas de garrafas de bebidas. Havia cinco pessoas servindo atrás do balcão. Luzes picantes e que se movimentavam, parecia uma boate do que um bar.

Na lateral, pequenas poltronas em conjunto com mesas discretas, formando pequenas áreas de descanso.

Já o primeiro andar, era ocupado por sete cabines particulares. É uma espécie de camarote, ou área vip, que ficava suspensa, sustentada por pilastras, cada uma foi nomeada por um pecado capital. Cada ala tinha sua decoração. As janelas de vidro permitiam que quem estivessem as ocupando tivesse uma visualização privilegiada da área a baixo, mas não permitia o mesmo para os ocupantes do térreo.

O barulho era imenso, o lugar estava lotado, mas se via o próprio pé, mas Gilberto tinha reservado para eles uma ala em um dos camarotes. Eles ficaram na ala Luxúria, era cheia de brilhantes, ouro e sofás de couro no tom vermelho, o local era uma visão e tanto.

Assim que entraram no camarote Gilberto disse;

- Espero que tenha gostado do local. Venho aqui quase todos os finais de semana, é um dos meus lugares favoritos. E achei que poderia ser um dos seus enquanto estivesse na cidade. – Disse fechando a porta atrás de si e abafando o barulho que vinha de fora.

- Eu adorei. Pode ter certeza que este será. – Respondeu Sarah em tom de empolgação.

- Um conselho, nunca comece com "anjo caído". Ninguém sabe do que é feito, só que é doce e quase letal, três doses e você pode entrar em coma. Nunca comece com ela, ou vai sair daqui numa ambulância.

- Sinto que diz com propriedade, pois já foi vítima dela. Não? – Sarah provoca em tom de brincadeira.

- É a melhor coisa que já bebi, e acredite, já bebi bastante coisa. Aquele doce líquido azul anil é uma obra do diabo.

Gilberto chamou uma das garçonetes, intituladas "diabinhas", as garçonetes eram inegavelmente mulheres de atitude, em todos os tipos de corpos e curvas, todas com seus vestidos vermelhos, alguns curtos, outros longos. Com seus saltos altos promovendo a sexualidade feminina em toda a sua forma.

O primeiro pedido foi três shots de tequila, cada um bebeu três de vez. Algo que era tradição quando eles frequentavam as boates em Los Angeles, a quantidade exata de álcool que Sarah precisava para dançar a noite toda, as doses extras eram só para a manutenção de fluxo.

A noite prometia.

Sarah estava linda, Gilberto já estava agarrado com um cara qualquer na pista, e a tequila já estava fazendo efeito.

Gilberto tinha dado a ordem para que as garçonetes continuassem trazendo os shots, sem parar. Sarah sentia eu a pista estava lhe chamando, naquele círculo que unia todos os pecados, e por ironia, era batizado de céu.

Ela achou aquilo extremamente poético.

Ela foi atraída pelos feixes de luz, com uma batida pulsante que fazia seus quadris moverem-se sozinhos, estava entregue a dança, deixando a música a controlar, com os sentimentos e pensamentos afogados pelo álcool. Ela dançou como se fosse seu último dia na Terra.

Ela sentiu um corpo próximo ao dela, acompanhando seu ritmo, aquele ser parecia saber seus próximos passos, como se soubesse o que ela fosse fazer. Ela pensou que fosse o seu amigo, parceiro cativo de dança. Assim que ele colocou as mãos nela. A enlaçando junto ao seu corpo, um calafrio a percorreu, não aquelas que vem antes de algo bom. O homem desceu com a mão em direção as suas partes íntimas. No mesmo instante ela se virou e deu um soco em seus rosto. As pessoas que estavam ao seu redor abriram espaço, assim chamando ainda mais atenção para aquela cena. 

Amor e ÓdioOnde histórias criam vida. Descubra agora