Ela não é a Joey

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· Perspectiva de Sarah

Após um longo tempo nos braços do amigo, Sarah conseguiu finalmente se acalmar. O choro junto ao colo de Gilberto proporcionou um pouco de alívio para ela.

- Quer conversar sobre isso? – Perguntou Gilberto num tom gentil. Ele alisava o braço da amiga num toque gentil, oferecendo conforto.

Sarah sabia sobre o que ele perguntou, qual assunto. Mas ela não se sentia a vontade em conversar, ainda não era chegado o momento. Então com um movimento de cabeça ela negou.

- Tudo bem! Então me conte como foi o jantar. – Gilberto quis mudar o foco.

Sobre isso ela podia falar.

- No começo foi tenso, mas no final foi legal. – Disse com a voz ainda um pouco embargada em resultado do choro.

Gilberto a tirou do seu colo e se colocou de pé ficando de frente para Sarah.

- Eu sumo por um tempo, sem me colocar em situações de cachorrada para não atrapalhar a noite de vocês. Me contentando com o tédio e falta de grandes emoções para você me dizer só isso sobre o que aconteceu? Está de palhaçada com a minha cara? – Gilberto colocou as mãos cintura enquanto encarava Sarah.

Sarah não conseguiu segurar o riso para a reação exagerada do amigo.

- Você perguntou como foi o jantar, não me pediu detalhes.

- Claro que eu pedir detalhes, está nas entrelinhas. – Disse ele, sentando-se na beirada da cama e revirando os olhos. – Vamos conte tudo o que rolou.

Sarah se remexeu, procurando uma posição mais confortável na cama. Sentada de frente para Gilberto, ela começou a falar sobre tudo o que tinha acontecido. Sobre o começo tenso, sobre o filme e como a companhia dela a tinha feito bem. Sarah falou sobre o pesadelo, mas novamente não quis se aprofundar no assunto, Gilberto por sua vez não insistiu e fez questão em direcionar toda a atenção da conversa sobre Sarah e Juliette.

- E se tudo que você acreditasse, tudo que você achasse certo desmoronasse diante de você, apenas por um olhar, um segundo em que seus olhos se cruzaram. Quando sua mente se recusa a aceitar, quando estar hipnotizada é a única coisa que você quer, quando você consegue enfim abrir sua mente e entender que você realmente precisa disto, que ela se importa. O teu passado tenta te consumir tirar a sua paz, mas existe a certeza que queima em você só a espera de um sinal. Então você se rende e nada mais importa e daria tudo que possuísse de mais precioso, sem pensar. O que você faria?

- Ela te pegou, em? – Gilberto riu da amiga.

- Fazia tempo que não me sentia tão bem ao lado de alguém. No começo pensei que era apenas atração física, mas agora vejo que eu estava enganada. – Admitiu Sarah. - Mas mesmo assim não posso fazer isso com ela, nem comigo.

- Você não pode deixar que o que aconteceu domine a sua vida. Você veio para cá justamente para recomeçar, mesmo que a intenção inicial fosse não se envolver com uma outra mulher, mas aconteceu e você não pode fugir por medo. Juliette não é a Joey, assim como você também não é mais aquela mulher de um ano atrás. Não estou te incentivando a querer transformar seu lance com Juliette em algo sério, mas sim incentivando que comece a viver o agora. O que passou, passou. Você não pode se culpar e anular sua vida.

- É tão complicado. – Desabafou.

- Eu sei, amiga. – Disse Gilberto num tom condescendente. – Mas não impossível. Sei que você não se sente confortável em conversar comigo sobre, mas tem a opção de um profissional. Alguém para te ajudar a lidar com tudo isso.

As lágrimas caíram sem que Sarah pudesse evitar, Gilberto foi para perto dela a abraçando e como um bom amigo lhe oferecendo conforto.

Depois de um tempo Gilberto perguntou:

- Mais calma?

- Aham... – Murmurou Sarah.

- Certeza?

- Sim. – Sarah deu um longo suspiro. – Eu sinto muita falta dela, queria que estivesse aqui comigo. Eu não sei se vou conseguir seguir sem ela. Por mais que venha existir momentos bons que me façam acreditar que serei feliz novamente, sinto como se eu não merecesse e tudo volta com mais força. Mesmo mudando de pais, sinto que ainda continuou presa a ela. Não posso negar o quanto Juliette me faz bem, mas sinto que estou traindo Joy. Não é justo.

- Não é justo você se sentir assim por seguir sua vida. Você não estar traindo a ela, não leve as coisas desta forma. Assim você irá se autossabotar, não é justo depois de tudo o que passou. Sei o quanto você amava...

- A amo. - Sarah o interrompeu o corrigindo.

- Sim, ama. Mas isso não significa que você deve virar as costas para a sua vida. Que não tem o direito de ser feliz novamente, sozinha ou na companhia de outra pessoa. O que aconteceu com a Joey não foi culpa sua. Não se culpe por algo que não estava sobre o seu controle, não estava em suas mãos. Você tentou até onde pôde. Como você disse, a companhia de Juliette lhe fez bem. O que te impede de aproveitá-la um pouco mais? O amor que você sente por Joey vai sempre existir, mas ele não pode te impedir de seguir em frente. De se arriscar em uma nova história. Nem mesmo evitar que você ame outra pessoa novamente. Não devemos conduzir a vida por medo de que coisas ruins se repitam, você não deve esquecer o que aconteceu com Joey e você, mas viver presa a isso é errado.

- Eu estou tentando seguir, juro que estou. Mas é difícil. A culpa me sufoca, e esses pesadelos não ajudam em nada. – O desespero na Voz de Sarah deixou Gilberto em alerta.

Sarah queria muito poder seguir com a vida, esquecer de tudo o que passou e o que vem passando. Queria poder fazer como o amigo a aconselhava. Por mais que tivesse adorado passar a noite com Juliette, seus traumas passados a deixou apreensiva e com medo de dar continuidade ao que estava cultivando por Juliette. Ainda sentia um pesar por não ter insistindo que ela ficasse, mas toda essa confusão em sua cabeça estava a deixando desorientada.

Ela veio para o Brasil fugindo dos seus demônios, para esquecer suas dores. Tinha aceitado que o amor não era para ela. Que deveria se concentrar em se curar de suas feridas, mas ao se deparar com Juliette tudo se transformou em uma grande bola de neve. A atração que sentiu por ela, o desejo de mantê-la afastada, e por fim a entrega que tiveram compartilhando uma noite inesquecível.

Gilberto estava certo, ela sabia disso.

O que ela não sabia era como iria lidar com tudo isso.

- Você precisa se permitir. – Disse ele, por fim.

Ela pensou em Juliette, e no quanto desejava que ela estivesse ali. Queria experimentar novamente o calor do seu corpo, a sensação agradável que era tê-la em seus braços. Seu amigo estava mais do que certo, ela precisava disso, precisava se permitir. Assim como também precisava de ajuda em relação aos seus pesadelos e a forma como se sentia em relação a Joey. 

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