Fragmentos

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· Perspectiva de Sarah

Sarah ainda tentava digerir o que tinha acabado de acontecer enquanto cenas fragmentadas passavam por sua cabeça. Cenas da sua vida desde a infância até aquele exato momento se misturavam, indo e voltando e a confundindo. Ao mesmo tempo, um turbilhão de sentimentos lhe atingia. Sarah não sabia qual iria prevalecer. Amor e ódio estavam lado a lado, disputando quem se sobressairia.

Ela sentia ódio de Maaba por ter mentindo para ela por toda a sua vida. Ódio por ter interferido em seu relacionamento, e de certo modo ter sido a culpada pela morte precoce de Joey.

Mas ainda assim a amava, não conseguida deixar de ama-la do dia para noite. Afinal ela foi a única mãe que conheceu, como poderia não sentir amor pela aquela que lhe criou, que lhe deu amor, por mais que tenha sido de uma maneira torta.

Sarah encarou Juliette ao seu lado, a encontrou distraída olhando a paisagem do lado de fora do carro. Estavam quase chegando ao seu apartamento.

Ao desviar o seu olhar para a bolsa, Sarah ficou dividida em verificar o seu celular.

Quando estavam no elevador Maaba ligava para ela de forma insistente, então Sarah apenas desligou o aparelho.

- Acho que alguém está pegando o gosto em bater no rosto das pessoas. – Sarah disse, fazendo Juliette da um sobressalto.

Sarah estava tentando tornar o clima um pouco mais leve.

Ao perceber a face de Juliette corada, ela sentiu vontade de agarra-la ali mesmo e beija-la até que não existisse mais além delas.

- Eu... Eu sei que fiz errado, mas ela estava merecendo. – Juliette diz sem graça.

Sarah a puxa para mais perto de si.

- Quando você me beijou pela primeira vez e depois me deu um tapa em meu rosto, vi que não tinha mais volta. Você tinha acabado de foder com a minha vida me deixando perdidamente louca por você. - Sarah falou num tom baixo para que só elas pudessem escutar.

- Eu não beijei você, foi você que me agarrou. – Juliette fez um biquinho.

- Eu me lembro muito bem, meu amor. Foi você quem me agarrou na sacada. – Sarah arqueou a sobrancelha.

- Você está completamente enganada.

- Você sabe que não estou.

- Você queria me beijar primeiro, e isso que conta.

- Tudo bem. – Sarah sorriu. – Amo você.

- Também amo você.

- Você fica sexy quando estava brava, mas mais sexy ainda quando estava envergonhada. – Sarah sussurra em seu ouvido. – Eu amo cada fase sua, a meiga, a brava, a determinada. Eu poderia continuar com a lista, mas acho que precisamos descer.

O táxi parou em frente ao prédio de Juliette. Sarah olhou para ela com carinho e gratidão, além de tirá-la da escuridão, Juliette continuava modificando a sua vida para melhor. Se não fosse o seu apoio hoje, Sarah não saberia como teria acabado o confronto com sua mãe.

Assim que estavam no elevador, Juliette a encarou fazendo uma careta.

- Sinto muito por toda essa bagunça... por você descobrir dessa maneira sobre ela... isso foi tão...

- Ei, pare de se preocupar. Eu estou bem. – Sarah fez uma pausa quando Juliette a encarou com profundidade. – Quer dizer, eu vou ficar bem. Eu só preciso colocar a cabeça no lugar primeiro.

Juliette lhe deu um sorriso suave.

As portas do elevador se abriram.

Elas caminharam em silencio para dentro do apartamento de Juliette. Depois de se encaminharem para o quarto, Juliette foi até o seu closet abrindo espaço para Sarah colocar suas coisas, mesmo Sarah lhe dizendo que não era necessário.

Juliette a deixou sozinha enquanto foi para o banho, Sarah encarou para a sua bolsa onde seu celular se localizava desligado. Seus pensamentos voltaram para Maaba e tudo o que tinha descoberto sobre ela e seu passado.

As perguntas sobre o que a tinha motivado dominando a sua mente.

Sarah pensou se deveria ligar o aparelho e ligar para ela em busca de respostas. Pensou que talvez por ligação seria mais fácil de confronta-la em busca de respostas, mas logo descartou. Ela ainda não estava pronta para fazer isso. Não estava pronta para enfrentar sua mãe mais uma vez.

Minutos depois Juliette saiu do banho, Sarah estava sentada na beirada da sua cama. Juliette andou em sua direção, foi quando Sarah se deu conta do seu tornozelo. Com tudo o que tinha acontecido tinha se esquecido do atropelamento, do seu tornozelo machucado.

- Você precisar ir ao médico. – Disse a encarando.

Juliette sentou-se no seu colo, segurando-a pelo rosto. Sarah achou aquele toque mais do que bem-vindo, fechando os olhos para absolver ainda mais a sensação.

- Eu preciso mais de você. – Juliette sussurrou.

Sarah abriu os olhos a encarando.

- E eu muito mais de você... – Sua voz saiu rouca. – Mas agora preciso cuidar de você. Como ele está?

- Não está doendo, se é o que está perguntando. – Juliette sorriu.

- Sim, é o que eu quero saber. – Sarah deu um beijo em seu pescoço, e sorriu ao detectar que o toque tinha feito o corpo de Juliette se arrepiar.

- Ele está bem. – Ela ofega.

- Tem certeza?

- Não estou sentindo mais o incomodo, acredito que finalmente o medicamento tenha surtido efeito. O que é algo maravilhoso, pois já estava imaginando como iria suportar a noite em cima de saltos. A loucura por encontrar algo suspeito e ainda ter que lidar com uma festa e ser sociável com vários rostos seria ainda mais torturante se meu tornozelo não tivesse me dado uma folga – Juliette fez uma pequena pausa, sorrindo fraco para Sarah. – E você... está bem? Digo, com tudo o que acabou de descobrir, imagino que bem é algo forte a se dizer, mas quero saber se você está conseguindo se manter razoavelmente bem diante de tudo?

Juliette colocou uma das suas mãos no vale entre os seios de Sarah, o que a fez desviar o olhar e encarar a mão de Juliette repousada onde estava localizado o seu coração.

O coração, Sarah sentia como se um pedaço dele tivesse sido arrancado do seu peito. Ao mesmo tempo que o sentia pulsar de forma descompassada por Juliette. Os sentimentos confusos lhe dominavam.

Ela não sabia explicar como se sentia, ela nem mesmo sabia como estava se sentindo para ser sincera.

Descobrir que sua vida foi uma mentira, que tudo o que sabia sobre a própria mãe não passava de uma farsa. Que sua verdadeira mãe estava morta, assassinada por seu suposto namorado. Sarah se perguntou se ele seria o seu pai.

Não conseguia deixar de pensar no que tinha motivado Carolline a tomar a identidade de Maaba para si, fingir ser quem não era e viver em uma mentira era uma das muitas perguntas na cabeça de Sarah.

Sua suposta mãe tinha tramado contra ela, tinha lhe tirado sua namorada de forma tão trágica, por mais que não diretamente, mas sim de forma indireta. Sarah se perguntava o quer mais Carolline era capaz de fazer.

- Carolline. – Sarah resmungou alto sem se dar conta. 

Amor e ÓdioOnde histórias criam vida. Descubra agora