Eles chegaram tarde. Tarde ao ponto de o pai dela estar esperando. Mas ele não disse uma palavra e se levantou seguindo direto para o quarto.
Eles tinham se divertido e rido com a encenação. Aplaudiram e assistiram à proxima.
Elari se reprendeu ao jogar-se na cama, tinha perdido mais tempo e na manhã seguinte seria o teste, estava exausta, mas pegou uma bolsa e colocou uma roupa. Depois verificou as calças e blusa que tinha secretamente pego do guarda-roupas do pai. Então se deitou e dormiu. Não se importou em trocar as roupas. Estava cansada demais.
Então dormiu.Quando acordou sentia-se quebrada. Nunca tinha andado tanto. Kath chamara por seu nome diversas vezes, mas só levantou quando sentiu o toque gelado no braço. Uma cascata vermelha a rodeava e olhos azuis a encaravam. Sua mãe. Ela encolheu diante do toque, fazia muito tempo que a mãe não a tocava, ou a acordava como agora.
- Ande logo!
Ela se afastou rapidamente indo para a porta. Elari se sentou. Kath brigava com ela. Ela suspirou, tinha sido sua imaginação, era apenas Kath.
- Seu teste! É em meia hora!
Perder o teste era a menor de suas preocupações, como faria para conseguir água suficiente no deserto era a maior, se haveriam criaturas por lá. Talvez as serpentes do deserto não fossem meras lendas, ela precisaria de mais do que a adaga que roubaria de Edone naquela noite, se houvessem ladrões e assassinos se escondendo nas savanas, não queria encontrá-los. Rumar ao norte parecia pouco atraente sempre que pensava nessas coisas, a levando a fazer caretas e até se atrever a xingar ao imaginar a morte vinda com cada um dos perigos.
Preguiçosamente ela sentou e pegou a roupa que usaria para o teste que estava nas mãos da irmã. Kath estava bem ansiosa por aquele teste. Ela o faria em três anos e ver a irmã mais velha o fazer a dava esperanças. Dependendo do que ela fosse, Kath poderia sonhar mais alto ou baixo. Uma pena que ela não poderia sonhar alto, porque Elari estaria em um cavalo, atravessando terras áridas antes de poder ter algo misturado ao seu sangue. Assim ela o esperava.
Aquela roupa expunha muito do que as damas não costumavam mostrar, como ombros, pernas e parte das costas, era tradição usar aquilo, mas para alguém acostumada com o corpo coberto até a ponta dos pés e cotovelos, era como estar de roupas íntimas. Teria que andar assim pela cidade. Com olhos selvagens e cruéis a observando. Talvez gritasse e chorasse como fizera com Ed.
Um pouco de arrependimento a atingiu como uma brisa fria que incomoda do nada, mas não apaga a fogueira.Vestida, ela desceu e foi surpreendida com um carro. Seu pai e Kath já esperavam dentro, o cocheiro desceu para ajudá-la a subir, mas não tocou nele, não. Ele era frio. E ela percebeu o olhar dele sobre ela.
Apenas o galopar veloz dos cavalos conseguiu acalmá-la.
Provavelmente, Kath convencera o pai de deixar usarem o carro naquele dia devido ao atraso, para que não perdessem tempo. E o pai aceitara, previnindo como ela reagiria ao andar por Tesme naquelas roupas com os cidadãos a observando.Com quatro suspiros eles chegaram e ela teve que descer. Tinha um pequeno grupo de pessoas em frente à porta da anciã que a cortaria naquele dia. Mais uma garota estava ali, com as mesmas vestimentas que ela, rodeada por pessoas de olhos dourados e um rapaz com olhos azuis brilhantes, eles seguravam as mãos.
A anciã saiu, o que chamou a atenção de todos, ela estreitou o olhar para sua plateia e chamou.
- Durba Keola e Elari Arostoth. Entrem!
Ela se virou e entrou deixando a porta aberta. Ela viu Keola apertar a mão do rapaz novamente, aquilo a causou calafrios, e seguir para dentro com Elari atrás.
O ambiente era iluminado por velas com chamas fracas que estava espalhadas por todos os lados. A anciã tinha caminhado até o lado oposto do cômodo dividido por uma parede de bambu, com três entradas. Pelo meio era possível ver o outro lado, onde haviam quatro travesseiros sobre o chão, três de um lado e um do outro com uma depressão no chão de onde chamas saiam e crepitavam, chamas estranhamente brancas. Estreitando meus olhos para aquela magia, Elari deu um passo para frente. Ninguém falara dela. Por que?
A voz da anciã era áspera e gasta quando ela se dirigiu às duas.
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Os Eternos
FantasyO que fazer quando seu destino é se tornar aquilo que mais teme? A vida de Elari é regida pelo medo, medo dos seus iguais, dos vizinhos, dos irmãos e parentes e, temendo seu destino cruel de se tornar um deles, um monstro, ela se vê dividida entre d...