44

1.1K 156 17
                                    

Elari ainda não podia acreditar em si mesma.

Realmente estava a caminho da ala dos curandeiros para ver Jasti Marest, apenas a pessoa que a jovem menos gostava no momento, aquela que tirou sua última oportunidade de comunicação com a pessoa que ela mais amava por três meses e com esse pensamento a culpa parecia se tornar menor, porém não mais leve.
E era nessa oscilação entre um pouco de alívio e extrema culpa que ela seguia pelos corredores de pedra sem dar atenção a uma palavra sequer de sua empregada que recitava uma gigantesca lista de argumentos para que ela fosse estudar e deixar aquilo de lado.

Como ela poderia estudar se o livro não estava com ela ou na biblioteca?

Nesse instante ela parou.

O livro.

Ele não estava na biblioteca o que significava que estava em posse de mais uma visão indesejada. Não importava se era bom sentir o calor de outra pessoa, ou se ele era gentil, ele a deixava mais confusa que o conflito emocional causado por culpa e satisfação que sentia com o incidente anterior.

Ela inspirou, poderia começar a estudar outra coisa, quem sabe sobre a vegetação com incrível capacidade de cura dos verdes.

Ela inspirou, poderia começar a estudar outra coisa, quem sabe sobre a vegetação com incrível capacidade de cura dos verdes

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

- Absolutamente, não.

Até mesmo Gemma se encolheu com o tom seguido de um enorme discurso sobre responsabilidades que o tutor iniciou, aquele dedo ossudo apontado para o nariz de Elari.
A oficial sentiu pena da jovem que na realidade não era a culpada do sumisso do livro, Gemma sabia bem onde ele tinha ido parar e entendia porque a garota não tinha dito uma palavra sobre aquilo escolhendo insinuar que alguém havia pego.

A ruiva havia visto tudo, escondida em suas sombras e acompanhando Elari como sempre o fazia, ela tinha visto. Desde o encontro na biblioteca até o senhor evaporar nas próprias sombras.
Ela tinha entrado na escuridão quando Elari abriu a boca para falar que o livro não estava ali pela primeira vez, já sentindo a confusão nascer, e nela permaneceu, uma sabia escolha, Gemma já tinha recebido sermões daqueles muitas vezes, por Craz Ertowa, o mestre das armas, o macho tinha uma aparecia gentil e acolhedora quando chegavam, mas ao chegarem do outro lado da montanha, ele se transformava no treinador cruel e crítico, nada era bom o suficiente em momento algum e ficar de frente a ele quando começava os discursos era terrível, Derok não era muito diferente, o tutor real havia sido o mestre das armas antes de Ertowa e o pupilo havia absorvido tudo, até mesmo a forma de treinar. Gemma sentia pena de Elari estar sofrendo com a primeira geração de mestres assustadores.
Antes aquilo não era preciso, antes os negros não eram uma nação muito unida, antes o reino era repleto por diversas cores, até a guerra e todos serem expulsos e poucos restarem, Derok foi o primeiro treinador e ele soube que se não assumisse uma linha dura e crítica jamais venceriam.

Talvez ela pudesse ajudar, entrar naquele escritório silenciosamente e encoberta por sombras, pegar o livro e sair sem ser notada.

Gemma olhou uma última vez para Elari sendo reprimida, o olhar baixo, ela estava mordendo o lábio inferior, as mãos apertadas, ela estava se contendo para não explodir ali como o tinha feito com a jovem Marest, aquela cena havia sido levemente assustadora e muito marcante, agora Gemma não tinha tanta certeza de quem era Elari Varhalarom, se era a garota gentil e esforçada ou a vingativa e violenta, talvez ela fosse as duas, ou uma usasse a máscara da outra. De alguma forma a oficial ainda tinha certo apreço pela jovem e por isso ela saía da biblioteca e se dirigia ao escritório do Senhor Negro, com sua velocidade era bem rápido, mas as sombras lhe fugiam um pouco por isso ela reduziu o passo pouco antes para verificar o local, os gêmeos não estavam à porta, sinal de que o dono também não devia estar presente o que não fez Gemma se tornar menos cautelosa.

Com pés leves e mãos ágeis ela entrou por uma fresta, se tornando sombras por um segundo até estar inteiramente dentro, ela olhou ao redor, ainda estava claro e haviam poucas sombras onde se esconder ali dentro devido à enorme janela de vidro, apesar da densa camada de nuvens o sol estava intenso naquele dia, deveria nevar naquela noite.

Gemma vasculhou o ambiente com os olhos evitando tocar em qualquer coisa até encontrar o livro dourado e chamativo sobre a escrivaninha. A oficial se apressou e o pegou, era ele. Ela se virou e voltou para a porta não ousando olhar para trás, mais uma vez se tornou sombras e saiu do lugar como se fosse adoecer caso permanecesse por mais um segundo e quando estava do lado de fora suspirou de alívio.

- Parece que temos uma pequena ladra.

O sentimento pouco durou ao escutar aquelas palavras, pois quando ela abriu os olhos ali estava a grande ameaça com dois gigantescos gêmeos no seu flanco, os soldados prateados do príncipe negro.

- Levem-na para dentro.

Eles não a deram um segundo para respirar antes de cada um a segurar por um braço e a arrastar para o escritório novamente um espere preso na garganta enquanto o senhor entrava e fechava a porta.

Ela estava muito lascada.

O mundo de Oldren era um turbilhão de pensamentos e não pensamentos, ele nunca esteve tão confuso em toda a sua vida e agora se arrependida profundamente de ter permitido que Ur visse aquela mudança nele, agora a garota não o deixava em paz por ne...

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.


O mundo de Oldren era um turbilhão de pensamentos e não pensamentos, ele nunca esteve tão confuso em toda a sua vida e agora se arrependida profundamente de ter permitido que Ur visse aquela mudança nele, agora a garota não o deixava em paz por nenhum instante, fosse durante a penalidade por terem sumido por muito tempo, fosse durante as refeições ou durante o treino, ela tinha até mesmo conseguido o acompanhar durante as corridas, não importava o quanto ele tentasse se afastar ela sempre estava lá com um largo sorriso, não bastasse ter que enfrentar a si mesmo, tinha que lidar com uma perseguidora.

O problema não era Ur, Oldren já tinha percebido que não a odiava, o problema estava em nunca ter um tempo para si, para pensar sozinho sem que ela estivesse lá atrapalhando qualquer projeto de pensamento dele.

- Então, o que está rolando aqui?

Tharna voltou a falar com ele durante as refeições depois de várias e bem vindas silenciosas sopas.

- Do que está falando?

Ur tomou a voz na mesa e a baixinha abriu um sorriso travesso, Oldren já estava vendo o que viria por ali e encarou a própria sopa rala e marrom na tigela artesanal que eles próprios faziam no início do ano, sobre a mesa de madeira robusta e bruta, vinda das árvores que antes ocupavam o lugar do campo de treino, ele inspirou e expirou vendo a nuvem que se formava com o ato, o frio já estava invadindo as cabanas e estava começando a incomodar até mesmo ele, era a época alta de gelo e neve e mesmo que ele fosse resistente, ainda era um cidadão de Tesme, uma das terras mais quentes do reino, o frio não era algo com que estava acostumado.

- Vocês só andam grudados agora!

Ur abaixou o olhar, a pele ficando muito vermelha e mais uma vez ela estava com aquele sorrisinho. Oldren ignorou, tinha mais com que se preocupar agora.

- Sempre pensei que você gostasse da Elari.

Ele parou e olhou para Tharna. O que ela estava dizendo...

- Era meio que claro para todos nós como você é diferente com ela, mas agora com a Ur... tenho minhas dúvidas.

Oldren olhou para Ur e viu o que Tharna estava fazendo, a garota o olhava inquisitiva, com a pergunta estampada no rosto, quando tornou para Tharna ela tinha um pequeno sorriso nos lábios, aquela aranha de artimanhas estava querendo o manipular. Aquele era o jogo dela e se pensava que ele iria cair em sua teia, estava muito enganada.
Oldren se levantou e saiu dali, antes que mais acusações e perguntas fossem jogadas nele.

Aquilo estava o incomodando como um inseto que o persegue durante a noite, eram problemas demais desde que chegaram ali, desde antes daquilo.
Era realmente essa a imagem que tinham dele? De um menino apaixonado.

Esse não era ele.
Não era Oldren Tewak.
Ele iria mostrar a eles, todos eles, quem ele era.

Os EternosOnde histórias criam vida. Descubra agora