O que fazer quando seu destino é se tornar aquilo que mais teme?
A vida de Elari é regida pelo medo, medo dos seus iguais, dos vizinhos, dos irmãos e parentes e, temendo seu destino cruel de se tornar um deles, um monstro, ela se vê dividida entre d...
O vento parecia uma lâmina, o chão parecia que ia o esmagar, as árvores eram como brotos espinhosos do solo.
Nada daquilo poderia ter sido imaginável, a floresta tinha as margens dóceis, mas seu centro era cruel e perfurante, os gemidos que eram tentativas de disfarce de pequenos gritos de Urgath confirmavam isso. Oldren seria simplesmente muito mais rápido se estivesse sozinho, mas ele reduzia o passo para que a garota fosse capaz de o acompanhar, depois de tantas semanas com todas aquelas pessoas, Ur foi a que demonstrou realmente tentar o entender e aos poucos o conhecer, ela havia se habituado aos gestos e olhares dele sem que precisasse usar palavras, mas por vezes ela teimava em o escutar ou obedecer até que ele falasse. Todos os dias, ao menos uma vez, ela o forçava a falar e ele havia se pego fazendo isso sem se sentir incomodado ou realmente forçado, ela tinha se tornado parte da vida dele assim como Elari, mesmo que Elari estivesse na parte mais sombria. Ele também não se incomodava de acampar por algumas vezes quando ela arfava mesmo com o frio, Ur jamais diria estar cansada, ele sabia que sua resistência era muito baixa mesmo após meses de treino, o corpo dela tinha sido preparado para velocidade e força, mas ela sempre excedia mais do seu limite, em alguns anos ela teria resistência o suficiente para realmente lutar contra ele e Oldren estava ansioso por isso. Mais uma coisa que o fazia ansiar pelo futuro, mais alguém e ele não sabia como interpretar aquilo, como lidar ou evitar. Por vezes ficava observando Urgath enquanto ela dormia, tentando entender como ela havia conseguido aquilo, como ela devia ser mais esperta que aparentava e exibia. Ela mostrava lapsos de ideias brilhantes algumas vezes, como quando a água acabou e ela cavou um buraco na neve e montou uma pequena fogueira por cima. Fazia um dia que eles haviam partido na primeira expedição, a primeira missão, chegar ao topo da colina mais alta e ingrime das montanhas de Capital, onde o mestre estaria esperando, por não terem como ir usando a velocidade eles estariam atrasados em relação a ele, mas tinham o limite de três dias, se demorassem mais seriam deixados para trás.
Quando estavam se despedindo, Oldren viu o sorriso malicioso de Ginsa, a apreensão de Tharna e a promessa de Luste que a ajudaria, Rahir se juntou a eles e disse que juntos teriam mais calor. Os demais também se dividiram em duplas ou trios e no final apenas Ginsa iria sozinho.
Ele gostaria de ser mais rápido, mas o ritmo era agradável e as tentativas de Ur de tornar a caminhada mais divertida preenchiam o silêncio. Ele sabia que a floresta possuía seus perigos, naquela época do ano eram os lobos e as serpentes que estavam saindo de seus ninhos. Por isso ele se mantinha à frente enquanto escutava a garota falar, sempre averiguando a segurança do caminho. O segundo dia estava chegando e eles não podiam se atrasar, então estavam caminhando durante a noite, as estrelas eram pequenos pontos luminosos que estavam mais próximos que nunca, a floresta era cinza e preto e os pés e as respiração acelerada de Ur eram os únicos sons, uma sinfonia desorganizada. Sinfonia que ganhou novos acompanhamentos quando olhos dourados surgiram ao redor deles. Lobos.
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Elari não sabia bem como lidar com a proximidade da luta, não sabia como lidar com toda a história de Jasti, não sabia como lidar com os próprios pensamentos.
