O coração de Elari estava apertado demais dentro de seu tórax, era como se não houvesse espaço para que ele batesse desde o instante em que aquele homem se virou e as olhou. Ele era sombras e escuridão e medo, apesar da aparência desgastada e envelhecida como a de um senhor gorgan acolhedor ele tinha olhos negros e assustadores, não negros bonitos como os dos Hetar, eram como um nada apavorante. Quando ele falou ela não escutou estava ocupada demais com a consciência prestes a evaporar e ela entendeu como ele ainda era uma ameaça nos campos de batalha mesmo sem o poder total e temeu pelos que o enfrentaram quando ele ainda tinha a rainha ao seu lado. O senhor negro também estava lá antes e mesmo sua áurea sombria adornada com roupas pretas não se comparava ao único olhar daquele macho.
Tudo culpa da escândalo que tinha apertado seu braço com força demais por se assustar com o trovão. Elari também tinha medo de tempestades, mais que muitas coisas, mas ali não haviam olhos azuis por perto, não no Palácio e, por mais que não gostasse de admitir, a presença da Marest era reconfortante, afinal ela tinha suaves olhos castanhos bem humanos, talvez, odiou admitir, se estivesse só ali, ela teria gritado e se encolhido e não só agarrado alguma coisa.
Elas tinham escutado boa parte da discussão entre os dois monarcas do reino e Elari não estava gostando de como as coisas estavam indo, nem um pouco. Apesar de apostar que Jasti Marest Borafeu seria a escolhida no final, pela família, ainda era uma ameaça a tudo que tinha pedido a Steve e ele estava ali, escutando tudo silencioso e imóvel, como se bem mesmo se importasse.
O que realmente doeu foi ele não ter lhe dirigido a palavra, apenas o olhar.Outro trovão soou e Jasti agarrou Elari mais uma vez a fazendo gritar com o susto, a garota encarou a escândalo com fúria.
- Pare de me agarrar a cada trovão!
- Eu não consigo impedir, ou acha que eu queria fazer isso?
Mais um trovão e a escândalo quase pulou nos braços de Elari que desta vez a viu vindo e conseguiu se afastar por pouco, ela rolou os olhos e se virou indo para dentro do Palácio, não iria correr com chuva, ainda mais porque estava ficando mais escuro.
- Me espere!
Ela escutou vindo de trás de si, mas não conseguiria suportar aquela companhia por mais nem um minuto.
O problema veio justamente disso. Para fugir da irritante escandalosa ela teve que dobrar em um corredor que não conhecia. Sua façanha de fugitiva não acabou bem para Elari, estava perdida, durante uma tempestade em um corredor escuro, cada passo que ecoava e voltava a sussurrar nas paredes provocava calafrios em sua espinha, cada trovão que soava cada vez mais alto era como um aviso e uma risada maligna, os céus estavam rindo de sua burrice. Elari não sabia se xingava ou orava por Therla, esse Deus do céu e da noite parecia gostar de brincar com o coração de Elari.
Com um relâmpago ele a fez soltar um xingamento que voltou para ela, a iluminação repentina do corredor a fez ficar cega por um segundo e graças a isso quase escorregou em uma poça de água que havia se feito próxima à fenestra solitária naquela parede. Pensou em voltar, mas não sabia se o caminho de volta era longo demais.
Ao menos é conhecido, pensou, e o que conhecemos é mais fácil de lidar e enfrentar.
Por isso deu meia volta, mas congelou, um pouco mais ao longe um brilho dourado a encarava de volta. Correr? Não parecia uma boa idéia, muito menos ficar, até que...- Senhorita, o que faz aqui?
Aquela voz era conhecida.
- Não sabe que esta área do Palácio pertence aos conselheiros do Rei? Se for pega aqui pode por o seu e o meu pescoço na corda.
Marjeana se aproximava pisando forte. Elari não entendia como uma criada podia ser tão ousada quanto ela, talvez tivesse dado espaço demais por não ter a repreendido na primeira vez, bom, agora teria que lidar com aquele tom e humor nada amigáveis como se não já lhe bastasse a escândalo e a Conselheira, além da ausência de Steve.
Ela a alcançou e arfou.
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Os Eternos
FantasyO que fazer quando seu destino é se tornar aquilo que mais teme? A vida de Elari é regida pelo medo, medo dos seus iguais, dos vizinhos, dos irmãos e parentes e, temendo seu destino cruel de se tornar um deles, um monstro, ela se vê dividida entre d...